Na reunião anual dos acionistas da japonesa Nissan agendada para a próxima terça-feira (25), os acionistas da montadora devem apoiar o plano de governança do presidente-executivo, Hiroto Saikawa, sucessor do brasileiro Carlos Ghosn.
O plano recomendado à Saikawa por uma comissão independente visa a criação de três comitês para a governança da Nissan.
Contudo, em 8 de junho, o presidente do Conselho de Administração da francesa Renault, Jean-Dominique Senard, afirmou que a companhia poderia se abster na votação de aprovação do plano.
Isto aconteceria caso o CEO da Renault, Thierry Bolloré, não ocupasse uma das cadeiras do comitê de auditoria. A notícia foi dada à Nissan via carta endereçada à Saikawa.
Os três comitês do plano do CEO da Nissan seriam responsáveis pela fiscalização de:
- indicação para cargos;
- remuneração;
- e auditoria.
A Renault é a maior acionista da Nissan, com uma participação de 43,4% das ações da montadora japonesa. Assim, a abstenção da francesa na votação impossibilitaria a maioria de dois terços para aprovação do plano de governança.
Reestruturação da governança da após Ghosn
A reestruturação da governança da montadora japonesa seria uma forma de melhorar a imagem da empresa após a passagem de Ghosn. O empresário, que era presidente da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, foi preso duas vezes nos últimos anos:
- em 19 de novembro de 2018, preventivamente. Foi solto sob pagamento de fiança em 6 de março deste ano.
- e em 3 abril de 2019. Novamente foi solto sob pagamento de fiança, desta vez em em 25 de abril deste ano.
O brasileiro foi demitido da presidência da Nissan e da posição de chairman da Mitsubishi, logo após ser preso. Em 24 de janeiro deste ano, Ghosn renunciou ao cargo na Renault.
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Ghosn foi acusado de três irregularidades financeiras pela Procuradoria do Japão. Duas das acusações são referentes à ocultação da renda (cerca de 74 milhões de euro no total). Enquanto a terceira remete à utilização da montadora japonesapara encobrimento de perdas financeiras pessoais (cerca de 14,5 milhões de euros).
Apesar das polêmicas investigações entorno de suas finanças e sua relação com a Nissan, Ghosn era pessoa chave na relação de aliança entre as montadoras.
Além de sua saída, outro episódio agravou o relacionamento entre a Nissan e a Renault: a possível fusão da francesa com a Fiat Chrysler (FCA).
Possível fusão entre a Fiat Chrysler e a Nissan
A Fiat Chrysler apresentou o projeto de fusão com a Nissan em 27 de maio. Tal fusão poderia criar a terceira maior montadora do mundo.
As negociações da Renault com a Fiat teriam sido iniciadas após a proposta de fusão de Senard, entre a Nissan e a Renault, ser barrada por executivos. O plano, originalmente de Ghosn, não agradou aos executivos, por uma série de motivos.
Dentre os quais estão:
- a desproporção de participações das montadoras, visto que a Nissan detém apenas cerca de 12% das ações da Renault;
- e a preocupação de que a fusão 50/50 não seja rentável à Nissan a longo prazo.
Além disso, as investigações referentes à Ghosn, que levou a Renault a tentar interrogar funcionários da Nissan para procurar evidências de delitos financeiros cometidos pelo brasileiro, iniciaram o desconforto na relação entre as montadoras.
Assim, Senard iniciou os diálogos com a Fiat sem que a Nissan tivesse conhecimento. A japonesa se recusou a apoiar a fusão.
Isto fez com que o governo francês, que detém fatia de 15% na Renault, pedisse mais tempo para avaliar a proposta da Fiat. O objetivo do prolongamento da operação seria conquistar o apoio da japonesa na operação. Em 5 de junho deste ano, a Fiat retirou a proposta de fusão com a francesa. De acordo com a agência “Reuters”, as negociações podem ser retomadas futuramente.