Nissan reduzirá sua produção global em cerca de 15%
A Nissan reduzirá sua produção global de veículos em cerca de 15% no ano fiscal que termina em 2020. A informação foi divulgada pelo jornal japonês Nikkei.
Para o ano fiscal que termina em 2019, a Nissan prevê uma produção de 4,6 milhões de veículos. O nível mais baixo dos últimos nove anos. Esses projetos de redução de produção estão sendo comunicados aos fornecedores da montadora japonesa.
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O corte na produção será o maior desde o ano fiscal de 2008, quando a produção tinha caído de 16%. Entretanto, aquele ano tinha sido marcado pela crise financeira global.
A produção no Japão deveria permanecer estável, superior a 900 mil unidades. Todavia, no exterior a produção deveria se reduzir em cerca de 3,7 milhões de veículos.
Primeira contração desde 2008
Essa redução programada chega após o ano fiscal de 2018 ficar marcado por uma queda nas vendas. O primeiro ano de contração após uma década de crescimento, gerado em particular pelo desempenho lento nos Estados Unidos.
E a queda de 2019 ocorre em um ano durante o qual os rivais da Nissan mantêm uma previsão de crescimento o de estabilidade nas vendas em comparação com o ano passado.
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Além disso, a desaceleração econômica na China limitou as vendas de carros novos. No gigante asiático a montadora registra cerca de 20% de suas vendas globais.
Problemas com a Renault
Com a decisão de reduzir a produção a Nissan abandona de vez a agressiva campanha de expansão global levada adiante pelo ex presidente Carlos Ghosn. Os lucros da Nissan acabariam afetados e essa escolha poderia gerar sérias consequências sobre a aliança com os franceses da Renault.
A montadora francesa possui atualmente 43% da Nissan. Por sua vez, a Nissan detêm uma participação de 15% na Renault, porém sem direito de voto. Uma porcentagem reduzida, apesar da japonesa representar quase metade do lucro líquido do grupo de seu parceiro.
Projetos ambiciosos de Ghosn
Durante a gestão Ghosn, a Nissan tentou atingir metas de vendas cada vez mais agressivas. Entretanto, o novo presidente e CEO da montadora, Hiroto Saikawa, quer outro tipo de estratégia para a empresa.
Saikawa anunciou em fevereiro uma nova estratégia, dessa vez concentrada na rentabilidade sobre o volume de vendas. Por isso, a Nissan mudará seu foco, passando do mercado de massa de sedãs para veículos elétricos e outros produtos de alto valor agregado. Uma decisão que impactará ainda mais nas vendas.
Sempre em fevereiro, foram também revistas as estruturas de produção e vendas e a montadora japonesa rebaixou sua previsão de lucro para o ano fiscal de 2018. O grupo projeta um lucro operacional total de 450 bilhões de ienes (cerca de R$ 16 bilhões). Um resultado 22% menor do que no ano anterior, e 40% abaixo de quanto registrado em 2015.
“Não fomos capazes de alavancar totalmente o poder da marca pura para capturar clientes de varejo”, chegou a explicar Saikawa. Por isso, segundo o executivo, o volume de vendas da Nissan deveria sofrer por algum tempo.
Relembre o caso Ghosn
Detido em Tóquio desde 19 de novembro, Ghosn é acusado de fraude e de uso indevido de recursos do grupo Renault-Nissan. Ele foi solto sob fiança no dia 5 de março pelo Tribunal de Tóquio. Os juízes japoneses determinaram uma fiança de 1 bilhão de ienes (cerca de R$ 33,8 milhões).
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O executivo de 64 anos foi acusado de fraude fiscal e uso de verbas da empresa para uso pessoal. Ele teria omitido em suas declarações de renda às autoridades da Bolsa de Valores nipônica. Além disso, Ghosn teria escondido quase R$ 167 milhões entre 2010 e 2015.
Seu braço direito, Greg Kelly, também foi acusado de ter ajudado a ocultar valores.
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Ghosn também é suspeito de ter repetido a fraude, entre 2015 e 2018, totalizando 4 bilhões de ienes (cerca de US$ 35 milhões). Esse ponto havia provocado uma primeira prorrogação do período de detenção.
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Além das acusações de não ter declarado sua renda real, a Nissan afirma que seu ex-presidente utilizou ilicitamente residências de luxo espalhadas em vários países do mundo pagas pela empresa.
Ghosn teria até organizado uma viagem no Rio de Janeiro durante o Carnaval paga pelas empresas. O executivo e sua esposa convidaram oito casais de amigos para passar a festa na capital fluminense em 2018. No total, a viagem custou US$ 260 mil (cerca de R$ 977,6 mil) e teria sido paga pelo grupo Renault-Nissan.
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A Nissan também é investigada como pessoa jurídica. A Promotoria suspeita da responsabilidade da empresa, que forneceu os relatórios falsos às autoridades da Bolsa de Valores.
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A detenção de Ghosn, que foi destituído da presidência da Nissan poucos dias depois de ser preso, resultou de uma investigação interna da empresa. O executivo também foi destituído da presidência da Mitsubishi Motors.
O executivo era considerado uma “estrela” no mundo do setor automotivo mundial. Principalmente por sua capacidade de restruturar empresas em crise e cortar custos. Ele salvou a Nissan, que no inicio dos anos 2000 estava prestes a falir. Ghosn chegou a ganhar um status de herói no Japão, tanto que sua trajetória foi ilustrada em mangás, as histórias em quadrinhos japonesas.
A prisão de Ghosn provocou uma crise na aliança entre a Nissan e a Renault. A aliança industrial entre as duas montadoras foi criada em 1999, costurada próprio por Carlos Ghosn. Com a entrada da Mitsubishi Motors, se tornou o maior grupo mundial do setor automobilístico.
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