Magnetis quer suprir ineficiência do private banking com clientes de alta renda
Conhecida pelo uso intensivo de tecnologia, a Magnetis, gestora de investimentos digital fundada há seis anos, agora quer dar um passo à frente e sanar mais uma dor do mercado.
A gestora enxergou no mercado uma deficiência de atendimento aos investidores de alta renda. Aqueles que podem investir mais de R$ 1 milhão poderão aplicar no segmento Infinity da Magentis, produto que aloca recursos em fundos consagrados, como o lendário Dynamo Cougar Ações.
A iniciativa pode parecer estar na contramão do mercado, já que cada vez mais a distinção entre grandes e pequenos investidores é desfeita. Contudo, a gestora entende que o private banking no Brasil ainda está encharcado por conflitos de interesse e produtos pouco vantajosos (para os clientes).
A ideia do Infinity é unir o melhor do wealth management tradicional com o uso intensivo de tecnologia, mas ainda proporcionando um atendimento personalizado — e humano — aos investidores de alta renda.
Leia os principais trechos da entrevista exclusiva do Suno Notícias com Luciano Tavares, fundador e CEO da Magnetis.
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Como a Magnetis se identifica no mercado hoje e de que forma isso conversa com a proposta do Infinity?
A Magnetis é uma gestora de investimentos digital. Em suma, ela segue os parâmetros de wealth management, mas utiliza muita tecnologia para ajudar tanto na alocação de recursos como na experiência do cliente.
Essa foi a proposta da Magnetis no começo de tudo. Desde o início nos baseamos nesses pilares: modelo de gestão das carteiras, personalização de carteiras, modelo de remuneração fee base (de forma transparente, sem comissão ou rebates), e experiência digital muito fácil e acessível.
Esse é o nosso DNA formado em 2015. A novidade é que agora criamos um serviço diferenciado para clientes de alta renda, com mais de R$ 1 milhão em investimentos, para o Infinity.
Esses clientes têm acesso a tudo o que oferecemos, inclusive os benefícios de tecnologia, mas também a alguns produtos exclusivos e um atendimento diferenciado, feito por consultores profissionais. Em contato conosco, esses clientes também podem criar um planejamento previdenciário, sucessório, tributário, entre outros.
Qual é o racional para a criação de um fundo exclusivo para clientes com alta renda, se a tendência do mercado tem sido a contrária?
Até pouco tempo atrás, tínhamos a percepção de que os clientes de alta renda estavam bem servidos. Eles já têm acesso a bons produtos, são assediados por private bankers, ou operações exclusivas de corretoras, e por aí vai.
No entanto, nós já atendíamos esses clientes de alta renda e cada vez mais percebíamos que esse tipo de consumidor também sofria dos mesmo problemas que os menores. Claro, eles eram melhor atendidos, com uma proximidade maior, mas o conflito de interesses sempre esteve presente de forma muito aguda.
Então conseguimos ver que as pessoas com mais renda, que estão em uma situação financeira mais confortável, ainda estão investindo de uma forma ineficiente. Eles não estão livres dos produtos ruins que tentam empurrar ao mercado em geral, como COE ou notas estruturadas no exterior.
Muitas vezes, inclusive, é difícil identificar esses problemas com clientes de alta renda. No mercado “comum”, já sabemos que um título de capitalização é ruim, mas para para analisar um fundo exclusivo ou um ativo offshore é mais difícil.
A dinâmica sempre é querer vender um produto com taxas altas, onde o banco e o assessor ganham dinheiro, mas o cliente não necessariamente.
Em suma, entendemos que os clientes private não estão bem servidos pelos bancos e corretoras, ao contrário do que o mercado pensa. Com base nisso, quisemos criar um modelo de wealth management tradicional, com atendimento personalizado, mas banhado no forte uso de tecnologia que temos hoje.
E como isso é realizado na prática?
Usamos uma tecnologia forte em gestão, então fazemos toda a alocação de carteiras por meio de algoritmos, que personalizam ainda mais os investimentos aos objetivos dos clientes em si.
Também apostamos em tecnologia do ponto de vista do cliente. Proporcionamos a oportunidade do cliente abrir um aplicativo e verificar suas aplicações de forma otimizada e dinâmica muito facilmente. Nem todos os private bankers ou gestoras podem oferecer isso.
O pulo do gato é unir o que tem de melhor do que existe de melhor no mundo tradicional de wealth à tecnologia moderna, que está sujeita a constantes melhorias. É como se fosse uma wealth management 2.0. Esse é o diferencial do Infinity frente a outras alternativas do mercado.
Vocês chegaram a fazer algum backtest com as posições que prometem montar no fundo?
Sim, fizemos. Toda a nossa metodologia de investimento é quantitativa, então fazemos backtests intensivos. Fazemos os testes no máximo de tempo possível para as carteiras.
Logicamente depende do tempo de atividade daquele ativo em questão, mas procuramos fazer sempre de pelo menos 10, 15 anos. No segmento Infitiny utilizamos a mesma metodologia que a Magnetis já usa desde 2015.
Inclusive, em 2019, fechamos uma parceria com a Julius Baer Family Office, a antiga GPS. Eles fizeram uma rodada de investimento em nós, são acionistas. Mas o negócio que fechamos nos proporciona ter acesso a alguns dos produtos que eles oferecem aos clientes.
São produtos que estão há mais de 20 anos na estrada. É importante fazermos os backtests, mas igualmente importante ter o histórico real do desempenho daqueles ativos e dos gestores.
Podemos falar com muita tranquilidade que o track record é muito positivo nas nossas carteiras. A carteira comum da Magnetis já tem um histórico muito positivo, com índice sharp acima de 1. As carteiras da Infinity podem entregar ainda mais retorno, segundo nossas projeções.
Como a Magnetis enxerga a chegada da concorrência no Brasil? Qual é o diferencial da empresa?
Eu gosto muito da ideia, que já ficou amplamente popularizada, de que o sistema passou por ciclos. No mundo dos investimentos, já tivemos a liderança dos bancos, pautados por plataformas fechadas; aí chegaram as corretoras, com modelos mais abertos ajudados pelos agentes autônomos. Até 10 anos atrás, as corretoras quase não existiam.
Agora, algumas outras empresas, como a Magnetis, vêm com um modelo mais moderno. Elas são baseadas no uso intensivo de tecnologia e alinhamento com o cliente, com taxas transparentes e sem a existência de comissões. Chamam essa etapa de 3.0.
Vemos com muito bons olhos o surgimento de empresas como nós, já que elas estão levantando a bandeira do alinhamento de interesses e melhoria de ferramentas para os investimentos dos clientes.
O nosso diferencial sempre foi uma gestão altamente sofisticada, focada em melhorar a experiência para qualquer pessoa. O nosso modelo é primeiro entender o cliente e montar para ele, com base em algoritmos, uma carteira altamente personalizada.
Porém, algumas companhias já estão nesse modelo dito 3.0, mas não têm essa preocupação de gerir as carteiras de forma discricionária.
O uso de tecnologia no Brasil ainda é pequeno. Por que? Comodidade dos grandes players?
Para mim, claramente é uma questão de tempo. Acredito que o mercado financeiro brasileiro evoluiu muito nos últimos cinco anos. Até pouco tempo atrás, a taxa de juros estava em 14,25%, a gente ainda tinha uma presença massiva dos grandes bancos de bolso cheio com a poupança dos clientes.
E de lá para cá, muita coisa mudou. Chegaram players independentes importantes que mudaram essa dinâmica. Os ETFs também passaram a chegar com força por aqui. Dados públicos mostram isso, como o crescimento de CPFs na Bolsa. É uma tendência muito forte, mas que leva tempo.
Vejo que de forma geral estamos indo para o caminho certo. Já conseguimos ter um modelo fiduciário e de gestão inspirado em dados quantitativos e objetivos.
A partir disso, também depende das pessoas se aproximarem do modelo para conhecerem melhor. Mas vejo como inevitável. Essa ascensão já aconteceu em vários lugares do mundo e vai acontecer no Brasil. Não sei quanto vai demorar, mas vai chegar.
Quais são os próximos projetos? Qual é a dor que a Magnetis pode sanar?
Para olharmos para o futuro, é preciso olhar para o passado. Qual foi a primeira etapa do modelo de gestão digitalizada? Foi automatizar e otimizar o processo de alocação de recursos. Isso estamos fazendo bem desde sempre. Está bem dominado, tanto aqui como lá fora já existe essa expertise.
O desafio agora, além da criação de uma carteira, é o planejamento pessoal de forma profissional. Os clientes nos pedem ajuda para aquisições relevantes, como de residência ou carro. “Qual é a melhor forma de atingir esses objetivos?”
São questões que todos já passaram ou vão passar, e que vão muito além da alocação de ativos financeiros. A pergunta é como complementar isso ao nosso modelo de gestão e a escala disso.
Em muitos casos, a tecnologia vem para melhorar. Rodar carteiras, testes, informações quantitativas, isso conseguimos fazer. Mas a parte humana é muito difícil de replicar.
Já estamos fazendo isso no Infinity, mas o desafio é levar esse diferencial para os demais clientes, sempre com a assinatura de personalização e intensa tecnologia da Magnetis. Essa será a próxima etapa.