O número de mulheres investidoras na bolsa de valores (B3) atingiu a marca de 1 milhão de pessoas. Isso representa uma alta na comparação com o final de 2020, quando havia 847 mil investidoras na B3.
Embora seja um aumento expressivo, a participação feminina ainda é bem menor do que a masculina, e este percentual tem mudado lentamente. Dez anos atrás, as mulheres representavam 25% do total. Atualmente, elas representam 27% do total de investidores na bolsa brasileira. Ou seja, um aumento de apenas 2 pontos porcentuais em uma década.
“O Brasil tem uma maioria de população feminina, mas isso não se reflete na Bolsa. As mulheres vêm ganhando participação ao longo do tempo, mas uma participação tímida. Chegamos a 1 milhão, mas de forma percentual não tivemos ganhos representativos”, analisou a gerente de produto e embaixadora do movimento “Nós, Mulheres Investidoras”, da Easynvest, Iris Sayuri Kazimoto.
Avanço das mulheres investidoras se acelerou em 2018
Dez anos atrás, em 2011, havia apenas 145,9 mil mulheres investindo na bolsa. Este número se manteve praticamente estável até 2017, quando começou a ocorrer uma aceleração na presença feminina. Confira o número de mulheres na B3 nos últimos três anos:
- 2018: 179,5 mil
- 2019: 388,6 mil
- 2020: 847,5 mil
O avanço do público feminino ocorreu junto com a maior presença dos homens na bolsa. Da mesma forma, o número de homens na bolsa se manteve sem grandes alterações entre 2011 e 2017, na casa dos 450 mil investidores. Em 2018, eles chegaram a 634 mil; e, 2019, atingiram 1,2 milhão de investidores; em 2020, eram 2,3 milhões. Hoje, são 2,6 milhões.
Um dos principais motivos que levou homens e mulheres para a renda variável foi a queda da taxa Selic nos últimos anos. Em 2016, a taxa Selic estava na casa dos 14%, garantindo ganhos confortáveis na renda fixa, mas este patamar caiu gradualmente até chegar à mínima histórica de 2%, que só foi rompida na última reunião do Copom.
Além disso, a disseminação de informações sobre o mercado de investimentos na internet ajudou a democratizar o acesso dos investidores.
Mulheres têm mais desafios para entrar na Bolsa em comparação com os homens
As mulheres encontram entraves históricos, financeiros e culturais para se tornarem investidoras. Até 1962, as mulheres casadas precisavam de autorização do marido para trabalhar fora. O Código Civil de 1916 também as impediam de abrir conta no banco, ter estabelecimento comercial ou mesmo viajar sem autorização dos maridos.
Ademais, as mulheres podiam administrar os bens do casal somente em três situações: quando os maridos estivessem em lugares remotos, quando estavam em cárcere por mais de dois e quando fossem declarados interditos.
Kazimoto acrescenta que historicamente as mulheres só tiveram CPF para ter conta bancária em 1960, o que é recente, e que o empoderamento das finanças no público feminino é mais recente ainda.
“Não aprendemos sobre educação financeira em casa ou nas escolas. Além disso, não é um assunto que se discute no ambiente feminino, isso porque o mundo dos investimentos tem esse estigma de ser complexo e inacessível, esses fatores prejudicam a mulher a dar o primeiro passo nos investimentos” apontou Kazimoto.
Além da situação histórica, a situação atual também se torna um entrave para a mulher adentrar no mundo dos investimentos.
Segundo o IBGE, o Brasil registrou, no terceiro trimestre de 2020, 8,5 milhões de mulheres a menos na força de trabalho, na comparação com o mesmo período do ano anterior. A taxa de retomada do mercado de trabalho vista no segundo semestre privilegiou postos ocupados por homens.
“No Brasil, muitas mulheres não conseguem se inserir no mercado de trabalho, quando conseguem não tem uma renda compatível, ganham menos, e sabemos que para investir é necessário ter uma renda, ganhar mais que gasta para se planejar e investir aquilo que sobra”, analisou Kazimoto
País que tem mais mulheres investidoras tem mais vantagens
A mulher, quando se propõe a cuidar das suas próprias finanças, se torna agente transformadora da sociedade por meio de educação de seus filhos e escolhas inteligentes em seus investimentos.
“O maior ganho para o país que tem mulheres que investem em renda variável é o fato dela ser multiplicadora, ou seja, ela educa financeiramente os filhos e passa essas informações à outros. Quando ela confia ela passa, ela transmite, ela quer que outros também tenham conhecimento, então com a disseminação da informação a economia começa a se movimentar”, analisou a economista e educadora financeira fundadora da Rico Foco, Andreia Fernanda.
Além disso, Fernanda aponta para outra vantagem em mulheres investindo na Bolsa que é o equilíbrio econômico versus equilíbrio demográfico.
“Outra vantagem é o investimento no longo prazo, uma vez que as mulheres investidoras vivem mais então tem uma sustentabilidade maior quando falamos de equilíbrio econômico do país versus equilíbrio demográfico, ou seja eu vivo mais e invisto por mais tempo”, completou.
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