Mesmo em um momento de profunda crise econômica por causa do impacto da pandemia de coronavírus (Covid-19) nos mercados, as wealth management que administram os portfólios e os investimentos das famílias mais ricas do mundo conseguiram navegar bem nas águas turbulentas dos mercados globais.
Segundo a pesquisa do banco suíço UBS, Global Family Office Report 2020, entre março e maio as dificuldades aumentaram, mas as gestoras da riqueza das famílias mais ricas do mundo conseguiram implementar estratégias de investimentos bem-sucedidas.
O estudo analisou o trabalho de 121 family offices em todo o mundo, com um patrimônio líquido total de mais de US$ 142 bilhões (cerca de R$ 750 bilhões), com uma média de US$ 1,6 bilhão por cada empresa.
Cerca de 56% das famílias continuam com alocações estratégicas de ativos, consideradas fundamentais para preservar suas riquezas. Mais de três quartos dos profissionais que participaram da pesquisa (cerca de 76%) disseram que, de janeiro a maio, o desempenho de suas carteiras estava alinhado ou acima dos respectivos objetivos (benchmark target).
No primeiro trimestre de 2020, o drawdown máximo teve uma média de 13%, graças a diversificação nas carteiras individuais. Mais da metade dos escritórios de gestão de patrimônio das famílias mais ricas do mundo analisados conseguiu reequilibrar as carteiras nos meses de março, abril e maio para manter uma alocação de longo prazo.
O que é mais interessante da análise é que nos primeiros meses de 2020 as wealth management pareceram cautelosamente otimistas: 69% dos escritórios não tinham planos de alterar a distribuição dos ativos em comparação a 2019. Enquanto o restante estava estudando investir em mercados de ações de países desenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil.
Segundo a pesquisa da UBS, ainda é cedo para alterar as alocações estratégicas de recursos. Entretanto, os escritórios estão pensando em como obter retornos mais altos nos próximos anos.
A ideia é investir menos nos mercados desenvolvidos com títulos de renda fixa, que são considerados como oportunidades perdidas. Aproximadamente 45% dos entrevistados no estudo desejam aumentar as alocações no setor imobiliário. Outros 44% pretendem aumentar sua exposição nos mercados acionários de países desenvolvidos. E 38% estão estudando as Bolsas de Valores de países emergentes.
Segundo a pesquisa, 77% das famílias mais ricas do mundo consideram o private equity um setor privilegiado, e por isso o escolhe como opção principal de investimento. E também por essa razão, 69% das wealth management o consideram um dos principais geradores de retornos.
Um terço desses escritórios escolhe investir apenas em fundos, enquanto 19% optam apenas por investimentos diretos, e 26% escolhem uma fórmula mista, investindo seja através de fundos que diretamente.
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Além disso, 73% dos que investem acham que os investimentos em empresas privadas são mais frutíferos, com retornos mais altos, do que investimentos públicos. Por isso, pouco menos da metade dos entrevistados (48%) escolhe investir em private equity para acessar uma ampla gama de oportunidades em um momento em que as empresas de rápido crescimento permanecem cada vez mais privadas ou aumentam o crescimento de seu capital fora dos mercados públicos.
Os setores preferenciais de private equity são:
- tecnologia da informação (77%)
- assistência médica (60%)
- imóveis (59%)
- consumer discretionary (43%)
- serviços de comunicação (40%)
Segundo as wealth management, os investimentos diretos oferecem maior controle, com 35% dos entrevistados achando que é uma vantagem (contra 27% registrando antes da pandemia de coronavírus).
As famílias mais ricas do mundo fazem investimentos sustentáveis?
Atualmente, 73% dos escritórios que administram os patrimônios das famílias mais ricas do mundo optam por alocar uma parte dos ativos para investimentos relacionados à sustentabilidade.
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Entretanto, de acordo com o relatório Ubs, a tendência aumentará nos próximos anos: 39% dos escritórios familiares pretendem investir a maior parte de seu portfólio de maneira sustentável em até cinco anos.
As estratégias baseadas na exclusão têm os maiores percentuais nas carteiras das wealth management, com um número que chega a 30%. Entretanto, a integração com o chamado ESG (Ambiente, Social, Governança, na tradução da sigla em inglês) está ganhando cada vez mais força.
Nos próximos cinco anos os escritórios de gestão estimam passar de uma alocação atual de 9% para uma alocação de 19% do total dos ativos em segmentos que respeitem critérios ESG.
Como vai investir a próxima geração
A análise da Ubs também faz algumas previsões sobre a próxima geração de investidores. Os herdeiros das famílias mais ricas do mundo que agora têm entre 20 e 30 anos, e que terão entre 30 e 40 quando assumirão o controle de seus impérios.
É verdade que, de acordo com a análise dos entrevistados, as gerações futuras de investidores estão mais interessadas em financiar atividades filantrópicas e de sustentabilidade.
Entretanto, 54% dos escritórios entrevistados disseram que os futuros investidores estão interessados em investimentos tradicionais tanto quanto seus pais. E a porcentagem sobe para 71% se considerarmos apenas a Ásia e os Estados Unidos, regiões onde está a maior concentração das famílias mais ricas do mundo.