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Morre a economista Maria Conceição Tavares, defensora do pensamento desenvolvimentista

Maria Conceição Tavares. Foto: Wikimedia Commons.

Maria Conceição Tavares. Foto: Wikimedia Commons.

Morreu neste sábado, aos 94 anos, a economista Maria da Conceição Tavares, um dos principais nomes do pensamento desenvolvimentista, que defende uma maior intervenção do Estado na economia para estimular o crescimento. De acordo com amigos e familiares, ela estava em casa, e morreu dormindo, durante a madrugada.

Nascida em Portugal, em 1930, e radicada no Brasil desde 1954 – se naturalizou brasileira em 1957 -, Maria da Conceição foi professora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi deputada federal pelo PT entre 1995 e 1999 e participante ativa do debate público sobre política econômica, sobretudo no período da redemocratização, nos anos 1980.

“Conceição ensinou toda uma geração que economista não era uma questão de mercado. Comemoramos o prazer de ter vivo na mesma época”, afirmou a economista, amiga e ex-aluna de Maria Conceição Tavares, Gloria Moraes, ao informar o falecimento.

Era uma crítica feroz do liberalismo e neoliberalismo econômico. Em artigo publicado no site da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em 2021 – ainda no governo de Jair Bolsonaro -, escreveu: “Com o neoliberalismo não vamos a lugar algum. Sobretudo porque, repito: historicamente o Brasil nunca deu saltos se não com impulsos do próprio Estado.”

Em 2015, em um evento em sua homenagem no Rio, disse que o Brasil precisava de uma aliança ampla com diversos setores da sociedade, para além de uma “frente de esquerda”, para vencer a crise política, e uma política de substituição de importações para vencer a crise econômica. “Hoje é fundamental recuperar a esperança porque a conjuntura está muito adversa”, disse.

No mesmo evento, disse não crer na possibilidade, no curto prazo, de se levar adiante um projeto de desenvolvimento econômico do País com inserção internacional. Nem mesmo quando “o Estado nacional recuperar sua capacidade de operação, pelo menos fiscal” ou com o câmbio mais favorável às exportações. Isso porque, segundo ela, o fim do superciclo de commodities e a desaceleração do crescimento da China seriam obstáculos difíceis de transpor. Por isso, a saída para a economia nacional, disse, seria “voltar ao começo”.

“Temos de fazer, por um lado, por razões de conjuntura internacional e interna, um esforço de substituição de importações outra vez e, por outro, fazer um Estado social de bem-estar, porque esse curso dos últimos dez anos não pode ser interrompido”, afirmou. Ela dizia ser possível manter políticas de distribuição de renda com a substituição das importações e com investimentos em infraestrutura.

Quem foi Maria Conceição Tavares?

Nascida em Aveiro, Portugal, Maria da Conceição Tavares tornou-se uma figura central no pensamento desenvolvimentista brasileiro após se naturalizar brasileira. Em 1998, foi laureada com o Prêmio Jabuti na categoria Economia, em reconhecimento à sua marcante contribuição ao pensamento econômico nacional.

Entre 1995 e 1999, exerceu o cargo de deputada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio de Janeiro. Em 2012, foi agraciada com o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia de 2011, concedido pela então Presidente Dilma Roussef.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou profundamente a morte da economista.”É com grande pesar que me despeço de minha amiga, com quem tive o prazer e a honra de conviver e conversar ao longo dos anos. Juntos, debatemos o Brasil e os desafios sociais e econômicos em diversas ocasiões, seja no Instituto Cidadania, em conversas no Rio de Janeiro ou em viagens pelo Brasil. Neste momento de despedida, expresso meus sentimentos aos familiares, em especial aos filhos, e aos muitos amigos, alunos e admiradores de Maria da Conceição Tavares.”

Com Estadão Conteúdo

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