A depender da sua idade, você vai se recordar. Não havia paz na Faria Lima. Cabelos foram arrancados e olhos se dirigiram ao céu. Mais importante, talvez, tenha sido a correria. Investidores atônitos apressaram-se para amontoar o book de ofertas da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) com ordens de venda. O resultado: o primeiro circuit breaker em quase uma década. O Joesley Day completou quatro anos.
17 de maio de 2017 teria sido mais um dia na vida do mercado financeiro do País, se um escândalo de proporção nacional não tivesse tomado conta do noticiário. No final da tarde daquele fatídico dia, vazou uma conversa entre o ex-presidente da República, Michel Temer, e o então presidente da JBS (JBSS3), Joesley Batista. Não à toa: Joesley Day.
O áudio reproduzia o sinal verde do emedebista para a compra de silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que estava em processo de delação premiada. Menos de um ano depois de Dilma Rousseff, o mercado se viu novamente frente a uma ameaça de impeachment.
Mais, a gravação afogava qualquer chance da máquina pública aprovar um texto de reforma tributária e/ou administrativa, medida que o mercado cobra até o presente momento.
O fruto foi colhido no pregão seguinte, em 18 de maio de 2017. Há exatos quatros anos, o índice de referência da Bolsa brasileira entrava em queda livre.
“O caso do Joesley Day foi uma quebra de confiança”, contou Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. “Todo mundo ficou estarrecido”.
O Ibovespa perdeu 8,8%, a maior baixa diária desde 2008, em meio à crise do subprime, que assolou a economia mundial. O dólar também não ficou parado, mas subiu, e muito. A divisa americana disparou mais de 8%, para R$ 3,38.
“Vi o desespero de quem estava muito posicionado, não somente na JBS em si, mas na bolsa de valores e perdeu muito dinheiro”, rememora Victor Bueno, analista da Top Gain. “Óbvio, tiveram muitas pessoas que ganharam dinheiro no dia e nos subsequentes.”
“Muita gente entrou vendida, muita gente entrou comprada. Enfim, foram dias. (…) Dias de muita volatilidade, de muitas indefinições dentro do mercado brasileiro.”
Quatro anos depois do Joesley Day
Quatro anos após o Joesley Day, a JBS pode dizer que deixou o dia no passado, pelo menos é o que dizem as ações. Os papéis ordinários do frigorífico valiam R$ 8,06, em 18 de maio de 2017. Desde então, um disparada levou-os a R$ 29,60, conforme dados de fechamento do pregão desta terça-feira. Quem comprou garantiu uma valorização de aproximadamente 267,25%.
Já aqueles que decidiram apostar no principal índice acionário da B3 também não se saíram mal. O Ibovespa acumulou ganhos de 99,65% no mesmo intervalo.
Crise vai, crise vem. Desde o Joesley Day, o mercado brasileiro passou por outras poucas e boas, incluindo greve dos caminhoneiros, a morte do presidenciável Eduardo Campos e a pandemia de covid-19. O que o investidor pode tirar é: vem mais por aí.