O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, negou nesta sexta-feira, 26, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha tratado da indicação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para o comando da Vale (VALE3). Segundo o ministro, o chefe do Executivo “nunca” iria interferir diretamente em uma empresa de capital aberto.
Na quarta-feira, o Estadão confirmou com conselheiros da Vale que o próprio Silveira havia telefonado em nome de Lula para defender que o comitê de acionistas escolhesse Mantega para a presidência da companhia.
Apesar de o governo Lula querer influir nesse processo, ele tem pouca interferência na companhia. A Vale foi privatizada em 1997, e atualmente não possui controlador definido, já que nenhum acionista detém mais de 10% das ações.
Na avaliação de Silveira, ele e o presidente Lula teriam sido “injustiçados” com as informações de que existia uma pressão do governo para a indicação de Guido Mantega. O ministro também negou que tenha entrado em contato com conselheiros da Vale para “pressionar” e “ameaçar” por uma eventual indicação de Mantega para o comando da mineradora.
“É muito sério quando se diz que um ministro ligou para fazer imposição ou até mesmo, alguns mais levianos, usaram o nome chantagem, sem dizer quem teria recebido esse telefone. Quero afirmar: eu não tive nenhuma conversa com conselheiro em que tivesse citado uma indicação do ex-ministro Mantega para suceder o atual presidente da Vale” afirmou.
“Em nenhum momento, o presidente tratou de qualquer questão em relação à sucessão da Vale. O presidente Lula nunca se disporia a fazer uma interferência direta numa empresa de capital aberto, listada em Bolsa, uma ‘corporation’ (empresa sem controlador único), que tem a sua governança e sua natureza jurídica que deve ser preservada”, acrescentou.
“Em Davos, registrei uma posição do governo. A posição do governo era a de que nós compreendíamos que uma ‘corporation’ de capital aberto, com natureza jurídica própria, em que o governo não é controlador, diferentemente da Petrobras, em que o governo, apesar de não ser majoritário, é controlador e indica sua diretoria, e que o presidente Lula, todas as vezes que tratava sobre o setor mineral nacional, a única coisa que tratava era cobrando de forma vigorosa, em especial no caso da Vale, que cumpra seu compromisso social de forma mais célere e eficiente”, disse ele.
O ministro fez críticas à gestão da presidência da Vale, Eduardo Bartolomeo. “Tenho críticas contundentes à gestão da Vale. Ela precisa melhorar a gestão e ter uma interlocução mais próxima do governo. É a segunda maior empresa do País, tem de respeitar o interesse dos seus acionistas, mas tem de respeitar também o povo brasileiro, as políticas públicas.”
“Respeitada a sua governança, a Vale poderia dar prioridade a políticas que são convergentes entre o interesse do acionista e o interesse da população. São políticas públicas que queremos fazer de mãos dadas com a Vale, com outras mineradoras, mas vamos usar instrumentos regulatórios e de formulação de política que forem necessários para que eles cumpram obrigações com o Brasil”, disse.
Ações da Vale
As declarações do ministro foram dadas no início da tarde, pouco tempo depois de pessoas ligadas ao Planalto terem afirmado ao Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) que Mantega divulgaria uma carta para confirmar que abriria mão de qualquer indicação para ocupar um posto na Vale – o que não havia se confirmado até as 21h30 de ontem.
A informação teve impacto nas ações da Vale, que fecharam com alta de 1,67% no Ibovespa. No ano, os papéis da empresa acumulam recuo de 9,97%. (COLABOROU MARIANA CARNEIRO)
(Com jornal O Estado de S. Paulo e Estadão Conteúdo)