Dívida verde atrai empresas como São Martinho (SMTO3) e Suzano (SUZB3); veja por quê

A captação de recursos por meio de emissões atreladas a metas de sustentabilidade no mercado nacional e internacional tem se popularizado entre empresas brasileiras, como Suzano (SUZB3) e São Martinho (SMTO3). As dívidas sustentáveis, também chamadas de dívidas verdes (do inglês environmental, social and governance), são emissões realizadas por companhias que visam, entre outras coisas, resolver problemas ambientais e da sociedade civil por meio de metas e da destinação de recursos para projetos específicos.

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Dados do BNP Paribas apontam que, globalmente, a emissão total acumulada dos títulos ESG já ultrapassou os US$ 2 trilhões e cresce exponencialmente. O Brasil é o segundo maior emissor de dívida verde na América Latina, com US$ 25, 5 bilhões emitidos desde 2014 — e ainda há espaço para mais, segundo o banco.

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Veja crescimento do mercado de dívida ESG

Um levantamento feito pela NINT, certificadora de títulos sustentáveis com market share de mais de 50% do mercado nacional, mostra que o crescimento do número dessas emissões está só começando. Confira os números:

  • Em 2018, foram 4 as emissões de crédito sustentável nacionais brasileiras, totalizando R$ 224 milhões;
  • Em 2019, 14 emissões foram feitas nacionalmente, somando R$ 1,2 bilhão;
  • Em 2020, o número saltou para 31, ao valor de R$ 2 bilhões;
  • E, em 2021, foram 95 emissões, que somaram cerca de R$ 5 bilhões.

O acumulado para o ano de 2022 já está em 35 emissões nacionais, totalizando R$ 4,2 bilhões.

A Suzano e a São Martinho se destacam pelo número de emissões verdes nos últimos anos – a NINT contabiliza oito operações realizadas pela primeira empresa desde 2016 e quatro emissões pela outra desde 2021.

Entre emissões nacionais e internacionais, ligadas a causas ambientais e sociais, a Suzano já emitiu cerca de US$ 24 bilhões em dívidas sustentáveis nos últimos seis anos. Já a São Martinho contabiliza mais de US $ 7 bilhões em emissões, todas elas na categoria “verdes” (ligadas unicamente à causa ambiental).

Recentemente, a Raízen (RAIZ4) realizou uma emissão de mais de R$ 1,2 bilhão por meio de debêntures, papéis que podem ser comprados diretamente pela pessoa física. Os papéis, em duas séries com prazo de vencimento de sete e 10 anos, terão metas ambientais e sociais a serem cumpridas até março de 2026 — e o não atingimento de metas e compromissos estipulados pelo acordo levam a um pagamento de uma penalidade sobre a taxa de juros aplicada.

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Já a Petrobras (PETR4) levantou, em empréstimo com bancos internacionais, cerca de US$ 1,25 bi atrelados a metas sustentáveis da empresa, que se comprometeu a controlar melhor sua emissão de gases de efeito estufa e metano. Segundo a companhia, que ruma a uma operação mais alinhada a princípios ESG, a escolha pela operação direta com bancos, ao invés de uma oferta pública de títulos, ocorreu devido à maior instabilidade no mercado financeiro.

Em busca do prêmio de melhor reputação

Ainda não existe consenso do mercado quanto a um prêmio intrínseco de emissões ESG, mas existem alguns exemplos de dívidas sustentáveis saindo mais baratas para seus emissores do que papéis tradicionais.

Para Luísa Vasconcellos, Head de ESG do Itaú BBA, é seguro dizer que, por ora, o impacto mais aferível é o “reputacional”. Ela afirma que os investidores, no geral, são mais movidos pelo tipo de investimento do que a presença de ESG ou não. E, no caso de preferência por um tipo de investimento específico, o alinhamento com os princípios sustentáveis quase sempre é o voto de desempate entre títulos similares.

“Se você perguntar ao investidor se ele prefere um mesmo investimento com ou sem ESG, ele tende a responder que prefere a estratégia ESG”, afirma a Head do BBA.

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Mas regulação contra o “greenwashing” engatinha

Os produtos financeiros ESG no Brasil são atualmente regidos por um conjunto de princípios internacionais, em vez de, por exemplo, uma regulação em forma de lei.

O International Capital Markets Association (ICMA) elaborou, em 2014, a sua primeira versão dos Green Bonds Principles, uma série de diretrizes para integridade e transparência de títulos “verdes”, atrelados especificamente para causas ambientais.

O uso de recursos definidos, um bom processo de avaliação e seleção, gestão eficaz das receitas e a produção de relatórios transparentes, por exemplo, são pilares para a certificação de um título verde nos termos do ICMA.

Depois disso, o ICMA também criou um conjunto de princípios e regras de certificação para outros tipos de títulos ESG (como os de uso de recursos para causas sociais e os atrelados à sustentabilidade por meio de metas, mas sem o uso de recursos definido) formando uma coleção de estruturas regulatórias amplamente empregadas pelo mercado.

Portanto, a transparência quanto ao uso de recursos e/ou as metas que a empresa deseja alcançar com a arrecadação se tornaram aspectos básicos para qualquer emissão ESG, para que assim se fuja do “greenwashing” — iniciativas que simulam adesão a métodos sustentáveis com notícias falsas ou enganosas visando atrair mais clientes interessados em princípios ESG.

“O objetivo de rotular operações financeiras como verde, social, ou sustentável, é que elas geram um impacto positivo adicional. Para isso, é importante poder medir isso e garantir a credibilidade dessas operações – e evitar o greenwashing”, afirma Katerina Trostmann, Head de ESG do BNP Paribas.

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Laura Intrieri

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