O que se sabe até agora sobre a “Ômicron”, nova variante da Covid-19?
A nova variante da Covid-19, batizada de “Omicron” pela OMS (Organização Mundial da Saúde), preocupa os especialistas e provoca apreensão e quedas nas bolsas de valores mundiais. O que os cientistas sabem até agora: a variante possui uma série de mutações que a torna mais transmissível, justamente em contexto de recorde de casos diários na Europa.
Por esse motivo, já nesta sexta (26) a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nota técnica recomendando que o governo brasileiro adote medidas de restrições para voos e viajantes vindos de seis países africanos, onde a variante teria surgido.
Entre os países listados pela Anvisa, estão Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue, além da África do Sul. A efetivação das medidas depende de portaria interministerial. Mas a variante já foi detectada na Bélgica e em Hong Kong
Em uma entrevista coletiva a jornalistas, o diretor do Centro para Resposta Epidêmica e Inovação na África do Sul, Tulio de Oliveira, disse que foram localizadas 50 mutações no total na nova variante, sendo mais de 30 na proteína spike, a responsável pela entrada do vírus nas células e alvo da maioria das vacinas contra a covid-19.
Com esse número, as alterações que a tornam mais transmissíveis são duas vezes maiores do que a da variante Delta, a última que causou temor e gerou ondas de contaminação pelo mundo.
Oliveira, que é brasileiro, disse que a variante carrega uma “constelação incomum de mutações” e é “muito diferente” de outros tipos que já circularam.
“Esta variante nos surpreendeu, ela deu um grande salto na evolução [e traz] muitas mais mutações do que esperávamos”, disse ele.
Os cientistas sul-africanos detectaram um pequeno número da variante — chamada de B.1.1.529 — ainda na terça (23), em amostras que eram referentes aos dias de 14 a 16 de novembro.
Um dia depois, os especialistas sequenciaram mais genomas, informaram ao governo que estavam preocupados e pediram à Organização Mundial da Saúde (OMS) para reunir seu grupo de trabalho técnico sobre a evolução do vírus para esta sexta (26).
A África do Sul identificou, até então, cerca de 100 casos da variante, principalmente em sua província mais populosa, Gauteng.
Apesar de não se ter certeza de onde a variante surgiu, há uma especulação.
Variante da Covid-19 pode ter vindo do HIV
Um cientista do UCL Genetics Institute, de Londres, afirmou que muito provavelmente a variante africana evoluiu durante uma infecção crônica de uma pessoa imunocomprometida, possivelmente em um paciente com HIV/AIDS não tratado.
A África do Sul tem 8,2 milhões de habitantes infectados com HIV, sendo o país com o maior número de casos do mundo.
A variante beta, uma mutação identificada no ano passado na África do Sul, também pode ter vindo de uma pessoa infectada pelo HIV.
A Conselheira Médica Chefe da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido, Susan Hopkins, disse à rádio BBC que algumas mutações não haviam sido vistas antes, por isso não se sabia como elas interagiriam com as outras, tornando-se mais complexas.
Ou seja, seria necessário uma análise mais criteriosa para descobrir se, de fato, essa variante é muito mais nociva do que as demais.
Nenhum sintoma incomum foi relatado após a infecção com a variante B.1.1.529 e, como com outras variantes, alguns indivíduos são assintomáticos, disse o National Institute for Communicable Diseases (NICD) da África do Sul.
Bélgica detecta 1º caso de nova variante do coronavírus na Europa
A Bélgica detectou, nesta sexta-feira (26), o primeiro caso confirmado na Europa da nova variante do coronavírus e, ao mesmo tempo, anunciou medidas restritivas destinadas a conter uma quarta onda de infecções que se espalha rapidamente.
O ministro da Saúde da Bélgica, Frank Vandenbroucke, disse, em entrevista coletiva, que um caso da variante B.1.1.529 foi encontrado em uma pessoa não vacinada, que desenvolveu sintomas e testou positivo em 22 de novembro.
“É uma variante suspeita. Não sabemos se é uma variante muito perigosa”, afirmou.
A nova variante do coronavírus, detectada pela primeira vez na África do Sul, causou alarde global. A União Europeia (UE) e o Reino Unido estão endurecendo o controle sobre as fronteiras, enquanto pesquisadores buscam descobrir se a mutação é resistente à vacina.
O laboratório nacional de referência da Bélgica disse que a pessoa infectada era uma jovem adulta, que desenvolveu sintomas 11 dias após retornar de uma viagem ao Egito pela Turquia. Ela tinha sintomas semelhantes aos da gripe, mas nenhum sinal de doença grave até o momento.
Nenhum dos membros de sua casa desenvolveu sintomas, mas estão sendo testados.
A nova variante surge em um momento em que a Bélgica e muitos outros países europeus lutam contra um aumento nas infecções por coronavírus.
O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, anunciou que as casas noturnas serão fechadas, e bares e restaurantes deverão encerrar às 23h por três semanas a partir deste sábado, e ter no máximo seis pessoas por mesa.
A pressão sobre o serviço de saúde está aumentando, disse De Croo em entrevista, acrescentando: “Se não tivéssemos uma taxa de vacinação tão alta hoje, estaríamos em uma situação absolutamente drástica”.
Segundo as novas regras, festas e reuniões privadas também estão proibidas, a menos que sejam para casamentos ou funerais, e os belgas terão que fazer compras sozinhos.
Os ministros da Saúde do país se reunirão amanhã para discutir a aceleração da distribuição de doses de reforço da vacina.
O que diz a OMS
A agência da Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda decidirá se deve ser designada uma variante de interesse ou variante de preocupação, dada a necessidade de análise.
O último rótulo seria aplicado se houver evidência de que é mais contagiosa e que as vacinas não funcionam bem contra ela, e seria dado um nome grego.
A OMS identificou até agora quatro variantes “preocupantes”, sendo elas Alfa, Beta, Gama e Delta.
Além disso, duas variantes de interesse são a Lambda, identificada no Peru em dezembro de 2020, e Mu, na Colômbia em janeiro.
“Como os cientistas descrevem, esta é a variante mais significativa que encontraram até hoje”, disse o secretário dos Transportes britânico, Grant Shapps, ao canal Sky News.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) realiza hoje uma reunião em Genebra. Especialistas debaterão o risco que a variante apresenta e se ela deveria ser designada como de interesse ou preocupante, disse o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier.
Quase 100 sequências da variante já foram relatadas, e uma análise inicial mostra que ela tem “um número grande de mutações” que exigem mais estudo, acrescentou Lindmeier.
Um epidemiologista afirmou que já pode ser tarde demais para endurecer as restrições de viagem.
“Acho que temos que admitir que muito provavelmente esse vírus já está em outros lugares. Então, se fecharmos a porta agora, provavelmente será tarde demais”, disse Ben Cowling, da Universidade de Hong Kong.
A África do Sul conversará com autoridades britânicas para tentar convencê-las a reconsiderar a proibição, disse o Ministério das Relações Exteriores em Pretória.
A variante, batizada de B.1.1.529, também foi encontrada em Botsuana, alé, da Bélgica e Hong Kong, de acordo com a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido.
E a vacina?
Um porta-voz da BioNTech, parceira da Pfizer (PFIZ34) no desenvolvimento da vacina, afirmou que estão testando a eficácia do imunizante contra a nova variante e dentro de duas semanas terão uma resposta.
Porém, a variante traz uma preocupação em particular quando o assunto é a imunização, em razão do número de alterações.
Como as vacinas foram desenvolvidas mirando o ‘vírus inicial’, originado em Wuhan, essa disparidade pode tornar as coisas difíceis e reduzir as taxas de imunização.
Por outro lado, é importante destacar que a África do Sul tem só 24% da população totalmente vacinada, ou seja, pode ser que em países com índices mais altos a variante da Covid-19 não tenha tanta força.
(Com Agência Brasil)