Fed, inflação, Ucrânia e negociações sobre o acordo nuclear do Irã abalam mercados

Quatro temas ficaram no radar dos investidores nesta sexta (18) e abalaram os mercados: aumento da tensão na Ucrânia, discussão sobre a alta dos juros por dirigentes do Federal Reserve (Fed), inflação global- pauta de uma reunião de ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do G20 — e as negociações sobre um possível acordo nuclear no Irã. Bolsas caíram e o petróleo se manteve em patamares elevados – volatilidade que promete dar o tom no noticiário da próxima semana.

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A crise na Ucrânia, amenizada na quinta com declarações de que o presidente Vladimir Putin iria retirar parte das tropas na fronteira, mas desmentida pelos EUA — voltou a aumentar e dominar hoje o noticiário. O presidente russo disse que vai supervisionar exercícios militares das forças nucleares do país neste sábado (19), com o lançamento de mísseis balísticos e de cruzeiro. A Casa Branca voltou a falar sobre a iminência de um ataque na Ucrânia.

Os EUA alegam que sete mil soldados russos foram enviados à fronteira com a Ucrânia, na contramão do compromisso do governo Putin de começar a recuar. Enquanto isso, relatos sobre disparos no leste da Ucrânia levaram a diferentes narrativas ao longo do dia. “Os mercados estão se tornando cada vez mais suscetíveis a esse risco principal”, disse o analista Michael Hewson, da corretora CMC Markets. “Isso significa que a guerra falsa provavelmente continuará até que a Rússia recue ou decida avançar para a Ucrânia”, acrescenta.

Biden: “Putin está convencido a invadir a Ucrânia”

Nesta sexta, após o fechamento do pregão, o presidente Joe Biden disse, em pronunciamento na TV, que a Rússia vai atacar a capital da Ucrânia nos próximos dias. Ameaçou com sanções e reforçou que prefere solução diplomática — mas que o país e aliados estariam prontos para uma resposta à altura em caso de invasão. “Acredito que Putin já esteja convencido em iniciar uma ação militar. Tenho informações da inteligência americana sobre isso”, disse ele. “Há muitas razões para acreditar que as forças russas atacarão em breve a capital ucraniana de Kiev”, repetiu.

Biden afirmou ainda que os serviços de inteligência dos EUA e dos países aliados na Europa foram informados de “um grande aumento de violações do cessar-fogo por combatentes apoiados pela Rússia tentando provocar a Ucrânia, o que poderia servir de pretexto para uma invasão”.

Não foi só a tensão na Rússia que causou apreensão nos mercados globais. Declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed) sobre a alta de juros também entraram na pauta, estressaram investidores e derrubaram bolsas na Europa, EUA e no Brasil. No fechamento, o Ibovespa caiu 0,57%, aos 112.879,85 pontos — segundo dia de queda.

Em Nova York, a crise geopolítica voltou a apertar NY o índice Dow Jones caiu 0,68%, o S&P 500 perdeu 0,71% e Nasdaq recuou 1,23%.

Outra preocupação: os ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do G20 enfatizaram o caráter desigual da recuperação da economia do mundo e preocupações com a escalada da inflação, em comunicado conjunto divulgado nesta sexta-feira, 18, após reunião do grupo.

E mais um tema causa mexeu com os mercados. Além do cenário no Leste Europeu, investidores acompanham negociações sobre o acordo nuclear com o Irã, que teve avanços nos últimos dias. De acordo com Craig Erlam, da Oanda, o mercado de petróleo está obviamente apertado, e o preço já poderia estar em território de três dígitos se não fosse pelas negociações nucleares entre os EUA e o Irã. “E é isso que está impulsionando os declínios hoje, com relatórios sugerindo que um acordo está a dias de distância. Isso seria enorme, pois poderia significar cerca de 1,3 milhão de barris por dia de petróleo bruto entrando rapidamente no mercado e aliviando algumas das pressões do lado da oferta”, destacou em relatório enviado a clientes.

No fechamento o petróleo, que chegou a atingir US$ 96 nesta semana, terminou as negociações com o Brent para abril subindo 0,61%, a US$ 93,54 o barril, na ICE. O WTI para março avançou 0,19%, a US$ 90,21, na Nymex.

O petróleo fechou em alta moderada nesta sexta, mas acumulou perdas durante nesta semana, em que o foco foi mais uma vez o conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia. O avanço das negociações pela retomada do acordo nuclear com o Irã pesou nos preços mais cedo.

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Veja a seguir a reação dos principais mercados neste dia conturbado eoutras notícias que movimentaram as bolsas:

Putin supervisionará exercícios nucleares em momento de tensão

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, vai supervisionar exercícios militares das forças nucleares do país neste sábado (19), envolvendo o lançamento de mísseis balísticos e de cruzeiro, informou o Ministério da Defesa, na mais recente demonstração de força em momento de tensão aguda com o Ocidente sobre a Ucrânia.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que os exercícios fazem parte de processo regular de treinamento e negou que sinalizem escalada do impasse. Ele disse que o papel de Putin é essencial e que o presidente provavelmente participará de um “centro de situação”.

Os exercícios seguem enorme série de manobras das Forças Armadas russas nos últimos quatro meses, que incluíram aumento de soldados – estimados pelo Ocidente em 150 mil ou mais – ao norte, leste e sul da Ucrânia.

Putin e outras autoridades de alto escalão frequentemente se referem ao fato de que a Rússia, juntamente com os Estados Unidos, é uma das principais potências nucleares do mundo.

O Ministério da Defesa disse que os exercícios testarão a prontidão do comando e controle militar, equipes de combate, navios de guerra e portadores de mísseis estratégicos, bem como a confiabilidade de armas nucleares e não nucleares estratégicas.

Eles envolverão as Forças Aeroespaciais da Rússia, seu Distrito Militar do Sul, Forças de Mísseis Estratégicos, Frota do Norte e Frota do Mar Negro.

Bolsas de NY fecham em queda, com tensões geopolíticas no radar

Os mercados acionários de Nova York registraram quedas nesta sexta-feira, 18. A tensão geopolítica influenciou e foi importante também para o recuo semanal visto nos índices, enquanto nesta sexta-feira também algumas ações importantes ficaram sob pressão.

O índice Dow Jones fechou em baixa de 0,68%, em 34.079,18 pontos, o S&P 500 recuou 0,72%, a 4.348,87 pontos, e o Nasdaq caiu 1,23%, a 13.548,07 pontos. Na comparação semanal, o Dow Jones teve baixa de 1,90%, o S&P 500 registrou queda de 1,58% e o Nasdaq, de 1,76%.

O governo americano voltou a dizer que um ataque da Rússia à Ucrânia pode ocorrer “nos próximos dias”, segundo a porta-voz da Casa Branca, embora também continue a afirmar que a via diplomática segue como uma alternativa. Os EUA têm ameaçado com um pacote duro de sanções, caso a ação militar russa se concretize. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que, ao contrário do anunciado nesta semana por Moscou, não houve retirada de soldados russos da zona fronteiriça, mas sim um reforço na tropa. Já o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a pressão com a ameaça de sanções internacionais é algo “ilegal” e viola a lei internacional.

No setor corporativo, Nvidia fechou em queda de 3,53%, após balanço da empresa que apontou problemas nas cadeias de fornecimento. Tesla teve baixa de 2,21%, com as regulamentações sobre a empresa no radar, e Intel teve baixa de 5,32%, após informar planos e analistas e ter o preço-alvo da ação cortado por alguns deles, como Barclays e BMO Capital. Boeing recuou 2,13%, pesando sobre o Dow Jones. Houve quedas em quase todos os setores, com o de tecnologia sendo o mais penalizado, com Apple em baixa de 0,94% e Microsoft, de 0,96%.

A perspectiva de aperto monetário também tende a pressionar as ações. Hoje, a diretora Lael Brainard previu o início de um ciclo de altas de juros em março. O presidente do Fed de Nova York, John Williams, considerou que será “apropriado” elevar os juros em março, mas falou contra uma elevação inicial grande.

Mercados da Europa fecham em queda, com mercado de olho em tensões na Ucrânia

As principais bolsas europeias fecharam na maioria em queda nesta sexta-feira. Investidores seguem acompanhando os desdobramentos das tensões geopolíticas na região da Ucrânia, que envolve a Rússia e países do Ocidente. Além disso, o mercado monitorou dados de vendas no varejo do Reino unido.

O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em queda de 0,81%, a 460,81 pontos. Na comparação semanal, ele caiu 1,86%.

Investidores seguem sofrendo com a enxurrada de mensagens mistas sobre a escalada das forças militares russas na Ucrânia. As bolsas europeias chegaram a operar mistas no começo da manhã, mas pioraram com relatos de que grupos separatistas de Donbass, no Leste da Ucrânia, decidiram evacuar os residentes da região para a Rússia, principalmente mulheres e crianças.

Além disso, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que a Rússia continua a enviar reforços militares para a fronteira com a Ucrânia, mesmo após Moscou ter anunciado retiradas parciais de soldados da região.

Para a Capital Economics, embora parte da queda nos preços das ações desde o início do ano possa ter sido causada por temores em torno da situação entre Rússia e Ucrânia, a retórica cada vez mais agressiva do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e de outros grandes bancos centrais foi o driver dominante até os últimos dias. No entanto, desde a queda nos preços das ações e rendimentos dos títulos na sexta-feira passada, depois que autoridades dos EUA sugeriram que um ataque russo era iminente, os principais mercados de ações e títulos parecem ter se tornado mais responsivos às notícias sobre o conflito geopolítico.

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Analista-chefe na CMC Markets, Michael Hewson avalia que os mercados europeus inicialmente tiveram um tom mais positivo nesta sexta, já que a negatividade de quinta começou a ser substituída por um otimismo cauteloso de que não haverá mais desenvolvimentos negativos antes da reunião da próxima semana entre Blinken e o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. Porém, o quadro mudou em seguida. Para ele, os principais obstáculos ao índice londrino FTSE 100 foram os bancos e o setor de petróleo e gás, já que o primeiro declínio semanal do petróleo Brent este ano pesa sobre o setor.

O FTSE 100 fechou em queda de 0,32%, a 7.513,62 pontos, na Bolsa de Londres. Na semana, a queda foi de 1,92%. Ações da BP (-1,63%), Shell (-0,63%), Lloyds Banking (-0,14%) e Intermediate Capital (-2,17%) foram destaques. Hewson diz que os papéis do NatWest Group estão entre os piores desempenhos desta semana, com queda de 2,41% nesta sexta.

Investidores também monitoraram as vendas no varejo do Reino Unido, que tiveram expansão de 1,9% em janeiro ante dezembro, segundo dados publicados nesta sexta pelo Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês) do país. O resultado ficou ligeiramente abaixo da expectativa de analistas.

Em Paris, o CAC 40 caiu 0,25%, a 6.929,63 pontos, com ações da Renault em queda de 0,04%, após divulgação de balanço. Na semana, o índice teve queda de 1,17%. Em Frankfurt, o DAX perdeu 1,47%, a 15.042,51 pontos, tendo queda semanal de 2,48%.

Em Milão, o FTSE MIB perdeu 0,61%, a 26.506,79 pontos, e na semana a queda foi de 1,70% .

Já nas praças ibéricas, o PSI 20, em Lisboa, teve baixa de 0,47%, a 5.632,20 pontos, subindo 0,74% na semana. O Ibex 35, em Madri, perdeu 0,94%, a 8.590,00 pontos, caindo 2,36% na semana.

Será apropriado elevar juros na reunião de março, reitera dirigente do Fed

O presidente da distrital do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em Nova York, John Williams, reiterou nesta sexta-feira, 18, que considera “apropriado” que a autoridade monetária aumente a taxa básica de juros na reunião de março do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês).

“Com a economia forte de hoje e a inflação bem acima da nossa meta de 2% de longo prazo, é hora de iniciar o processo de ajuste constante da taxa de juros de volta a níveis mais normais”, afirmou Williams, durante evento virtual.

O dirigente também defendeu que o processo de redução do balanço de ativos comece este ano. “Estou confiante de que alcançaremos uma economia sustentada e forte e uma inflação em nossa meta de 2% no longo prazo”, disse.

Williams projetou que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos crescerá “pouco menos de 3%” este ano, com inflação PCE em cerca de 3%. Na visão dele, com o arrefecimento da onda da variante Ômicron do coronavírus, os gargalos na cadeia produtiva devem diminuir, o que permitirá acomodação dos preços.

“Apesar dos problemas da covid-19, a economia geral mostrou força e resiliência notáveis no ano passado”, avaliou o dirigente.

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Ministros do G20 reforçam sobre riscos de retomada desigual e alta da inflação

Os ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do G20 enfatizaram o caráter desigual da recuperação da economia do mundo e preocupações com a escalada da inflação, em comunicado conjunto divulgado nesta sexta-feira, 18, após reunião do grupo.

A nota destaca que a retomada segue em curso, mas que novas ondas de casos de covid-19 e o surgimento de variantes do vírus afetam o ritmo.

Segundo o texto, as disparidades no processo decorrem de fatores como acesso divergentes a vacinas e remédios e diferenças no espaço para resposta da política macroeconômica.

Os ministros se comprometem a promover esforços para solucionar os gargalos as cadeias de produção, que são apontados como parcialmente responsáveis pela escalada inflacionária. Dizem ainda que vão monitorar as tensões geopolíticas crescentes e as vulnerabilidades financeiras, além de adotar análise sistemática dos riscos referentes às mudanças climáticas.

O grupo ressalta que as taxas de inflação estão “elevadas” em muitos países e garantem que os BCs vão agir conforme necessário em prol da estabilidade de preços. “A independência dos bancos centrais é crucial para alcançar esses objetivos e reforçar a credibilidade da política monetária“, pontua.

A principal prioridade neste momento deve ser o controle da pandemia, avaliam os ministros do G20. Uma força-tarefa estabelecido pelos países irá divulgar um relatório em abril sobre as áreas que demandam melhorias para aumentar o acesso aos instrumentos de combate à covid-19, como vacinas.

Resiliência do setor financeiro

No comunicado conjunto após cúpula, os ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do G20 se comprometeram a assegurar a resiliência do setor financeiro, com objetivo de apoiar a recuperação da crise provocada pelo coronavírus.

O grupo ressalta que tomará medidas para avaliar os potenciais riscos e benefícios de inovações tecnológica, “incluindo riscos cibernéticos e o potencial de lacunas regulatórias e arbitragem impostas pelos mercados de criptoativos”.

Na quinta-feira, o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) divulgou um relatório em que alerta para uma possível ameaça das criptomoedas para o funcionamento ordenado do sistema financeiro.

No comunicado, os ministros do G20 “encorajam” o órgão a aprofundar o monitoramento e a compartilhar informações sobre abordagens regulatórias e de supervisão para criptoativos, stablecoins e finanças descentralizadas.

Descolado do exterior, dólar cai 0,52% e acumula perda de 1,95% na semana

Os ganhos firmes da moeda americana no exterior e o mau humor predominante das bolsas em Nova York ao longo da tarde – com investidores reduzindo exposição ao risco diante de temores de uma possível invasão russa à Ucrânia nos próximos dias – não foram capazes de tirar o brilho do real nesta sexta-feira, 18.

Afora uma alta pontual logo após a abertura dos negócios, o dólar operou sempre em queda no mercado doméstico, na contramão do sinal predominante da moeda tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes.

No início da tarde, o dólar chegou a flertar com o nível de R$ 5,10, ao descer até a mínima de R$ 5,1120 (-1,06%). Com uma desaceleração das perdas na reta final do pregão, fechou R$ 5,14, em baixa de 0,52% – acumulando desvalorização de 1,95% na semana e de 3,13% em fevereiro, após ter recuado 4,84% em janeiro. O real – que muito apanhou no ano passado – lidera o ranking das melhores moedas do mundo em 2022.

Segundo operadores, após a pausa de ontem para ajustes e realização de lucros, a moeda brasileira retomou sua tendência de apreciação, em meio a contínuo fluxo de recursos estrangeiros para os ativos domésticos, além da montagem de posições no mercado de derivativos. Há relatos de grande apetite por operações de “carry trade” (que exploram diferencial de juros entre países) e até o uso do real como hedge (proteção) – uma vez que o Brasil ostenta a maior taxa de juros entre países emergentes (prevê-se que a Selic, hoje em 10,75%, aproxime-se de 13% nos próximos meses), enquanto os países desenvolvidos ainda estão no início de seu processo de normalização monetária.

“Apesar da grande volatilidade por conta da questão geopolítica, que tem quadro bastante indefinido, existe um fluxo de investidores estrangeiros para o Brasil via bolsa e renda fixa, justamente pelo diferencial de juros. Isso é positivo para o comportamento da nossa moeda”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest. Ela não descarta, contudo, a possibilidade de que um agravamento das tensões lá fora possa comprometer em algum momento o apetite ao risco.

Declarações de dirigentes do Federal Reserve ao longo desta tarde esfriaram as apostas em uma alta inicial dos juros nos Estados Unidos em 0,50 ponto porcentual no encontro do BC americano em março. “Não há realmente nenhum tipo de argumento convincente de que você precisa ser realmente mais rápido desde o início”, disse John Willians, presidente do Fed de Nova York, acrescentando que a redução do balanço patrimonial da instituição – o que significa retirada dinheiro do sistema – deve ser um processo “estável e previsível”. O chefe da distrital de NY do Fed tem sempre poder de voto nas decisões de política monetária.

Economistas e gestores ouvidos pelo Broadcast nos últimos dias afirmam que o mercado já absorveu em grande parte a perspectiva de altas seguidas de juros nos EUA (de quatro a seis) neste ano, além do início da redução do balanço. Na rotação global de portfólios, o real se destaca graças ao juros elevados e ao apetite de investidores por ações de empresas de commodities, o que traz dinheiro para a Bolsa brasileira.

Para o sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o Fed deu sinais de que, apesar do tom hawkish”, não será “tão agressivo”, uma vez que não quer provocar perspectiva de queda expressiva da atividade e dos mercados. A taxa de juros americana – hoje entre 0% e 0,25% – deve atingir no máximo 2% neste ano, podendo chegar em 2,5% em 2023. “As taxas de juros no Estados Unidos em 2022 devem aumentar para uma faixa de até 1,0% e 1,25% no final do primeiro semestre, com prolongamento do ajuste para no máximo 2% no final do segundo semestre, que seria o juro neutro estimado”, afirma Velho.

Por aqui, o economista acredita que o atual nível do dólar já reflete a possibilidade de taxa Selic na casa de 12,5%. Embora a atenção neste momento esteja voltada à continuidade do fluxo de recursos estrangeiros e aos desdobramentos da questão envolvendo Rússia e Ucrânia, Velho acredita que, a partir da próxima semana, o mercado de voltar a prestar mais atenção a projetos envolvendo preços de combustíveis em andamento no Congresso, sobretudo as PEC no Senado.

“A racionalidade e a sazonalidade sugerem que esse movimento do dólar tem limites, com a perspectiva da deterioração fiscal que ocorrerá em 2022”, afirma Velho. “A agenda política e a perspectiva dos rumos da política econômica ainda não estão precificados pelo mercado”.

Em relação à crise geopolítica, funcionários do governo dos Estados Unidos hoje à tarde disseram esperar um ataque russo à Ucrânia nos próximos dias. Mais cedo, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou hoje que a Rússia continua a enviar reforços militares para a fronteira com a Ucrânia e busca criar um contexto de falsas provações como pretexto para uma invasão. Já o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, descreveu como alarmante o aumento de bombardeios no leste da Ucrânia – o que teria levado grupos separatistas pró-Rússia a promover evacuação de pessoas da região.

Outro dirigente do Fed defende ajustes nos juros, mas alerta para risco de recessão

O presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, defendeu um “reposicionamento” da política monetária nos Estados Unidos por conta da alta inflação local, cuja perspectiva ainda é incerta e pode requerer um ambiente financeiro mais restritivo. Ainda assim, o banqueiro central afirmou que é ideal que se evite um aperto excessivo “desnecessário”, a menos que o nível inflacionário fique incompatível com a meta de 2% ao ano no longo prazo.

“A fim de reduzir as pressões inflacionárias, políticas monetárias restritivas levaram repetidamente a perdas de emprego e recessões”, alertou Evans, receoso de que os EUA possam entrar em um ciclo econômico parecido ao que se seguiu ao forte aperto monetário do Fed na década de 1970. “Não há necessidade de adotar uma política monetária tão restritiva como em episódios anteriores”, avaliou, durante evento da Universidade de Chicago nesta sexta-feira.

Segundo Evans, a inflação implícita nos EUA parece “bem ancorada” na meta de longo prazo do BC, e o choque visto recentemente é impulsionado pela pandemia de covid-19, na sua visão.

Também presente no evento, o membro do Conselho do Fed Christopher Waller comemorou o fato de que o ritmo “aquecido” da economia dos EUA melhora as condições de trabalho para alguns grupos da população norte-americana.

Bolsas asiáticas sem direção única

As bolsas asiáticas fecharam sem direção única nesta sexta-feira, 18, enquanto investidores continuam monitorando os riscos das tensões entre Ucrânia e Rússia, que ontem voltaram a derrubar os mercados em Wall Street.

O índice acionário japonês Nikkei caiu 0,41% em Tóquio hoje, a 27.122,07 pontos, enquanto o Hang Seng teve queda de 1,88% em Hong Kong, a 24.327,71 pontos, e o Taiex recuou 0,20% em Taiwan, a 18.232,35 pontos.

Na China continental, por outro lado, as bolsas tiveram ganhos moderados, ajudadas por ações do setor financeiro: o Xangai Composto subiu 0,66%, a 3.490,76 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,42%, a 2.311,79 pontos.

Já o sul-coreano Kospi ficou praticamente estável em Seul, com alta marginal de 0,02%, a 2.744,52 pontos.

O cenário geopolítico segue comprometendo o apetite por risco na Ásia. Nos últimos dias, a Rússia disse que começou a retirar tropas de áreas fronteiriças com a Ucrânia, mas países ocidentais puseram a alegação em dúvida. Além disso, houve relatos sobre conflitos entre rebeldes separatistas apoiados por Moscou e forças do governo da Ucrânia no leste do país.

Ontem, as bolsas de Nova York amargaram fortes perdas em meio às tensões renovadas no Leste Europeu.

Na Oceania, a crise russo-ucraniana também pesou no mercado australiano, e o índice S&P/ASX 200 caiu 1,02% em Sydney, a 7.221,70 pontos. C

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Com informações da Dow Jones Newswires. Estadão Conteúdo e Agência Brasil

Marco Antônio Lopes

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