Marisa (AMAR3) deve recorrer a capital privado de R$ 550 milhões para estabilizar finanças, diz jornal
A crise financeira da Marisa (AMAR3), que se arrasta desde o primeiro semestre do ano passado, leva a varejista de roupas a recorrer a um aumento de capital privado de aproximadamente R$ 550 milhões para estabilizar suas finanças, segundo informações publicadas pelo jornal Valor Econômico nesta segunda-feira (13).
Isso significa que a empresa abandonará seus planos de realizar uma oferta subsequente de ações (follow-on) logo após ter iniciado conversas com bancos para essa finalidade. De acordo com informações obtidas de fontes próximas às negociações, espera-se que a família Goldfarb, que detém o controle da Marisa, seja a principal financiadora desse aumento de capital.
Parte significativa desses recursos, conforme o Valor, será direcionada ao pagamento de notas promissórias emitidas pela empresa, que, aparentemente, foram adquiridas pela própria família para garantir a continuidade das operações.
Além das dificuldades impostas por um mercado volátil, que tem dificultado as captações de recursos, outro fator que contribuiu para a decisão da empresa, segundo o jornal, foi o parecer dos auditores em seu último balanço, conforme revelou uma fonte próxima à companhia. A Marisa (AMAR3) já agendou uma assembleia geral para ratificar o aumento de capital, prevista para o início de junho.
A empresa havia contratado o BTG Pactual e o Itaú BBA para explorar alternativas de uma oferta pública subsequente exclusivamente primária em 18 de março. No entanto, diante da falta de demanda e dos desafios apresentados pelo parecer dos auditores, a empresa teve que reformular seus planos, conforme relatou uma fonte familiarizada com as negociações ao Valor.
Marisa em crise: entenda o que levou a varejista a fechar lojas e acumular dívida milionária
A trajetória da Marisa Lojas, uma das principais redes de moda feminina e lingerie do Brasil, é marcada por desafios financeiros que começaram no início dos anos 2000. Voltada principalmente para a classe média, com mais da metade de suas consumidoras situadas na faixa de renda entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, a empresa adotou uma estratégia de margens apertadas para manter seus preços acessíveis, porém deixou de lado a inovação, segundo analistas financeiros.
Essa abordagem resultou em uma queda na qualidade dos produtos e uma perda de poder aquisitivo por parte de sua base de consumidores. As dificuldades da Marisa começaram a se acumular, mas somente em 2016 a família Goldfarb, fundadora da rede, cedeu a gestão da empresa para um executivo do mercado.
As recessões de 2015 e 2016, somadas à pandemia de Covid-19, impactaram severamente as finanças do público em geral e limitaram o crescimento das empresas varejistas, incluindo a Marisa. Em 2020, a empresa registrou um prejuízo líquido de mais de R$ 400 milhões, seguido por perdas adicionais de mais de R$ 70 milhões em 2021 e mais de R$ 200 milhões em 2022.
Esses resultados negativos e a falta de perspectiva para uma reviravolta levaram as ações da Marisa a despencarem de cerca de R$ 27 em 2013 para menos de R$ 1,49 nesta segunda-feira (13)
Em uma tentativa de reverter sua situação financeira e recuperar sua capacidade de geração de caixa, a Marisa anunciou fechamento de lojas e a renúncia de cinco executivos de alto escalão, contratação de consultores externos, emissões de debêntures e venda de direitos creditórios. Além disso, a empresa tem buscado desde 2023 renegociar prazos e dívidas com fornecedores, credores e proprietários de imóveis, reduzir seus estoques e cortar despesas operacionais.
Este ano, a empresa diz que está focada em retomar o crescimento das vendas e aprimorar sua eficiência operacional, embora reconheça as dificuldades. Em seu relatório de gestão, a empresa admite não ter alcançado os resultados operacionais e de estrutura de capital desejados ano passado.
Houve uma redução no fluxo de caixa gerado pelas operações, e as atividades de financiamento resultaram em menos recursos provenientes de empréstimos em 2023 em comparação com 2022, o que tem levado os controladores da Marisa a buscar outras fontes de capital.