As mulheres ainda são minoria no mundo dos investimentos. De acordo com um relatório do perfil dos investidores na Bolsa de Valores de São Paulo, em fevereiro deste ano, apenas 21,43%, ou 201,873 mil, dos investidores listados eram mulheres.
No relatório divulgado mensalmente pela B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), no mês passado o total de investidores listados na Bolsa de Valores, entre homens e mulheres, era de 919,403 mil. Um recorde que ainda não tocou o 1 milhão, parcela que representaria cerca de 0,5% da população total do País, de 209,3 milhões. Isto reflete a falta de educação financeira no País.
Contudo, a menor fatia das mulheres nos investimentos financeiros da B3 não é exclusividade do Brasil. E este fato não passa despercebido.
Encomendada pela State Street Global Advisors, por meio da McCann New York, a escultura “Fearless Girl” (Garota Destemida) da artista Kristen Visbal foi instalada em frente ao “Charging Bull“ (Touro em Investida), símbolo de Wall Street, do escultor italiano Arturo di Modica.
A instalação da estátua ocorreu na noite de 7 março de 2017. Desta forma, naquele ano, o dia internacional da mulher amanheceu com uma reflexão acerca da igualdade de gênero e a participação da mulher também em Wall Street.
“Fearless Girl”, que inicialmente recebeu permissão da Prefeitura de Nova York para ficar por uma semana no local, acabou estendendo sua estadia até 28 de novembro de 2018, quando foi removida.
Apesar de não mais encarar o “Charging Bull”, a campanha publicitária da “Fearless Girl” reabriu o diálogo da liderança corporativa feminina e a posição das mulheres nos investimentos.
Em 8 de março deste ano, 84 Bolsas ao redor do mundo, incluindo a B3, participaram do evento “Toque o Sino pela Igualdade de Gênero”.
Apesar da menor participação das mulheres no mercado financeiro, confira abaixo o histórico de três mulheres inspiradoras que inovaram no mercado:
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Hetty Green
Em uma época na qual as mulheres não tinham sequer direito ao voto, Hetty Green foi descrita como a mulher mais rica dos Estados Unidos da América (EUA), em uma publicação de 1905 da “National Magazine”.
Herdeira de uma família que já era rica, a “bruxa de Wall Street”, como Green ficou conhecida, ampliou a fortuna com base na compra e venda de imóveis e hipotecas. A investidora concedeu empréstimos e investiu na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).
O setor ferroviário e o de mineração, além de títulos públicos eram o foco dos investimentos da magnata.
No setor imobiliário, a estratégia de Green era “comprar uma propriedade barata quando ninguém queria, e vendê-la mais caro quando surgia o interesse”, escreveu Ellen Terrell, especialista da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em uma publicação de 2012 dedicada à magnata.
Na Bolsa de Valores, apesar de não possuir perfil especulativo, a bruxa de Wall Street acertou o momento de especulação, e conseguiu lucrar com empréstimos durante o pânico financeiro de 1907, quando a Bolsa caiu perto de 50%.
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Geraldine Weiss
Conhecida como “a grande dama dos dividendos”, Geraldine Weiss enfrentou dificuldades para conseguir adentrar um mercado predominantemente masculino.
Na década de 1960, o interesse em finanças de Weiss cresceu, após ler e estudar o assunto. Então, a futura grande dama dos dividendos tentou ser contratada por diversas corretoras em Wall Street.
Rejeitada pelo mercado, Weiss decidiu fundar, em 1966, o boletim informativo Investment Quality Trends (IQT). Deste modo, tornou-se a primeira mulher a ser uma assessora de investimentos certificada, que assinava um informativo do mercado financeiro.
A assinatura que constava em tal boletim era “G. Weiss”, pois a investidora tinha receio de perder credibilidade por ser mulher (assim como a famosa escritora da saga de livros “Harry Potter”, J. K. Rowling).
A estratégia adotada por Weiss foi de analisar o rendimento de dividendos de 350 empresas de grande porte (blue chips). Em sua análise, o não pagamento de dividendos por uma empresa gera apenas especulação sobre o valor da ação, sem necessariamente gerar rendimentos.
Na década de 1970, Geraldine Weiss foi convidada para o Wall Street Week. No evento, a assessora apresentou uma teoria de investimentos baseada em dividendos, contrariando a parcela do mercado que apostava em ações no curso e no médio prazo.
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Eufrásia Teixeira Leite
E não poderia faltar uma brasileira na lista. A primeira brasileira a investir no mercado financeiro foi Eufrásia Teixeira Leite, de acordo com a analista financeira Mariana Ribeiro, autora do livro #QueroSerEufrasia. O fato ocorreu em 1890.
A brasileira operava nas três principais Bolsas do mundo: Londres, Paris e Nova York.
“Durante sua carreira na Bolsa de Valores, Eufrásia lidou com cenários internacionais complexos que compreendeu a Primeira Guerra Mundial e o período entre guerras, os quais causaram um movimento de protecionismo nas economias de maneira geral”, escreveu a autora em seu Blog “Finanças Femininas”.
Os investimentos financeiros de Eufrásia englobavam diversas moedas, e formas de ativos: renda fixa, debêntures e ações.
“Acerca da forma de gestão, ela primava pela centralização de suas decisões mesmo com a amplitude de seus investimentos, que alcançavam 13 países e 7 moedas diferentes. Além disso, as empresas nas quais investia tinham atividades muito diversas, como mineração, construção de ferrovias e extração de petróleo“, completou Ribeiro.
Um fato curioso da vida de Eufrásia é que ela morreu sem deixar herdeiros diretos. Então, deixou seu patrimônio como doação para cidade natal, Vassouras (RJ), para a construção de hospitais e escolas.