Wirecard: órgão regulador alemão foi alertado sobre fraudes na fintech
O Commerzbank, segundo maior banco comercial da Alemanha, alertou o Bafin, órgão regulador do sistema financeiro alemão, sobre as fraudes encontradas na fintech Wirecard. Segundo informações obtidas pelo Financial Times, o órgão foi alertado em janeiro de 2020, meses antes do colapso.
De acordo com o jornal, a avaliação apresentada pelo Commerzbank teve fundamento em conclusões da instituição em uma revisão interna durante o relacionamento do banco com a Wirecard.
A conclusão fez com que o Commerzbank procurasse romper as ligações com a fintech no segundo semestre de 2019, pouco antes de notificar o Bafin. Quando a Wirecard quebrou, em junho do ano passado, o Commerzbank perdeu 175 milhões de euros (cerca de R$ 1,14 bilhão na cotação atual).
A revelação da que foi uma das maiores fraudes contábeis da história europeia também trouxe implicações aos executivos do Commerzbank. O ex-presidente-executivo Martin Zielke, além do presidente-executivo do Deutsche Bank, Christian Sewing, irão testemunhar na próxima quinta-feira (14) para as investigações. As instituições teriam ajudado a financiar a Wirecard para a compra de duas empresas indianas, envolvidas nas fraudes ocorridas.
Neste ínterim, os executivos do Commerzbank fizeram uma reunião com representantes do Bafin e disseram que suspeitava de alguns padrões de transações internacionais. O Bafin concluiu que não havia “nenhuma razão regulatória imediata para agir”, e que já estava ciente das transações.
Fraude na Wirecard poderia ter sido mitigada
Segundo Fabio de Masi, congressista de extrema esquerda da Alemanha, disse ao Financial Times que a revisão interna do banco e o aviso ao Bafin “abalam a visão” de que o governo do país e os antigos parceiros da fintech, como o próprio Commerzbank, eram “impotentes em relação às intenções criminosas” da empresa.
Vale ressaltar que o Commerzbank abandonou sua relação comercial com a Wirecard em setembro de 2019. Entretanto, a relação creditícia permaneceu vigente, com uma linha de crédito rotativo de 1,75 bilhão de euros à Wirecard.
“Se o Commerzbank encerrou sua relação de banco correspondente com o Wirecard Bank em setembro de 2019, por que o credor também não rompeu sua relação de crédito?” questiona De Masi.
Segundo informa o jornal, o Commerzbank procurou cortar todas as relações com a fintech, mas não era possível em função de forças contratuais. A linha de crédito estava fechada até 2024.
Em comunicado, o Commerzbank afirmou que há uma separação do trabalho de analistas e de outras partes do banco, não comentando mais sobre a Wirecard. O Bafin, por sua vez, reconheceu que foi alertado pelo Commerzbank sobre as suspeitas de lavagem de dinheiro.