‘Novo rumo’ na Petrobras (PETR4) pode significar menos dividendos, observa Tiago Reis
Indicada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), Magda Chambriard teve seu nome aprovado pelo comitê de elegibilidade da Petrobras (PETR4) nesta quarta (22) para assumir como presidente da estatal. Seu único pronunciamento desde a indicação foi uma publicação em seu LinkedIn em que ela reafirma “seu compromisso com o crescimento contínuo da nossa indústria!”.
Tiago Reis, fundador e chairman da Suno, comenta que ainda é difícil interpretar exatamente o que a sinalização significa. Contudo se ela se traduzir em uma tendência de investimentos fora do core business da Petrobras, pode ocasionar um mau caminho para a estatal.
“Eu não sei se ela quer dizer crescimento de exploração de petróleo ou crescimento de outras indústrias, das quais algumas me preocupam, como refino. As últimas refinarias que a Petrobras construiu custaram algumas dezenas de bilhões de dólares a mais, não foram entregues no prazo e não trazem tanto benefício para o consumidor. Offshore então nem se fala, não vejo o que a Petrobras adicionaria para esse tipo de negócio”, explica.
Reis comenta que a Petrobras tem um “histórico ruim” no segmento de refinarias com obras que custaram vários bilhões de dólares a mais do que o previsto no orçamento e foram entregues depois do prazo – além de casos de corrupção.
“A consequência de fazer maus investimentos é uma queima de caixa, que pode levar ao endividamento. A última vez que a Petrobras fez isso ela alcançou a maior dívida corporativa do mundo”, comenta.
Mais refino, menos dividendos
O fundador da Suno ainda acrescenta que um aumento relevante de investimentos em refino iria drenar o caixa da Petrobras, e isso necessariamente significaria menos dividendos.
“Temos que lembrar que cada real que vai para uma refinaria é um real a menos de dividendos e o maior acionista da Petrobras hoje é o governo. O governo está deixando de ter caixa para investir em saúde, saneamento. Nós como sociedade temos que nos perguntar se é melhor termos mais uma refinaria ou mais um hospital, mais investimentos em outros setores”, analisa.
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Esse cenário todo tem causado preocupações no mercado, dado que as ações PETR4 afundaram mais de 10% somente nos últimos 30 dias.
Reis explica que “o mercado não pressiona, ele precifica”, que no momento alguns investidores, com as informações que temos hoje, decidiram não ser mais acionistas.
“Esse tipo de movimento nas ações pressiona Ibovespa, juros, e inclusive o câmbio e até a inflação. Esse movimento faz o governo no mínimo refletir sobre suas decisões”, observa Reis.
Bastidores mostram possível foco de Magda Chambriard
Segundo informações de bastidores do Broadcast, Magda Chambriard deve tratar inicialmente da questão de oferta de gás, com a aceleração do projeto Rota 3, que deve ser entregue no segundo semestre, possivelmente em julho.
Além disso, ela deve trabalhar para a retomada da fábrica de fertilizantes – o que prevê a reativação da fábrica de fertilizantes do Paraná, além das unidades da Bahia e Sergipe, e a conclusão da planta de Mato Grosso do Sul.
Juntamente com isso, Chambriard estaria visando medidas mais emergenciais, como a continuidade da expansão da capacidade de refino do país e a retiradas de projetos de energia renovável do papel.
Silveira disse que Lula quer ‘acelerar plano de investimentos da Petrobras’
Na primeira vez em que falou publicamente sobre a demissão de Jean Paul Prates, agora ex-presidente da Petrobras, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, foi direto ao atribuir a decisão ao presidente Lula (PT).
Segundo o ministro, a demissão ocorreu por causa da compreensão de Lula de que é preciso acelerar o plano de investimentos da estatal.
Silveira também negou que teve influência direta na demissão de Prates.
“Tentaram personificar em mim e no ministro Rui. Isso absolutamente não aconteceu”, disse Silveira a jornalistas na Base Aérea do Galeão, no Rio, sobre a demissão do CEO da Petrobras que ocorreu recentemente.