Mulheres e investimentos: Perfeccionismo e medo do risco são os vilões

Que as mulheres são minoria no mundo das finanças, todo mundo já sabe. Na bolsa, elas representam apenas 25% dos investidores, enquanto no Tesouro Direto, representam cerca de 32%. Mas afinal, o que impede o avanço feminino nesta área? A pergunta intrigou a pesquisadora brasileira Rachel Borges de Sá, que decidiu investigar a fundo o assunto. No caminho, ela levantou algumas hipóteses, baseada na ampla literatura que já existe sobre a relação entre as mulheres e investimentos. As pesquisas apontavam os seguintes motivos:

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  • As mulheres têm menores salários e menores benefícios de aposentadoria quando comparados aos homens.
  • O público feminino tem menos acesso a educação financeira.
  • Variáveis de interação social, incluindo sintomas de depressão, afetam o comportamento da investidora.

Além disso, a pesquisadora identificou que as mulheres são mais perfeccionistas na hora de investir, o que acaba atrapalhando. Isso porque elas acabam não tomando nenhuma atitude devido ao medo de errar.

Foi o que mostrou uma pesquisa recente da gestora Franklin Templeton. “Sabe aquela sensação de que você precisa saber dançar muito bem para poder entrar em uma competição de dança de salão? É isso que 41% das mulheres no mundo sentem sobre investimentos, julgando não saber o suficiente sobre o tema para ‘se dar ao luxo de investir’”, explica a pesquisadora, que também é analista de macroeconomia da XP Investimentos. Segundo a pesquisa da Franklin Templeton, a cifra se compara a uma média de 23% entre os homens.

Um comportamento semelhante foi identificado pela rede social LinkedIn, que mostrou que as mulheres tentam 20% menos vagas do que os homens. O motivo? Elas sentem que precisam atender 100% dos requisitos pedidos pelos empregadores, enquanto os homens se arriscam com apenas 60%.

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Mulheres têm mais aversão a risco: mito ou verdade?

Mas a investigação de Rachel de Sá, mestre em economia politica internacional e em economia, não parou por aí. Ela decidiu averiguar um “lugar comum” que frequentemente é atrelado à investidora feminina: a premissa de que a mulher possui maior aversão ao risco do que homens.

Foi nesse ‘pulo do gato’ que resolvi fuçar um pouco mais, e investigar se de fato mulheres são mais avessas ao risco em investimentos do que homens”, conta. Para isso, ela usou como banco de dados carteiras de investimentos de mulheres brasileiras. O estudo foi divulgado para o SUNO Notícias, que conversou com a pesquisadora em uma entrevista exclusiva.

Ao avaliar o nível de volatilidade das carteiras de 3,34 mil investidores – dos quais 15,5% eram mulheres – a pesquisadora identificou que a aversão a risco não é apenas um mito.

Para todos os diferentes testes realizados, as mulheres se mostraram mais avessas ao risco do que homens. Ou seja, o fato de ser mullher pesou mais no nível de risco do que outras variáveis, como idade, patrimônio ou endereço.

“De maneira relevante, o gênero revelou-se a de maior relevância estatística na maior parte dos testes”, afirma.

Confira alguns destaques da pesquisa:

  • Considerando a performance da carteira em doze meses, a volatilidade é 5,01 pontos percentuais mais baixa, em média, se o investidor for mulher, mantendo-se constante o valor para as demais variáveis independentes.
  • Considerando a performance da carteira observada no semestre, a volatilidade é 1,21 p.p. mais baixa para mulheres.
  • Avaliando clientes de perfil autodeclarado agressivo, por exemplo, ser mulher implica em uma redução da volatilidade observada, em média, de 2,23 pontos percentuais – controlando pelas demais variáveis independentes. Isso se compara a uma redução de 0,57 pontos percentuais na volatilidade observada a cada 10% de aumento no patrimônio líquido do cliente.

Em outras palavras, o simples fato de ser mulher é sim uma influência sobre o nível de volatilidade, ou seja, de risco, da carteira.

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Se você quer saber mais sobre este assunto, confira o bate-papo que vai acontecer hoje entre Rachel de Sá e a analista da Suno, Gabriela Mosmann, às 19h, neste link.

Mulheres e investimentos: que fazer como medo do risco?

Ao concluir o estudo, a pesquisadora avalia que o mais importante é as mulheres tomarem consciência da sua grande aversão ao risco, para que possam mudar seu comportamento em relação às finanças.

“A mulher pensa que está tomando a decisão mais conservadora porque é a decisão certa. Mas enquanto ela faz isso, os homens estão tomando mais risco e obtendo mais retornos”, afirma.

Em sua visão, faz sentido que algumas mulheres sejam mais avessas ao risco por questões particulares, mas o simples fato de ser mulher não deveria comprometer as decisões de todo o grupo. “Espero fazer a diferença para algumas mulheres ao revelar estes dados.”

O estudo feito por Rachel de Sá é inovador ao avaliar dados das carteiras de investimentos e não apenas questionários sobre situações hipotéticas. A epígrafe do estudo sobre mulheres e investimentos, por si só, pode ser uma inspiração neste sentido. “Ensine para ela como o dinheiro realmente funciona, e ela pode mudar o mundo“, declara a autora Linda Davies Taylor, na abertura do trabalho da pesquisadora.

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Natalia Gómez

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