Em sua segunda recuperação judicial, a Oi (OIBR3) está em um esforço contínuo nos últimos oito anos para quitar as dívidas e resolver as negociações mal sucedidas feitas pela companhia.
Com um intervalo de meses entre o primeiro e o segundo processos de recuperação judicial da Oi, a companhia de telecomunicações precisou abrir mão de vários dos seus ativos, como a Oi Móvel e sua unidade de infraestrutura, para sair do endividamento.
“Podemos dizer que o patamar de endividamento atual da Oi está diretamente relacionado ainda às causas da RJ de 2016: uma empresa enorme de telefonia fixa, com obrigações regulatórias de investimentos vultosos, em um momento em que o mercado migrava para a telefonia móvel,” afirma Leandro Botelho, gestor CGA e sócio da Ipê Avaliações.
Em sua primeira RJ iniciada em 2016, a OIBR3 planejou a venda de ativos considerados “non core”, aqueles que não são centrais ou fundamentais para a base de negócios da empresa.
Foram eles a Oi Móvel, que atuava em todos estados do país, as unidade de torres, data centers e unidade de infraestrutura.
Segundo Botelho, apesar de ter aberto mão destes ativos em seu portfólio, a Oi enfrentou uma dificuldade na venda dos mesmos devido a atrasos da anuência dos órgãos reguladores para as vendas das Unidades Produtivas Isoladas (UPI) Ativos Móveis e InfraCo, desistência da Sky da compra da base de clientes de TV por assinatura e disputa arbitral com os compradores da UPI ativos móveis.
Unido a isso, o contexto de uma situação econômica adversa, como a pandemia de Covid-19 e a guerra da Ucrânia, somados à demora de aprovação da Anatel para migrar do formato de concessão para de autorização foram os principais motivos do retorno à situação de recuperação judicial atual.
O que vai sobrar da Oi após a 2ª recuperação judicial?
Neste mês, o plano de recuperação judicial da Oi finalmente foi aprovado pela Assembleia Geral de Credores (AGC). Agora, a companhia dá andamento ao processo, com os passos previstos no documento.
“Ao fim da recuperação judicial, a Oi se tornará uma empresa muito mais enxuta, focada em fibra ótica e serviços digitais”, afirma Botelho.
O analista explica que, ao término desta nova recuperação judicial, a Oi deverá alienar uma grande parte de seus ativos e operações existentes por meio da venda das seguintes UPIs:
- UPI V.tal (uma empresa de rede neutra derivada da infraestrutura de fibra ótica);
- UPI ClientCo (operações de varejo de fibra com perímetro ainda a ser definido);
- UPI Imóveis (conjunto de imóveis a serem vendidos);
- UPI Torres Selecionadas (conjunto de torres de telefonia).
Atualmente, o portfólio de ativos da Oi é constituído por:
- Legado: serviços da infraestrutura de cobre;
- Oi Fibra: serviços de banda larga, telefonia fixa, IPTV, OTT para clientes empresariais e varejo utilizando a tecnologia Fiber To The Home (FTTH);
- Oi Soluções: serviços B2B como telefonia fixa, dados e banda larga e serviços de TI para clientes corporativos que utilizam a estrutura de fibra;
- Subsidiárias e DTH: Tahto, que presta serviços de centrais de atendimento ao cliente e telemarketing; Serede (serviços de instalação, manutenção, operação e construção de redes) e DTH (televisão por assinatura).
“Uma parte significativa desses ativos será segregada nas UPIs para venda. Ao final, restarão as operações da Oi Soluções e outras receitas menores provenientes de subsidiárias, como a Tahto. As subsidiárias Serede deverão ser vendidas e a DTH será descontinuada”, explica o especialista.
Fibra ótica ainda pode ajudar a OIBR3?
Desde que a Oi vendeu seus ativos de telefonia móvel, o último recurso mais otimista para a recuperação da companhia se tornou a fibra ótica. Esse ramo ainda tem potencial de ajudar a Oi?
Segundo Botelho, apesar dos investimentos da companhia no segmento de fibra ótica na Oi, deve-se levar em consideração que este mercado tem se tornado cada vez mais competitivo.
“Os concorrentes que estão em melhor situação financeira levam vantagem. Portanto, o potencial da fibra ótica de ajudar a Oi se torna cada vez mais limitado”, aponta o gestor.
Apesar disso, do ponto de vista dos credores da Oi, assim como dos demais stakeholders, Botelho afirma que a recuperação judicial é “ainda é mais vantajosa do que um encerramento das atividades da empresa”.
Nesta segunda-feira (29), as ações OIBR3 abriram as negociações em queda de 1,47%, cotadas a R$ 0,67.
No ano, a Oi acumula uma alta de 6,35%.