CVM investiga fundos de Nelson Tanure por insider trading na compra da Alliar (AALR3), diz site
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vai investigar uma denúncia feita pela gestora Esh Capital, que aponta o uso de informações privilegiadas (insider trading) pelos fundos ligados ao empresário Nelson Tanure na aquisição do controle da Alliar (AALR3).
Segundo o portal Pipeline, a CVM considerou que a reclamação da Esh “parece se configurar legítima” e merece uma apuração mais detalhada por parte da autarquia.
O insider trading teria acontecido no fim do ano passado, de acordo com o Pipeline, quando Nelson Tanure negociava a compra de ações do bloco de controle da Alliar. Na época, saiu na mídia que os papéis seriam adquiridos pelo preço de R$ 20,50.
Porém, a cotação estava muito abaixo desse valor, em torno de R$ 13,00, e as ações dispararam na Bolsa, visto que os acionistas minoritários esperavam uma oferta pública de aquisição (OPA), por se tratar do controle da Alliar, e correram para “corrigir” o valor da ação.
“Enquanto os minoritários compravam, esperando a OPA, os fundos de Tanure vendiam, realizando lucro daquela alta”, diz a matéria do Pipeline.
Irregularidades dos fundos de Nelson Tanure
Com isso, entre os dias 18 e 30 de novembro, os fundos teriam se aproveitado da alta das ações para vender 1,48 milhão de papéis, volume equivalente a R$ 25,5 milhões. O preço médio por ação da Alliar ficou em R$ 17,19, cerca de 38,85% acima do fechamento anterior à notícia da possível OPA.
A CVM confirmou ser um volume de negociação acima da média para a Alliar, ainda que, considerando o investimento total de Tanure (cerca de R$ 1,28 bi), seja um valor pouco relevante.
“A incerteza, não presente nas decisões dos fundos ligados a Nelson Tanure, colocaria o papel com potencial de chegar a R$ 20,50 mais juros até a liquidação ou voltar ao patamar de R$ 13, em que estava o papel antes da divulgação do conteúdo na coluna do jornalista Lauro Jardim, de O Globo”, diz a CVM.
Com isso, a CVM decidiu seguir com a análise para identificar a “profundidade e extensão dos delitos”.
Como ficou a Alliar
Posteriormente, confirmou-se que o contrato fechado entre Tanure e o grupo de controle da Alliar tinha de fato o valor de R$ 20,50, mas previa uma opção de venda futura de ações. Logo, a transação não exigia a troca de controle imediato, dispensando a OPA.
Diante disso, para a gestora Esh e para a CVM, os quatro fundos — MAM Eagle, Fonte de Saúde, Borgonha e Kyoto — cometeram irregularidade, diz o Pipeline.
Isso porque eles venderam um volume relevante de ações “provavelmente sabendo que no contrato de venda constaria a put [cláusula] possibilitando ou tentando a possibilidade de evitar uma OPA por alienação de controle.”
Após o pregão desta quarta-feira (30), as ações da Alliar fecharam com alta de 0,28%, avaliadas em R$ 18,18.
Nos últimos 12 meses, os papéis da empresa acumulam valorização de 102%, cotados a R$ 19,08 na máxima, atingida em 29 de novembro de 2021 – data em que os fundos de Nelson Tanure estariam colocando em prática o insider trading.