Méliuz (CASH3): Diretor de RI revela estratégia para 2022
Desde que estreou na bolsa brasileira, em novembro de 2020, as ações do Méliuz (CASH3) agradaram os investidores e figuram entre os maiores volumes de negociação entre as empresas listadas na B3 (B3SA3).
Nos últimos três meses, o volume médio de negociações do Méliuz foi de R$ 37,062 milhões. Para efeito comparativo, o banco Inter (BIDI4), que até pouco tempo atrás também era queridinho dos investidores, movimentou R$ 5,474 milhões.
Mais próximo do Méliuz está o volume financeiro de negociações das ações da gigante Vale (VALE3), por exemplo, que soma R$ 25,967 milhões de julho a setembro.
Além do elevado volume, outra característica tem sido a volatilidade nas ações CASH3. De julho a setembro, nos dias de glória, os papéis chegaram a subir 15%, enquanto nos dias de luta o extremo oposto também foi verdadeiro: -12%.
Essas movimentações ainda foram agravadas depois do follow-on e do desdobramento de ações, que colocaram mais liquidez na balança.
No final dessa conta, as ações do Méliuz já acumulam valorização de 270% desde que ingressou na bolsa de valores.
Em entrevista exclusiva ao SUNO Notícias, o diretor de RI da empresa, Luciano Valle, ressalta que por ser uma empresa de tecnologia, a tese de crescimento do Méliuz é baseada em longo prazo, e não nas oscilações diárias do mercado financeiro.
“Discussão de preço é diferente de falar sobre o valor da companhia. E esse valor hoje é maior do que o refletido nas oscilações diárias”, diz o diretor.
Ao final de setembro, o Méliuz somava 20,8 milhões de contas abertas, cerca de 9,5 milhões de usuários ativos e tinha um ingresso de 30 mil contas novas por dia útil.
Para muitos, a empresa de cashback – programa de recompensas em que o cliente recebe um percentual de dinheiro de volta ao realizar compras em estabelecimentos parceiros -, é nova.
Mas na verdade, o Méliuz já completou 10 anos e trabalha agora para uma grande expansão de serviços.
“Pense no Méliuz não como uma empresa de cashback, porque isso é querer tornar muito simples algo que é mais complexo. Somos uma empresa que quer estar presente em toda a trajetória de compra do cliente”, diz Valle.
Um novo Méliuz em 2022
Para alcançar o objetivo de estar presente em toda a experiência de compra dos clientes, em maio, o Méliuz adquiriu a Acesso Bank, por R$ 324 milhões.
Por meio da aquisição, a empresa de tecnologia pretende aumentar os serviços financeiros para seus clientes, além de melhorar a experiência do usuário dentro do aplicativo.
“Queremos atender, além do marketplace, toda a necessidade financeira deles e tornar essa jornada de compras mais fluida e interativa.”
As mudanças estão previstas para janeiro de 2022, quando a empresa irá lançar um novo aplicativo, que irá marcar o que o diretor de RI chama de “próxima fase do Méliuz”.
Esse novo app do Méliuz vai trazer uma experiência próxima à de uma conta digital.
Na prática, isso significa que o Méliuz vai ter uma conta remunerada, com permissão para débito, transações com Pix, depósitos financeiros e um cartão próprio nas modalidades de crédito, débito e pré-pago. Tudo 100% dentro da plataforma do novo aplicativo.
Antes, a conta do Méliuz era única e exclusiva para receber o cashback de compras com parceiros da empresa, com o cliente tendo que resgatar o valor para o seu banco de uso diário.
“O app vai transformar a forma como a gente serve os nossos clientes. Vai melhorar a experiência que a gente entrega hoje, incorporando a parte de serviços financeiros”, diz Valle.
O diretor de RI explica que grande parte da infraestrutura que vai permitir essas mudanças já está pronta e faz parte dos serviços da Acesso Bank. O Méliuz está trabalhando efetivamente na integração entre as plataformas.
De olho na experiência do usuário
Além dos serviços financeiros, a experiência de compra também vai mudar para os clientes. Atualmente, para finalizar os pedidos, o usuário é redirecionado para o site da loja parceira do Méliuz. No próximo app, tudo deve ser feito dentro da plataforma da empresa.
De acordo com o diretor de RI, esse novo aplicativo vai rodar em uma plataforma tecnológica muito melhor, dando flexibilidade para a empresa lançar novos produtos.
Entre julho e setembro, o Méliuz teve o melhor resultado trimestral histórico em volume bruto de mercadorias vendidas GMV: atingiu R$ 1,4 bilhão no consolidado do período. O que representa um crescimento de 126% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A expectativa da empresa de tecnologia é melhorar o engajamento da base clientes com as mudanças e, consequentemente, atrair mais parceiros para aumentar o portfólio de produtos.
Vale destacar que, todos os serviços que já são oferecidos para o Méliuz vão continuar. Caso da nota fiscal, recarga de celular e gift cards. Também está na mira da empresa produtos como seguros e oferta de crédito. Mas Valle explica que isso ainda está em análise e vai ficar para um futuro mais à frente.
“É uma mudança grande que estamos pensando para janeiro e é realmente transformacional. É necessário que a gente consiga ir dessa forma gradual para ganhar ritmo e continuar sempre entregando valor para todos os envolvidos na cadeia de negócios do Méliuz”, diz o diretor de RI.
Parte dessas mudanças já está pronta e apenas aguardando a hora de estreia. A escolha de janeiro de 2022 foi estratégica para a empresa, que deseja manter o seu aplicativo estável para a Black Friday e as festas de final de ano, temporada importante para empresas que trabalham com o varejo.
M&A na estratégia de crescimento do Méliuz
Grande parte dessas mudanças estão ancoradas na infraestrutura que o Acesso Bank acrescentou ao Méliuz, indicando a importância que as fusões e aquisições (M&A) podem ter para a empresa de tecnologia.
Além do Acesso Bank, outras aquisições foram realizadas pelo Méliuz após o IPO:
- Promobit, por R$ 13 milhões – comunidade on-line com mais de 1 milhão de pessoas que compartilham descontos e recomendam produtos;
- Melhor Plano, por R$ 10 milhões – site de comparação de preços;
- Picodi, por R$ 120 milhões – plataforma polonesa de cupom de descontos;
- Alter, por R$ 26 milhões – banco digital que paga cashback em bitcoin.
Segundo o diretor de RI, cada empresa soma à Méliuz infraestrutura e know-how na sua área de atuação. Todos os serviços devem ser incorporados à empresa de tecnologia de alguma forma.
Sobre a possibilidade de cashback em bitcoin, específica da Alter Pagamentos, Valle não responde diretamente, diz para esperar 2022, porque os serviços financeiros da Acesso Bank são só “a primeira onda”.
Além disso, ele destaca que a agenda de aquisições é constante, com ritmos diferentes, mas constante. Em relatório, analistas da XP afirmam que o Méliuz tem olhado para aquisições próximas de US$ 1 bilhão, mas sem referência sobre possíveis empresas.
O que esperar do futuro
Após a divulgação dos resultados do segundo trimestre, o Méliuz sofreu uma forte desvalorização na bolsa de valores, movimento que se estende, em partes, até hoje. Em relatórios de bancos de investimentos posteriores à divulgação, analistas destacaram que esperavam números melhores.
O desapontamento não foi exclusividade do Méliuz. Outra empresas também entregaram menos do que era esperado pelos investidores. Dentro do cenário macroecônomico do país, alguns setores ainda tem dificuldade de se recuperar, é o caso do segmento de varejo.
Para Luciano Valle, os resultados apresentados desde o IPO mostram consistência de crescimento dentro de todas as bases da empresa: abertura de contas, clientes ativos, volume bruto de vendas, volume total de pagamentos.
“Os números mostram que o Méliuz consegue gerar valor na cadeia de negócios e com a nova fase essa capacidade vai ser anda maior”, diz animado o diretor.
Nesta quarta-feira (06), a empresa de tecnologia entregou suas prévias operacionais e mostrou avanço em relação aos números do segundo trimestre. Mas os dados financeiros estão previstos apenas para novembro, com a divulgação do balanço. Até lá, os números são do 2T21.
Ao final de julho, a receita líquida total do Méliuz somou R$ 54,5 milhões, em 2021, mais que o dobro do mesmo período de 2020, quando registraram R$ 24,8 milhões de receita.
O volume de vendas entre março e junho deste ano somou R$ 1,1 bilhão, sendo R$ 905 milhões referentes ao Brasil e R$ 239 milhões da operação internacional. O valor é 128% superior ao do segundo trimestre de 2020, quando somou R$ 515 milhões.
Em relatório após a divulgação do balanço, em agosto, o BTG Pactual (BPAC11) destacou que o crescimento da companhia não será rápido, mas afirmou que a perspectiva é promissora e que a empresa está no caminho certo.
As aquisições são o ponto-chave segundo banco, pois elas representam “oportunidade para o Méliuz começar a oferecer outros produtos, como contas correntes, seguros e investimentos, para citar alguns, ajudando a aumentar o envolvimento do cliente e a aderência ao seu ecossistema”, diz em relatório.
Em vista do que apresentou Luciano Valle, parece que o Méliuz segue a cartilha do BTG. Para os próximos balanços, o diretor de RI garante que terá a mesma consistência entregue até hoje e brinca: “paciência, que o relatório sai”.