Após subir mais de 200%, rali das ações do Nubank (ROXO34) pode continuar?
Depois de ter entrado na Bolsa de Valores de Nova York, a NYSE, no fim de 2021, o Nubank (ROXO34) recebeu duras críticas do mercado em função do seu patamar de preço – que o colocava com um valuation substancialmente acima de bancões brasileiros que lucram aos bilhões, ao passo que a fintech ainda dava prejuízo e via sua operação começar a decolar.
Apesar desse começo tortuoso e sob as críticas de ‘ação cara’, o Nubank viu sua operação crescer e chegou ao primeiro US$ 1 bilhão de lucro no acumulado de 2023. Nesse cenário, as ações multiplicaram, com altas somadas trimestre após trimestre, embaladas por resultados acima do que o sell side projetava.
Os papéis então retomaram o preço do IPO. Em uma janela de março de 2023 a março de 2024, a alta registrada foi de mais de 200%. No momento atual, o preço de US$ 11,60 por ação representa praticamente o dobro do que era há 12 meses atrás.
Nesse cenário, o mercado ainda discute a possibilidade de o rali da fintech continuar e seu valuation superar a de gigantes da bolsa brasileira.
Atualmente o valor de mercado do Nubank é de US$ 55,5 bilhões, ou R$ 283 bilhões no câmbio atual – o que o coloca a uma distância de menos de R$ 20 bilhões do valuation do Itaú (ITUB4) e à frente de gigantes como Banco do Brasil (BBDC4), Bradesco (BBDC4), Ambev (ABEV3) e Weg (WEGE3).
Para João Bertelli, planejador CFP e sócio da A7 Capital, existem condições de a ação continuar subindo.
“O Nubank é um banco digital que cresce a cada trimestre, tanto em receita como em número de clientes, e acaba de atingir um marco importante: 100 milhões de clientes, sendo o primeiro banco digital fora da Ásia a atingir essa marca”, comenta.
“Nos últimos resultados reportados, é perceptível que o banco esteja conseguindo transformar esse aumento de clientes em aumento de receita e lucratividade, o que tem levado o mercado a se animar com a cotação da ação, projetando que essa boa tendência de crescimento se mantenha nos próximos anos”, prossegue.
Segundo o especialista, o principal ponto que colabora para isso é o fato de que o Nubank tem conseguindo rentabilizar sua base de clientes, que já é maior do que a do Banco do Brasil, por exemplo.
O feito é notável pelos números divulgados, com a receita média por usuário ativo (ARPAC, na sigla em inglês) ultrapassando os US$ 11 nos últimos meses, enquanto que o custo médio por cliente (chamado de ‘custo de servir’) pelo banco segue em US$ 0,90, uma pequena elevação ante US$ 0,80 em vários trimestre anteriores.
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Mercado segue otimista com resultados recentes do Nubank
Os resultados reportados pelo Nubank provocaram uma alta imediata de mais de 6% nos papéis na NYSE, apesar de algumas linhas do bottom line terem vindo abaixo das expectativas.
O Itaú BBA, que tem recomendação de compra para as ações do Nubank, com preço-alvo de US$ 13 para os papéis listados na NYSE, viu com bons olhos o resultado divulgado.
“O lucro líquido do Nubank no 1T24 aumentou 5% no trimestre, para US$ 378 milhões (com 23% de ROE), o que é, teoricamente, uma falha em comparação com os nossos valores e os de consenso em torno de US$ 400 milhões. No entanto, um olhar mais atento revela tendências operacionais subjacentes muito fortes, com a falha atribuída inteiramente a uma alta concentração de remuneração baseada em ações ou a um valor acima do esperado taxa de imposto de renda”, explica a casa.
“O desempenho do negócio em si foi sólido, correspondendo às expectativas otimistas. O crescimento dos empréstimos acelerou para 11% em termos trimestrais para a carteira total de empréstimos e 18% em termos trimestrais para os juros em grande parte, à medida que os produtos de crédito ao consumo continuaram a ganhar força”, acrescenta.
Além disso, o BBA chama atenção para o crescimento de 20% – tido como “forte” – da receita líquida de juros (NII na sigla em inglês) ante o trimestre anterior.
XP destaca ‘virada de chave’ no banco
Em seu parecer mais recente sobre o banco, especialistas da XP seguiram cautelosos, com recomendação neutra, apesar de destacarem que ‘não há mais dúvidas sobre a tese de crescimento e monetização que os executivos vêm defendendo nos últimos anos’.
“Além disso, vemos a força da marca que foi construída como um ativo que deverá dar frutos durante muito tempo. Isto nos leva a estar entusiasmados com o que o banco pode construir no futuro, especialmente com a sua entrada em outras linhas de negócio”, diz a casa.
“No entanto, à medida que o banco cresce, vai se tornar mais difícil manter taxas de crescimento tão elevadas. E, eventualmente, o Nu poderá ser avaliado como uma empresa de valor (como a maioria dos outros bancos) em vez de uma empresa de elevado crescimento (growth stock), o que poderá provocar uma desvalorização das suas ações”, completa.
Segundo os especialistas, é “difícil falar em múltiplos” de uma empresa que cresce no ritmo que o Nubank entregou nos últimos anos.
A impressão é de que os múltiplos do Nubank parecem esticados, mas isso está atrelado ao ritmo de crescimento acelerado do banco.
“Importante mencionar também que o valuation que o mercado aceita pagar em empresas de crescimento é muito sensível ao nível de taxa de juros no mundo. À época do IPO (2021), o mercado estava pagando múltiplos maiores por empresas de crescimento”, explica a XP.
“Em 2022, puxado por um aperto monetário nos Estados Unidos, os juros começaram a subir em todo o mundo, levando a quedas nas cotações de empresa de crescimento. Com a possibilidade de os juros voltarem a cair nos EUA nos próximos meses, o mercado pode voltar a pagar maiores múltiplos por empresas como o Nubank“, completa.