Minério de ferro e Vale (VALE3): o que esperar para o segundo semestre?

As perspectivas macroeconômicas para 2022 mudaram muito desde o início do ano. Mas o que esperar para os próximos meses? Essa questão tende a ser tão incerta que até mesmo uma previsão para o próximo trimestre pode não se concretizar por completo. É isso o que aconteceu com as commodities, em especial com o minério de ferro, cujos preços estão numa montanha russa de altos e baixos bruscos.

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Com esse quadro, como fica a situação da Vale (VALE3)? Pode-se fazer projeções de acordo com o quadro atual dos preços do minério no mercado internacional e da provável trajetória da commodity até o fim do ano, com riscos que incluem de lockdowns na China à inflação global.

No fechamento desta quinta-feira (8), os contratos futuros da commodity para janeiro, negociados no mercado futuro de Dalian, subiram 3,14%. No dia, o valor ficou em 706 yuans. A siderurgia chinesa utiliza cerca de 120 milhões de toneladas por mês — mais de 80% do volume é importado.

O minério com pureza de 62% de ferro foi negociado no mesmo dia a US$ 99,80 a tonelada, equivalente a uma alta de 3% em relação ao dia anterior. Com isso, reduziu as perdas acumuladas em setembro a 1,14%. No ano, a baixa está em 16%.

Em julho, a commodity já havia sofrido bastante, acumulando perda de 12,04% nos contratos futuros do minério com pureza de 62% de ferro, sem contar uma queda expressiva em junho também. Em agosto, perdeu 2,29%.

A onda de Covid-19, que interrompeu a produção no começo do ano, em agosto voltou com força na China, levando à paralisação nas fábricas.

A imprensa internacional afirma que o governo chinês ordenou diversas fábricas da província de Sichuan fechassem por seis dias, com a possibilidade de outras províncias, como Zhejiang e Anhui, adotarem as mesmas medidas.

A atual onda de calor chinesa também prejudicou a indústria: ela durou mais que dois meses, tornando-se a mais longa desde que registros completos começaram a ser feitos, em 1961. Diversas cidades registraram as temperaturas mais altas de sua história.

De acordo com Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, houve dois fatores de maior importância que trouxeram a pressão baixista para o minério de ferro: em primeiro lugar, o recrudescimento por parte do governo da China para conter uma nova onda crescente de Covid-19 no país.

“Isso, sem dúvida, causou maiores preocupações, e dado a relevância da China nesse mercado, vê-se que é um fator que mexeu bastante nas expectativas futuras de preço”, afirma.

Outro ponto observado é a alta da inflação, especialmente nos Estados Unidos, e agora há, por parte das autoridades monetárias globais, ações para frear o crescimento e para controlar a escalada de preços.

Por isso as expectativas de crescimento global estão emperradas — ou devem piorar, na análise de analistas. “A dificuldade da China ao atingimento de 5,5% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano tem feito essa queda vertiginosa que a gente viu nos preços do minério de ferro”, explica. “Quando a gente fala da China, ainda é difícil, mas a previsão é de um crescimento na casa de 4% a 4,5%. Dado as complexidades de cenário, [o número] não seria muito ruim.”

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Minério de ferro no segundo semestre de 2022: o que pode acontecer?

Sobre a perspectiva do minério de ferro para o segundo semestre de 2022 (2S22), Henrique afirma que há muita incerteza sobre o que pode acontecer, mas acha muito difícil ver um semestre positivo para o minério de ferro, como aconteceu nos últimos anos.

“No fim do ano passado aconteceu uma coisa parecida”, diz. “O minério também caiu um pouco e esse ano, o semestre deve ter uma restrição de demanda principalmente vinda da China.”

O analista explica que atualmente não se entende muito bem como estão as políticas de lockdown do país, além da rigidez das determinações. “Isso tem desacelerado bastante a política industrial no país, e a atividade imobiliária chinesa está sofrendo. A gente tem visto default das construtoras, incorporadoras, calotes em hipotecas”, ressalta. O setor imobiliário da China é um dos principais demandantes de aço, de acordo com Henrique.

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Como a Vale pode sofrer com a queda da commodity

Com todos esses elementos, o momento do mercado afetou diretamente empresas como a Vale (VALE3), cujas ações são extremamente correlacionadas com o preço do minério de ferro. Na quinta (8), as ações da Vale subiram 1,32%, cotadas a R$ 64,51. No acumulado do mês de agosto, houve queda de 2,73%. No ano, despencam 9,63% até 31 de agosto.

Nesta sexta (9), o minério de ferro sobe 3,14% em Dalian, na China, cotado a US$ 101,40 por tonelada. A Vale pega carona e avança quase 6%.

“Essas empresas ‘commoditizadas’ muitas vezes são precificadas em cima da commodity e não necessariamente em cima do negócio em si”, afirmou Henrique Tavares, analista CNPI da DVInvest. “Então o investidor fica muito refém da cotação da commodity.”

Ilbe pontua que a China tem um peso muito grande na Vale. “Mais de 50% da produção mineral ferrosa da Vale vão para a China”, disse. Isso trem implicações como o alto gargalo logístico e baixos estoques nos portos chineses.

“Vemos uma queda no fato de utilização das siderúrgicas locais, que até abril chegavam perto de 90%. Já caiu para baixo de 85%”, disse o analista da Ativa. “Os estoques nos portos chineses seguem baixos, mas, com o tamanho do país [com população de 1,4 bilhão de pessoas num território de 9.597.000 km², e PIB estimado em US$ 14 trilhões], existem estoques que tem um nível mais cheio, e é mais difícil para a gente fazer aqui um controle.”

A conclusão do analista é, portanto, que, ao menos para a questão dos estoques, apesar de não estar alta, “vemos, sim, uma dinâmica que pode se mostrar um pouco mais complicada daqui para frente.”

Os analistas do banco Safra reiteram a classificação de compra das ações da Vale, “apesar do fraco desempenho recente da ação, que em nossa opinião se deve principalmente às incertezas em relação ao crescimento econômico chinês, vemos que ela está sendo negociada com um valuation atraente e oferecendo um bom potencial de rendimento de dividendos“, de acordo com o relatório.

Entre outros aspectos, o Safra estima que a Vale, em 2022, entregue uma produção de minério de ferro de 305 Mt, contra os 350 Mt projetados anteriormente, com os números mais fracos do primeiro semestre do ano. Além disso, os analistas levam em consideram os problemas operacionais que impactam o restante do ano.

“Para 2023, esperamos que os volumes sejam 7% maiores, em 325 Mt, abaixo dos 385 Mt anteriormente”, diz o texto.

Já quando se trata dos preços do minério de ferro, os analistas apostam em US$ 95 por tonelada no segundo semestre do ano e US$ 91/ton em 2023, “ambos acima da nossa premissa anterior que estava abaixo da curva futura”. O Safra ressalta que os resultado dessas mudanças no Ebitda da Vale foi de +3% e -1% para 2022 e 2023, respectivamente.

E as siderúrgicas? Se a atividade delas diminui, começam ocorrer problemas de demanda. “Assim a siderúrgica atrasa pedidos e, no limite, opera com margens negativas. Para a Vale, não é bom quando uma siderúrgica começa a operar com uma margem mais baixa, pois ela adia o pedido e opta por um minério de menor qualidade”, disse Ilbe.

O analista ressalta que a Vale também produz esse tipo de minério de ferro, mas é um quadro diferente do que se previa ainda no primeiro trimestre do ano. A estimativa prevê um quadro ainda mais desafiador. Para a Vale, o analista da Ativa projeta ainda no segundo semestre uma dinâmica mais difícil, pois a companhia vai continuar uma estratégia de valor sobre volume. “Nós cremos num cenário mais difícil, mas a companhia já mostrou ao longo do tempo que sabe manobrar sobre terrenos mais irregulares. É o isso que se espera ao longo do semestre”, finalizou.

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Victória Anhesini

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