O Ministério Público do Rio de Janeiro anunciou nesta terça (8) que pode quebrar os sigilos bancário e fiscal de Fabrício Queiroz e seus familiares. Ele é ex-assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro e é investigado por movimentações suspeitas em sua conta corrente. Os valores são incompatíveis com sua renda enquanto trabalhava para o filho do presidente Jair Bolsonaro.
O anúncio do MP-RJ foi feito após a esposa de Fabrício Queiroz, Márcia Oliveira Aguiar, e as duas filhas do casal, Nathalia e Evelyn de Melo Queiroz, faltarem a depoimento marcado na tarde desta terça (8). Elas também integraram o gabinete de Flávio Bolsonaro. O ex-assessor do parlamentar já havia faltado a outros dois compromissos no MP.
“O MP-RJ tem informações que permitem o prosseguimento das investigações, com a realização de outras diligências de natureza sigilosa, inclusive a quebra dos sigilos bancário e fiscal”, afirmou o órgão em nota.
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A Procuradoria de Justiça do Rio, no entanto, não informou quais providências tomará para obter os depoimentos dos familiares de Queiroz. A defesa de Márcia, Nathalia e Evelyn declarou que elas não compareceram para prestar depoimento porque Fabrício Queiroz passou por uma cirurgia no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para a retirada de um câncer.
“Todas se mudaram temporariamente para a cidade de São Paulo, onde devem permanecer por tempo indeterminado e até o final do tratamento médico e quimioterápico necessários, uma vez que, como é cediço, seu estado de saúde demandará total apoio familiar”, diz a justificativa.
Fabrício Queiroz, Flávio Bolsonaro e o Coaf: entenda o caso
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão administrativo do Ministério da Fazenda que examina ocorrências suspeitas de lavagem de dinheiro) apurou movimentação de R$ 1.236.838 entre 1º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017 na conta de Queiroz, que na época recebia R$ 23 mil. Michelle Bolsonaro, mulher do presidente Jair Bolsonaro, foi mencionada como favorecida do ex-assessor no relatório.
Michelle, que no período era secretária parlamentar de Jair Bolsonaro, recebeu de Queiroz um cheque de R$ 24 mil. O presidente justificou no último sábado (08) que o cheque era pagamento de um empréstimo antigo feito ao ex-motorista do filho.
O depósito feito na conta de sua esposa devia-se ao fato de Jair não possuir o hábito de ir ao banco.
O relatório do Coaf apontou operações atípicas nas contas de 74 servidores e ex-servidores. No início de dezembro, foram presos dez deputados no Rio de Janeiro, na Operação Furna da Onça, desdobramento da Lava Jato.
Movimentações do ex-assessor de Flávio Bolsonaro
Confira abaixo as suspeitas levantadas pelo Coaf:
- R$ 324.774 em saques em espécie
- R$ 41.930 em cheques compensados
Em apuração do RJ2 foram reveladas movimentações milionárias de pessoas que trabalham ou trabalharam em 22 gabinetes de deputados que passaram pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Alguns dos deputados não foram alvo da operação Furna da Onça.
Tais transações ocorreram no mesmo período da movimentação atípica de Fabrício Queiroz. O total dessas operações chega a cerca de R$ 207 milhões.
Assim, mais suspeitas envolvem o ex-assessor: saques em dinheiro que somam R$ 324 mil no intervalo de um ano. E, deste valor, R$ 159 mil foram sacados numa agência bancária no prédio da Alerj.
De acordo com o jornalista Lauro Jardim, dentre os familiares de Queiroz que também trabalharam com Flávio Bolsonaro e receberam menção no relatório do Coaf estão:
- Nathalia Melo de Queiroz, a mulher de Fabrício. Trabalhou com o filho do presidente entre 2007 e 2016. Após ser exonerada, tornou-se secretária parlamentar de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados
- Márcia Oliveira de Aguiar, filha do ex-motorista
- Evelyn Mello de Queiroz, outra filha do ex-assessor
Ainda de acordo com os dados levantados pelo Coaf, grande parte dos depósitos em espécia na conta de Queiroz é paralela às datas de pagamento na Alerj.
Foram identificadas transferências de nove ex-assessores para a conta do ex-motorista do presidente.