Uma das maiores novidades do mercado de capitais brasileiro em 2021, que promete alavancar o financiamento do agronegócio no Brasil, são os Fundos de Investimentos das Cadeias Agroindustriais (Fiagro). O movimento dos agentes do mercado tem aquecido nas últimas semanas em direção à classe de investimento.
As ofertas em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já somam quase R$ 2 bilhões e devem vir ao mercado nos próximos meses para testar a adesão dos investidores ao Fiagro.
O projeto mais recente foi arquivado no sistema da CVM na última quarta-feira (18), e diz respeito às cadeias produtivas agroindustriais propostas pela Valora. Serão, a princípio, 2,5 milhões de cotas, totalizando R$ 250 milhões na oferta.
Os recursos líquidos da oferta serão aplicados com o obejetivo auferir rendimentos por meio do investimento em ativos-alvo e, de maneira remanescente, em ativos de liquidez, com uma gestão ativa.
A Santa Fé, por sua vez, procura fazer uma emissão de até R$ 500 milhões, com o intuito de realizar investimentos em terras agrícolas. Essa é a mais antiga das ofertas em análise, tendo sido enviada à autarquia no dia 19 de julho.
Também está no radar da CVM uma oferta de R$ 350 milhões da Riza Asset Management, uma de R$ 350 milhões da FG/Agro, uma operação de R$ 300 milhões da XP e uma da Kinea, que ainda não tem um valor estimado.
Segundo Rodrigo Amato, CEO da Laqus (antiga Mark 2 Market), o movimento dos investidores instituicionais frente à classe de ativo foi acelerado nas últimas semanas após a CVM autorizar a constituição de Fiagros com as mesmas normas de fundos imobiliários (FIIs) e FIDCs.
“O mercado foi pego de surpresa, pois não esperava que isso sairia nessa velocidade, então os investidores estão correndo atrás para capturar esse movimento. Por isso que ainda não temos nenhum Fiagro funcionando”, disse Amato ao Suno Notícias. Ele prevê que os primeiros fundos devam estar operando no mês que vem.
A Laqus, que é a única concorrente da B3 (B3SA3) enquanto depositária de CRAs, está posicionada para surfar o bom momento dessa chegada do agronegócio ao mercado. A empresa diz que está recebendo o contato de gestores e escritórios de advocacia para abrirem os trabalhos neste sentido.
“A procura dos investidores é por maior transparência na abertura de Fiagros e acesso a informações necessárias para que possa ser feita uma gestão ativa”, diz o executivo.
Segundo ele, a tendência daqui para frente é que a base de investidores de CRAs seja mais diversificada, uma vez que até hoje ela é concentrada em pessoas físicas, por conta do benefício fiscal.
“Isso também vem um momento em que o agronegócio precisa de liquidez, em meio a safras com o preço das commodities ainda em alta.”
Fiagro vem para suprir lacuna do agronegócio
Composto por ativos ligados ao setor agro, o Fiagro permite a criação de estruturas que podem contemplar recebíveis, títulos de securitização, cotas de fundos e participação em sociedades com atividades rurais.
A legislação atual diz que, através do Fiagro, as gestoras podem investir em “uma ampla variedade de ativos, como direitos creditórios, imóveis, valores mobiliários, ações ou cotas de sociedades, sempre no contexto das atividades integrantes da cadeia produtiva agroindustrial”.
De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), “isso dá ao produto mais versatilidade, incluindo a possibilidade de investidores estrangeiros aportarem recursos em imóveis rurais no país”.
Segundo a Confederação Nacional de Agricultura (CNA), o agronegócio foi responsável por 26,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado. O Fiagro surfará no setor econômico que movimentou quase R$ 2 trilhões em 2020.
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