Marfrig (MRFG3) pagou R$ 3,2 bilhões para ter 24% da BRF (BRFS3); Veja os próximos passos
A operação que mexeu com o mercado na sexta-feira (21/5) movimentou cerca R$ 3,2 bilhões com a troca de mãos de ações da BRF (BRFS3) de vendedores como a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, para a Marfrig (MRFG3).
A Marfrig informou na noite de ontem que adquiriu 24,23% de participação na BRF, em um movimento que está sendo interpretado no mercado como uma tentativa de fusão da companhia de proteína animal de Marcos Molina com sua concorrente.
O Estadão/Broadcast apurou que estiveram na ponta vendedora a Previ, que tem uma fatia de 9,16% da dona da Sadia, e a Kapitalo Investimentos, dona de 5%, além de outros acionistas. A operação foi feita por meio de leilão em Bolsa e teria movimentado US$ 600 milhões (cerca de R$ 3,2 bilhões), com recursos diretos do caixa que a companhia tinha disponível no trimestre.
Por enquanto, as empresas devem continuar suas atuações independentes, com a compra tendo sido apenas uma oportunidade para a Marfrig aumentar a sua participação.
Rumores sobre uma possível fusão entre as duas empresas de alimentos vêm movimentando o mercado desde quinta-feira. Ontem, as ações da BRF registraram alta de mais de 16%, fechando cotadas a R$ 26,93. Os papéis da Marfrig tiveram queda de 5,2% no dia, para R$ 18,05.
A compra das ações na Bolsa deve ser apenas o primeiro passo da ofensiva da Marfrig sobre a BRF. Esse movimento, de acordo com fontes de mercado, deve ser consolidado no longo prazo, com o BTG Pactual e o JPMorgan como mediadores financeiros.
O segundo passo da estratégia seria aguardar a próxima Assembleia-Geral de Acionistas (AGE) da BRF, em abril de 2022, para tentar destituir o conselho de administração, indicando nomes mais alinhados com a Marfrig. Esse seria o momento para engatar uma fusão mais abrangente.
Por isso, ao comprar os papéis em Bolsa, a estratégia da empresa de Molina foi mirar os fundos de pensão da Petrobras (Petros) e do Banco do Brasil (Previ), que foram contra a proposta de combinação feita em 2019 pela empresa.
Na época, as duas companhias ensaiaram uma união, mas, 40 dias após o anúncio do acordo, voltaram atrás por não terem conseguido chegar a um consenso sobre temas de governança corporativa, conforme comunicado divulgado na ocasião. Fontes afirmaram, na época, que acreditavam que, em algum momento, uma tentativa de parceria seria retomada – o que agora se confirmou.
“Com uma participação de 10% na BRF já tornaria possível propor mudanças no comando da empresa, mas, para que isso resulte em fusão, ainda haverá um caminho”, disse uma fonte que preferiu não se identificar. Ela lembra que um movimento parecido foi conduzido pela CSN, que adquiriu há dez anos 20% da Usiminas. “A diferença é que a Usiminas tinha no controle um bloco de acionistas, e a BRF tem o controle pulverizado, eventualmente dificultando os planos”, acrescenta. Entre os sócios da dona das marcas Sadia e Perdigão, está a Península, da família de Abilio Diniz.
A Marfrig, que se fortaleceu nos últimos anos, ganha relevância no varejo brasileiro como sócia minoritária da BRF. A companhia, que tem hoje a maior parte das receitas em dólar, mostrou um forte balanço no primeiro trimestre, com lucro de R$ 279 milhões, revertendo prejuízo no mesmo período do ano passado. A empresa chegou a ser dona da Seara, mas, por dificuldades financeiras à época, repassou a marca à rival JBS.
Do ponto de vista de mercado, os negócios são vistos como complementares, uma vez que a Marfrig é mais forte em bovinos, enquanto a BRF tem atuação forte nos segmentos de suínos e de aves. “A aquisição da participação ora mencionada visa a diversificar os investimentos da Marfrig em um segmento que possui complementaridades com seu setor de atuação”, disse a BRF, em comunicado. (Colaborou Fernando Scheller)
Com Estadão Conteúdo