As mulheres têm conquistado cada vez mais liberdade com suas finanças e investimentos e com isso, a independência financeira. De acordo com um estudo realizado pelo Bank of America em 2016, 61% das mulheres entre 18 e 26 anos têm dinheiro na poupança, mas apenas 55% dos homens na mesma faixa etária o fazem.
Além disso, 34% dessas mulheres pagam seus próprios impostos, em comparação com 28% dos homens que não necessitam da ajuda dos pais ou de terceiros.
A Forbes aponta que dados recentes sobre as mulheres da geração Y demonstram que elas estão aproveitando as oportunidades indisponíveis para as mulheres antes delas.
A Pew Research descobriu que essas mulheres têm mais 7 pontos percentuais de probabilidade do que os homens de terem concluído pelo menos o bacharelado. Além disso, 71% das mulheres da geração Y estão no local de trabalho e se casando mais tarde, em comparação com as gerações anteriores, à medida que se concentram no crescimento de suas carreiras.
Diante disso, o SUNO Notícias consultou algumas especialistas em finanças pessoais para explicarem como atingir essa independência.
O que é independência financeira
O termo independência financeira muitas vezes é utilizado de maneira errada, como por exemplo sendo um sinônimo de riqueza, mas será que para atingir esse status é necessário ser milionário?
Para Júlia Abi-Sâmara, fundadora da as investidoras, empresa que tem como objetivo trazer a educação financeira para mulheres, ser financeiramente independente é aquele momento da vida em que se conquista um nível de estabilidade e organização financeira que pode se dedicar a fazer as coisas que ama, sem ter que se preocupar em ter um trabalho pelo dinheiro.
“Está muito relacionado a liberdade. Liberdade de poder escolher trabalhar com o que você ama e realizar seus sonhos, sem depender de ninguém para isso! Eu trabalho ensinando mulheres a investir e cuidar do seu dinheiro, e nesse caso sinto que a independência financeira tem um significado ainda mais forte!”.
Ter uma fonte de renda é o primeiro passo
De acordo com Iris Sayuri Kazimoto, gerente de produto e embaixadora do movimento “Nós, Mulheres Investidoras”, da Easynvest, o termo independência financeira muitas vezes remete à um alto nível de renda, contudo, “quando a gente fala em relação às mulheres, eu gosto de pensar da independência financeira em estágios”.
Como por muito tempo as mulheres não podiam nem trabalhar, o primeiro passo seria conseguir ganhar seu próprio dinheiro para poder controla-lo e usa-lo como desejar.
Assim, para conseguir um montante suficiente para se tornar independente, deve-se buscar uma fonte de renda, seja em um trabalho formal, vendendo brigadeiro, roupas usadas ou algo que goste de fazer, com freelance ou qualquer forma que permita a entrada de um dinheiro frequentemente.
“Busquei uma fonte de renda para poder escolher meu curso e meu trabalho”
A estudante de 23 anos, Vitoria Caldas Ribeiro, de Mogi das Cruzes, trabalhou como professora e garçonete para conseguir dinheiro suficiente para se sustentar em São Paulo e cursar a FGV, renomada faculdade de Administração.
Vitoria sempre estudou nas melhores escolas da cidade, com bolsa mérito por sempre ter notas boas, já que seus pais não tinham condição de pagar a mensalidade.
No Ensino Médio, a estudante decidiu fazer odontologia pois sua minha mãe é dentista, “sempre convivi com ela no consultório e achei que era o que queria para a minha vida”.
Assim, Vitoria passou na Unesp em Araraquara, “que na época era a melhor faculdade de odontologia da América Latina” e sua primeira opção de curso.
No entanto, após dois anos de faculdade, a estudante percebeu que o curso não a agradava. “Apenas no segundo ano, quando tive a oportunidade de colocar em prática os ensinamentos eu percebi que não me identificava com a profissão. Eu não gostava de realizar os procedimentos, percebi que não era o trabalho que gostaria de ter”.
Com isso, começou a trabalhar como professora de física de um cursinho popular e depois de pouco tempo virou coordenadora administrativa lá. Cuidava das finanças, gestão de pessoas e assim percebeu que gostava da área de negócios.
“Fui pesquisar que curso deveria fazer para poder trabalhar com isso, assim descobri que deveria fazer Administração, e tinha que ser na FGV. Nada me tirava isso da cabeça. Eu sou uma pessoa muito determinada”.
Porém, tinha um entrave muito grande, a parte financeira. Os pais dela não tinham condições para pagar os custos de vida em São Paulo e a mensalidade da faculdade.
“Eu nunca tinha tido acesso à educação financeira. Os meus pais sempre foram endividados, nunca investiram. Na época eu ganhava um dinheiro deles, bem pouco, que eu completava com o meu salário, pois eu era professora. Eu sempre gastava esse dinheiro e ficava no vermelho”.
“Quando eu decidi que eu tinha esse sonho de estudar administração na FGV, eu mudei completamente a minha vida. Comecei a estudar sobre finanças sozinha, na época não tinha tanto acesso aos conteúdos sobre o tema como tem hoje na internet”.
“Então li muitos livros sobre o tema, fiz cursos online, assinei a Suno Research. E assim comecei a repaginar totalmente a minha vida com tudo que eu ganhava. Passei a investir grande parte do meu dinheiro. Eu vi o quanto o contato com esses temas mudou a minha vida”.
Para conseguir juntar dinheiro, Ribeiro estudava das 8h as 17h e trabalhava como garçonete das 17h30 às 02h e como professora de física também no cursinho popular.
“Comecei a trabalhar muito, cada vez mais dava mais valor ao meu trabalho e estudava mais sobre finanças. Juntei 56 mil reais em dois anos e 8 meses, assim, tranquei a minha faculdade, vim pra São Paulo, consegui uma bolsa integral em um cursinho preparatório para a FGV.
Como não tinha dinheiro para morar em São Paulo, morou em um convento de freiras, onde trabalhava limpando o local, “limpava o chão, trabalhava na portaria”, junto com as aulas do cursinho.
“Deu certo, me dediquei muito, fiz seis meses de cursinho, onde consegui bolsa integral em um curso preparatório para a FGV e passei na faculdade, em trigésimo quinto lugar”.
Assim a estudante conseguiu uma bolsa integral e pôde guardar os R$ 56 mil, que agora estão investidos. “Esse dinheiro é a minha reserva de emergência“.
Além disso, a estudante também estagia durante os horários livres da faculdade e continua guardando seu salário para investir cada vez mais.
Com a reserva de emergência, a estudante afirmou que hoje em dia consegue utilizar o dinheiro em investimentos “mais arrojados, em renda variável, dólar etc”, por ter uma segurança maior atualmente.
Hoje em dia ela trabalha em uma venture builder atuando com gestão, funding e prospecção de clientes e não depende mais dos seus pais para se sustentar.
“É muito importante ter educação financeira. Uma vez que você tem ela, consegue guardar dinheiro, investir. Saber cuidar do seu dinheiro é sinal de liberdade. E liberdade é poder escolher o que quer fazer”.
“Hoje eu consigo escolher o estágio que quero e não simplesmente trabalhar por ser o que paga mais e por precisar do dinheiro”.
Saber diagnosticar seus gastos
Após ter seu próprio dinheiro, o próximo passo é diagnosticar o quanto ganha e gasta, poder tomar conta do que recebe sem depender do marido, pai ou de terceiros.
Graziela Suman, sócia da Veedha Investimentos explica que deve-se buscar clareza no quanto gasta, “muita gente se surpreende quando coloca no papel o quanto gasta. Esse processo de diagnóstico sobre os gastos é fundamental”.
Para isso, a organização é o mais importante. “De nada adianta alcançar uma renda mensal substanciosa se você não souber administrá-la. Tenha consciência do quanto você ganha e do quanto gasta, e se possível encontre formas de aumentar sua renda e diminuir seu custo de vida”, aponta Samara.
Seja com uma planilha no Excel, agenda, aplicativo no celular, o que de fato importa é achar uma maneira de se organizar e compreender o quanto ganha, principalmente o seu salário líquido, não apenas o bruto, indica Kazimoto.
Criar metas
O terceiro passo é criar metas para saber onde investir, onde gastar e também para criar planos para o futuro, desta forma, ao planejar seus objetivos ao longo prazo, fica mais fácil poupar seu dinheiro.
“Faça um planejamento, estipule metas de quanto você quer investir por ano e em quanto tempo quer alcançar sua independência financeira. Isso vai te ajudar a estabelecer que investimentos são melhores para você e que ações você deve tomar para conseguir alcançar essa meta. Quanto antes você começar, melhor. O tempo é um grande aliado na busca pela liberdade financeira, cada passo que você toma hoje tem um grande impacto no seu futuro”, sugere Sâmara.
Ter o hábito de poupar e investir
A próxima etapa consiste em botar em prática os planejamentos e metas criados anteriormente.
Para Aline Cunha, economista da Valor Investimentos, a ação de separar um valor todo mês para investir deve se tornar uma obrigação e um hábito na vida de uma mulher que pretende alcançar sua independência financeira.
Desta forma, não é aconselhado utilizar apenas o que sobrar de dinheiro no mês. Uma dica apontada pelas analistas é não deixar esse dinheiro disponível em sua conta, por isso, assim que receber o salário, deve retirar a quantia planejada para ser investida, “para não haver tentação de usar esse dinheiro para outros fins”.
Conhecimento é poder
Outra dica para quem deseja atingir a independência financeira é sempre buscar mais conhecimento sobre finanças. “Conhecimento é poder, busque sempre entender mais sobre o tema”, sugere a gerente da Easynvest.
“A sociedade não incentivou as mulheres a buscar sua independência financeira e a aprender sobre o assunto. Essa falta de estímulo fez com que muitas mulheres evitassem falar sobre dinheiro e delegassem a tarefa de cuidar de suas finanças para terceiros”, diz a fundadora do curso de finanças para mulheres.
“Para mudar isso, devemos falar mais sobre investimentos com mulheres, mostrar a importância do assunto e também desmistificar que é algo que só os homens entendem. Assim as mulheres vão se sentir mais seguras para adentrar no mundo dos investimentos. Buscar conhecimento e criar um planejamento são extremamente importantes, mas o que vai realmente fazer a diferença é colocar tudo isso em prática”, conclui.
Manter essa liberdade também é importante
Apenas ao ultrapassar todas essas barreiras, fica mais fácil alcançar a autonomia e escolher o que quiser sem que o dinheiro seja a principal preocupação. “É ter renda vindo de outras fontes para que o dinheiro não seja um problema para tomar suas decisões”.
Todavia, após atingir essa independência, é necessário entender que ela continua sendo importante.
“É um erro achar que ao atingir a liberdade financeira não precisamos mais nos preocupar com as finanças, isso pode te levar a perder tudo o que foi conquistado. Continuar observando seus gastos e manter eles dentro do seu padrão de vida é essencial”, diz Sâmara.
Após atingir todos esses estágios, deve-se sempre pensar em como manter a renda passiva, a fonte de renda que possui. Para isso, deve-se manter o padrão de vida que consiga sustentar.
A mulher deve sempre pensar em todas as possibilidades, pensar na inflação, em como talvez com a velhice os seus gastos aumentem com plano de saúde e outros custos.
Por isso, o planejamento continua sendo importante mesmo após atingir a independência financeira e deve continuar sendo uma tática aliada às finanças pessoais, independente da situação da mulher.
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