Os 5 maiores riscos para as Bolsas de Valores globais

As Bolsas de Valores do mundo inteiro iniciaram a terceira semana de setembro em forte baixa. A última segunda-feira (21) foi um dia de pregões que fecharam todos no vermelho. O Ibovespa perdeu 1,32%, terminando com menos de 98 mil pontos.

Uma queda que continua desde final de julho, quando o Ibovespa estava por volta de 105 mil pontos. Mas desde então, o principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) caiu semana após semana. Um comportamento parecido com o de outras Bolsas de Valores do mundo inteiro, que instalou em muitos investidores o temor que o segundo “grande reajuste” esteja próximo.

Nos Estados Unidos, o Dow Jones chegou a cair 1,84%, o S&P 500 caiu 1,16% e o Nasdaq perdeu 0,13%.

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Na Europa o DAX 30 da Bolsa de Frankfurt chegou a perder 3,2%, o CAC 40 de Paris o 3,22%, o FTSE 100 de Londres o 3,34% e o FTSE MIB de Milão o 3,3%.

A onda de vendas interessou em particular ações de bancos e empresas de turismo. Um momento urso que a mídia e os especialistas atribuíram ao medo de possíveis novos lockdowns.

O medo provocado pelos novos confinamentos que estão ocorrendo em amplas regiões na França, Espanha ou Grã-Bretanha pode ter sido o gatilho contingente.

No entanto, existem razões mais profundas que pesam sobre o andamento dos indicadores das Bolsas de Valores internacionais, que poderiam delinear cinco grandes riscos para os mercados de capitais do mundo inteiro.

Primeiro risco: liquidez não cresce e Bolsas de Valores sofrem

O primeiro grande risco é ligado ao novo posicionamento do Federal Reserve (Fed), que se colocou em “stand by”, não aumentando a liquidez no sistema nos últimos três meses.

A base monetária M2 dos EUA atingiu no início de setembro o nível de US$ 18,5 trilhões. Em fevereiro, antes do começo dos planos de contingência anti-coronavírus, esse indicador estava por volta dos US$ 15 trilhões.

Mas, após esse aumento no começo do mês, a massa monetária não se movimentou mais. Um sinal claro de que o Fed simplesmente decidiu parar de injetar liquidez no sistema.

A liquidez global está no momento em volta dos US$ 90 trilhões. Um valor enorme, mas ainda não suficiente para os investidores, que estão cada vez mais drogados pelos contínuos aportes de dinheiro novo. E que reagem muito mal a qualquer mínimo sinal de redução.

O próprio raciocínio de muitos operadores mudou. Já não é mais ligado a seleção de ativos com base na relação risco/retorno. A compra de ações se tornou uma reação ao excesso de liquidez e as taxas de juros baixas.

Quando esse excesso de liquidez parece desaparecer, e quando o coronavírus ameaça voltar, inicia-se o mecanismo de “risk off”. E as Bolsas de Valores desabam.

Segundo risco: bloqueio do Congresso dos EUA

Além da política monetária, o que deixa os investidores preocupados é também a política fiscal. Os pacotes pesados de estímulos econômicos que os governos dos EUA e da União Europeia (UE) colocaram na mesa poderiam não ser suficientes para a retomada do Produto Interno Bruto (PIB) global.

Além disso, o conflito eleitoral entre republicanos e democratas para as eleições desse ano provocou uma redução da velocidade no processo de aprovação do novo estímulo fiscal recentemente anunciado pelo presidente Donald Trump.

Algo considerado pelos operadores das Bolsas de Valores do mundo inteiro como um grande problema para a recuperação econômica.

Terceiro risco: recuperação econômica mais lenta

Após alguns meses torcendo para que a retomada da economia ocorresse em forma de “V”, ou seja uma forte queda seguida por uma forte retomada, muitos especialistas agora estão voltando à a hipótese da chamada “recuperação em W”.

Uma situação em que, após uma primeira recuperação do PIB, ocorre uma outra queda, e então mais uma retomada final. Os especialistas estão considerando a probabilidade de um novo surto de coronavírus, que poderia levar a novos lockdowns. Como está já acontecendo em Israel.

Entretanto, existe a possibilidade de uma economia mundial que não volte a crescer por muito tempo. Ou seja uma economia que continuaria em “L”.

Ou que, no máximo, passe a ser em forma de “Swoosh” da marca Nike. Ou seja uma queda seguida de uma recuperação, mas com crescimento lento e muito tempo para voltar ao patamar pré-crise.

Alguns investidores já estão se posicionando optando para essa última abordagem.

Todavia, além das várias hipóteses, a mensagem continua a mesma: a dinâmica do vírus continuará ditando os ritmos da economia.

Além disso, todo o mundo parece ter se apegado ao “Santo Graal” da vacina. Mesmo se a hipótese de ter o imunizante contra a covid-19 antes de 2021 é algo muito otimista.

Uma vacina que tem bases de avaliação suficientes para garantir eficácia e segurança leva tempo. E até lá, a economia (e os mercados) vão sofrer.

Quarto risco: as eleições presidenciais nos EUA

A quarta incógnita para as Bolsas de Valores é a votação no início de novembro para decidir quem será o inquilino da Casa Branca pelos próximos quatro anos.

Em geral, os investidores previam que o presidente Trump fosse confirmado. O republicano trouxe fortes cortes nos impostos corporativos e desregulamentação dos mercados (por exemplo, com a remoção parcial da regra Volcker).

O candidato democrata Joe Biden, por outro lado, é visto como aquele que deve, por um lado, aumentar os impostos para tentar uma redistribuição da riqueza. E, por outro, dar um aperto no mundo das finanças.

E sua vitória começa a preocupar muita gente em Wall Street.

Quinto risco: contexto geopolítico

Além disso, as Bolsas de Valores sofrem pelo risco geopolítico da escalada das tensões a China. A proibição de baixar os aplicativos TikTok e WeChat é apenas a ponta do iceberg.

A guerra comercial iniciada em 2017 não tem previsão para acabar, e as negociações entre as duas maiores economias do mundo ainda parece em fase de paralisia.

E as tensões no Golfo Pérsico também não deixam ninguém tranquilo.

O confronto entre Estados Unidos e Irã, que quase levou a um conflito no começo do ano, foi colocado de lado apenas por causa da pandemia de coronavírus.

Entretanto, as causas profundas que poderiam desencadear uma guerra em uma região rica de petróleo ainda estão todas de pé.

E a vontade de mostrar uma atitude dura contra Teerã por parte de Trump para obter ganhos nas eleições de novembro poderia piorar as coisas.

Não por acaso, a Organização das Nações Unidas (ONU) indicou que não apoiará a nova imposição de sanções contra o Irã, como pedem os Estados Unidos, até que recebam luz verde do Conselho de Segurança.

Risco brasileiro: a incerteza fiscal

No caso do Brasil, muita gente está preocupada com a sustentabilidade das contas públicas. O que afeta diretamente os investidores do mercado de capitais.

As enormes despesas que o governo federal teve que enfrentar para tentar amenizar os efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus estão deixando a dívida pública em um nível preocupante.

Somente o auxílio emergencial (conhecido como coronavoucher) custa 5% do PIB brasileiro. O Bolsa Família, por sua vez, custava apenas 0,5% do PIB.

Juntando a isso a forte redução das receitas fiscais por causa da desaceleração da economia, e as limitações legais do orçamento público, com mais de 95% de seu total representado por despesas obrigatórias, a conta poderia não fechar.

E nesse caso o Ibovespa poderia sofrer ainda mais do que as Bolsas de Valores do resto do mundo. A fuga dos investidores estrangeiros do Brasil registrada nos últimos meses poderia ser um sinal desse risco brasileiro.

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Carlo Cauti

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