Em painel do 44º Congresso Brasileiro de Previdência Privada (CBPP) nesta quinta-feira (19), Andre Fadul, head da gestão de crédito privado do Banco Safra, destacou que o mercado de crédito teve uma aceleração nos últimos anos, mas que ainda tem espaço para crescer como investimento.
“O mercado de crédito, apesar de ser evoluído, ainda tem espaço grande para crescer. Teve uma aceleração ali por volta de 2016, 2017, mas ainda tem espaço para crescer como portfólio de investimento”, destaca Fadul, lembrando que o primeiro trimestre de 2023 foi importante para o mercado como um todo, sobretudo em relação à repercussão trazida pelo caso Americanas (AMER3).
“Quando falamos de fraude, é algo absurdo, se aplica ao mercado de maneira geral, não só crédito. O fundo de crédito privado, se você não tiver volatilidade, tem alguma coisa errada”, explica. Neste sentido, o especialista do Banco Safra pontuou que ‘eventos de crédito’, ou ‘pedagógicos’, como são chamados, são importantes para o setor revisar seus processos.
“Eu acho que nosso grande diferencial em termos de aprendizado foi rever a política de alocação. O crédito privado é algo muito simples. É controle e processo. Geralmente, os problemas ocorrem quando você tenta fugir do controle do processo. O principal do aprendizado é reforçar o processo, evitar repetir os erros e estar cada vez mais preparado para os próximos eventos”, acrescenta.
Perspectivas para o mercado de crédito
Na visão de Andre, do Safra, o mercado de crédito em geral tem muita oportunidade, é muito construtivo e exige uma grande responsabilidade para o gestor, que tem a finalidade de remunerar o capital do investidor da melhor forma possível, sem correr grandes riscos.
“Agora, temos um cenário construtivo no sentido que nós tivemos um mercado primário muito represado, tivemos suspensão das principais emissões, que agora estão voltando, mas que ainda não voltaram totalmente no perfil que a gente gosta”, reforça, acrescentando que a instituição também tem uma expertise relevante no mercado secundário.
“Foi o instrumento que a gente mais utilizou na primeira metade do ano, mas acho que agora a gente está em um momento muito oportuno para o mercado primário, pelo perfil de crédito que avaliamos internamente”.
Crédito privado deve se tornar alocação ‘obrigatória’, diz especialista
Para Fadul, a classe de ativos relacionados ao crédito privado deve se tornar uma alocação cada vez mais obrigatória dentro de qualquer portfólio, não só pelo espaço que ainda possui em termos de tese de investimento, como também pelo amadurecimento da estratégia como um todo.
“Assim, para 2024, independente dos outros mercados, mas olhando o mercado de crédito, vemos uma menor volatilidade, com maior acomodação em termos de passivo e expansão da parte de emissores no mercado de capitais”.
Sobre setores, o especialista destaca o de saneamento como um dos que permite um maior acesso ao mercado de capitais para algumas companhias. “A gente espera um crescimento do mercado de crédito cada vez maior, principalmente por causa das privatizações. Com isso, você vai melhorando seu mix de carteiras, conseguindo compor um carrego cada vez melhor e, com isso, vai tendo cada vez mais oportunidades”, diz. “Temos momentos para cada tese de investimento, em cada setor em especial. Você tem que ser muito seletivo. Não vale a pena ter radicalismo”, completa.
Previdência complementar é estratégica para o governo, diz diretor do Previc
Em painel do 44º Congresso Brasileiro de Previdência Privada (CBPP) na quarta-feira (18), Ricardo Pena, diretor-superintendente da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), disse que a orientação do ministro e do governo para a indústria de fundos fechados de previdência, também conhecido como fundos de pensão, é estratégica e precisa ser fortalecida.
Segundo levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), o segmento alcançou R$ 1,2 trilhão em ativos no primeiro semestre de 2023, crescimento de 6,28% comparado com o mesmo período de 2022.
“É preciso fortalecer a vocação previdenciária dos fundos de pensão. Temos que entender que o setor passou por uma crise reputacional, e agora, precisamos aprender a melhorar a governança”, disse.
No evento, Carlos Lupi, Ministro da Previdência Social, reafirmou que o comportamento do sistema da previdência social é de facilitar que os recursos cresçam e tenham cada vez mais capacidade de ampliar seus horizontes. “É ter a garantia do cidadão com um futuro melhor, com seus fundos resistentes em cada setor e o equilíbrio entre o trabalhador e o ganho para quem investe”, destaca.
Neste contexto, é fundamental que a relação governamental com as entidades privadas seja cada vez mais transparente, complementa Lupi. “No mercado moderno, o principal instrumento que mais favorece as decisões é a transparência, o equilíbrio”.
Para o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, um dos convidados do evento, a previdência complementar é importantíssima para a alavancagem da economia brasileira, com ativos na casa do trilhão de reais. “O setor deve ser incentivado com tratamento tributário adequado”, pontuou.
Mercado financeiro tem melhor perspectiva de retornos internacionais em quase 10 anos, diz estrategista do J.PMorgan
Em painel do 44º Congresso Brasileiro de Previdência Privada (CBPP), Gabriela Santos, estrategista de mercados globais da J.P. Morgan Asset Management, destacou que atualmente, depois de vários momentos de adversidade, o mercado possui a melhor perspectiva de retornos internacionais em quase uma década.
“Tivemos melhora nos preços de renda fixa global e mercados acionários. O ponto de partida hoje é, portanto, o melhor em termos de contexto internacional”, afirma, lembrando que recentemente os mercados globais passaram por momentos difíceis, com retornos negativos nas principais bolsas e também renda fixa, mas que esse período já passou.
“Olhando para a frente, o ponto de partida das rendas fixa e variável é favorável em termos de expectativa de longo prazo. A expectativa de retornos anualizados é de 7%”, detalha.
Para Gabriela, quando se trata de mercado financeiro, um dos grandes desafios do investidor é separar o que é barulho e o que é sinal. “Essa mensagem é absolutamente crítica. Hoje, com mídia social, eventos, ele acaba tendo muita informação a processar. É preciso, especialmente, pensar como investidor e separar como ser humano”, pontua.
Cenário de inflação mundial
Sobre a inflação mundial, Gabriela explicou que atualmente, o mundo vive um processo desinflacionário, apesar de alguns riscos ainda permanecerem no radar, como transição energética, conflitos geopolíticos e processo de menos globalização aumentando os custos, por exemplo.
“Não devemos voltar naquele mundo de ‘frio de inverno’, de inflação muito abaixo da meta, mas não achamos que ficaremos neste ‘calor de verão’. Temos um pouco de risco de inflação, mas não nos níveis exagerados que vivemos nos últimos anos”.
Ainda de acordo com a estrategista, na última década o mundo conviveu com juros extremamente baixos, mas agora os bancos centrais perceberam o risco de inflação e começaram a se mexer.
“Nos próximos anos, ainda teremos juros mais elevados. Mas, olhando bem mais para frente, a expectativa é de ter uma normalização de juros. Não esperamos voltar à era de juros zero ou negativo”, completou.
Gabriela destacou o cenário base nos Estados Unidos, por exemplo, classificando-o como de ‘pouso suave’ no momento. “Mesmo com uma desaceleração da economia, é um cenário mais positivo, com melhora perspectiva de lucro das companhias”, pontua.
Partindo de uma perspectiva otimista, Gabriela acredita que daqui para a frente é provável que o mundo veja histórias positivas de crescimento, mas que pode estar sujeito a mudanças.
“Vemos muita oportunidade no mercado em renda fixa, ações, em segmentos que não temos muita exposição no Brasil, como tecnologia. Só que nunca vamos acertar o momento perfeito. Nunca viremos aqui falar que ‘este ano está tudo óbvio’”, encerra.
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