Para a Moody’s existem riscos elevados para a Vale após o desastre de Brumadinho (MG).
A agência de classificação de risco norte-americana salientou que há uma série de riscos para a Vale. Segundo a Moody´s, esses são de natureza ambiental, administrativa, criminal e civil, além da questão da reputação da mineradora.
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A avaliação da Moody´s ocorre mesmo sem ter total conhecimento da extensão dos danos do rompimento da barragem em Brumadinho. Em sua avaliação a agência salientou que a Mina de Córrego do Feijão representava menos de 2% da capacidade total de produção de minério de ferro da Vale. Além disso, aparentemente o dano ambiental seria menor do que o ocorrido após o rompimento da barragem em Mariana (MG), em 2015. Entretanto, o impacto social seria muito mais grave, com pelo menos 99 mortes e 259 desaparecidos.
A Moody’s lembrou que a Justiça já bloqueou R$ 11,8 bilhões nas contas da Vale por causa do desastre. Além disso, a mineradora foi multada pelo Ibama e pelo governo de Minas Gerais em R$ 350 milhões.
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“As penalidades financeiras relacionadas ao rompimento da barragem podem ser ainda maiores do que as da Samarco, com base no número de mortes
e também por já ter ocorrido o caso Samarco”, informou a Moody´s.
A agência salientou as medidas financeiras já tomadas pela Vale diante da tragédia. Entre elas, estão:
- suspensão do pagamento de dividendos,
- suspensão de programas de recompra de ações
- suspensão de pagamento de bônus a executivos,
- criação de um caixa emergencial de US$ 6,1 bilhões até setembro de 2018.
“Quaisquer potenciais passivos e sanções contra a Vale e seus executivos, juntamente com outros custos decorrentes do desastre de Brumadinho, afetarão a liquidez da companhia e sua capacidade de atender suas necessidades financeiras sem comprometer a capacidade de operação”, informou a Moody´s.
A Moody’s colocou na última terça-feira (31) o rating da Vale em revisão para possível rebaixamento. As notas interessadas para essa revisão são o rating de emissor “Baa3” em escala global e a nota “Aaa.br” em escala nacional.
Outros desastres
Além do desastre da Vale em Brumadinho, outros acidentes que atingiram a cadeia de fornecimento global levaram a cotação do minério de ferro a subir. Entre eles, um incêndio em uma instalação portuária pelo Rio Tinto Group no início deste mês. Além disso, em novembro houve um descarrilamento de trem que atingiu as operações da BHP Group.
O desastre de Brumadinho
A Barragem 1 de rejeitos da mina de Córrego do Feijão estourou na última sexta-feira (25). A mina, localizada na área metropolitana de Belo Horizonte, é de propriedade da Vale.
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Segundo o Corpo de Bombeiros, ao menos 99 pessoas morreram e 259 estão desaparecidas.
O acidente gerou uma avalanche de lama, que liberou em torno de 13 milhões de metros cúbicos (m³) de rejeitos. A lama destruiu parte do centro administrativo da empresa em Brumadinho, e arrastou casas e até uma ponte.
A barragem rompida faz parte do complexo de Paraopeba. A mina é responsável por 7,3 milhões de toneladas de minério de ferro do terceiro trimestre de 2018. O volume corresponde a 6,2% da produção total de minério de ferro da Vale.
Esse é o segundo desastre com barragem em que a Vale se envolve em três anos. Em 2015 ocorreu a tragédia de Mariana, com o rompimento da barragem da Samarco. Naquele desastre morreram 19 pessoas e a lama destruiu centenas de casas e construções.
A Samarco é controlada pela Vale e pela mineradora anglo-australiana BHP Billiton, cada uma com 50% das ações. As duas empresas se tornaram alvo de ações na Justiça por conta do desastre. As pessoas afetadas ainda esperam por reparação.
A Vale informou em nota o início de uma sindicância interna para apurar as causas do rompimento da barragem. “Os resultados preliminares foram compartilhados hoje com as autoridades federais e estaduais que estão acompanhando o caso”, informou a mineradora no documento.
Dois engenheiros terceirizados da Vale foram presos na última terça-feira em São Paulo. Os técnicos estavam envolvidos com o projeto da barragem que se rompeu em Brumadinho e são suspeitos de fraudarem laudos. Essas irregularidades atestaram a estabilidade da mina Córrego do Feijão e permitiram assim as operações no local.
Além dos dois engenheiros também foram presos outros três funcionários da Vale. Todos eram diretamente envolvidos e responsáveis pela barragem. Os mandados são de prisão temporária, têm validade de 30 dias e foram expedidos pela justiça de Minas Gerais.
Foram também cumpridos sete mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte e em São Paulo. Os investigadores procuraram provas na sede de uma consultoria que atuou para a Vale.