As companhias varejistas do Ibovespa – como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) – tiveram um dia difícil, após divulgação do índice de inflação para março, o maior do mês desde 1994. As ações das varejistas caíram desde o início do pregão e fecharam em forte queda — entre 6,5% e quase 8%.
Segundo o IPCA, os preços subiram em média 1,62% em março e acumulam alta de 11,30% nos últimos 12 meses, uma aceleração em relação ao acumulado de dezembro de 2021, em 10,06%.
Especialistas apontam que o avanço de preços é prejudicial, direta ou indiretamente, para o desempenho das empresas de varejo.
Além dos preços altos desencorajarem o consumo, a aceleração do ritmo inflacionário deve disparar uma resposta do Banco Central, neste caso sob a forma de aumento da taxa básica de juros, que aumenta ainda mais os incentivos para redução do consumo e de investimentos.
Em reação ao novo cenário, as ações das principais empresas do setor, como o Magazine Luiza, acumulam perdas superiores a 5%.
Para Fabiano Braun, sócio da Matriz Capital, a inflação subiu acima do esperado e surpreendeu o mercado. “O que deve gerar uma maior pressão para o aumento da taxa de juros. Atualmente, a Selic está em 11,75% e o último boletim Focus previa os juros fechando [o ano] em 13% a.a.”, afirmou.
De acordo com o especialista, “o setor de varejo já está sofrendo bastante com a taxa de juros alta. E a perspectiva de um aumento ainda maior pressiona a cotação das principais ações de varejo na Bolsa”.
“Hoje a queda é generalizada no segmento. Com os juros altos, a população destina seus recursos para itens básicos, deixando de lado, no momento, outros produtos”, completou.
Segundo o levantamento do IBGE, a maior alta foi constatada no setor de transportes, de 3,02% em março, que sofre influência da alta dos combustíveis. Para as empresas varejistas, o aumento de preço da gasolina e do diesel devem encarecer o frete e reduzir a atratividade das compras, tanto online, quanto presenciais.
Na sequência estão o setor de alimentação e bebidas, alta de 2,42% em março, e de vestuário, 1,82%.
Para o presidente do Magazine Luiza, Frederico Trajano, em teleconferência de resultados há duas semanas, a inflação e a alta de juros foram os principais culpados pelo desempenho aquém da empresa no quarto trimestre de 2021.
Braun, entretanto, destaca que o cenário à frente não é todo negativo e que há a expectativa de uma redução na conta de luz – segundo o ministro Paulo Guedes, de 18% – sem “canetada” e sem impor riscos financeiros às empresas do setor.
Perspectivas para a inflação
Segundo relatório do banco Goldman Sachs, o cenário aponta uma inflação não só “muito alta”, mas também disseminada pelas diversas categorias analisadas.
“O choque generalizado e, provavelmente, duradouro no preço das commodities e outros custos logísticos deve manter a inflação dos preços ao consumidor alta no curto prazo, compensada apenas parcialmente pela redução nos custos energéticos”, reforça.
Para o Bank of America, apesar da surpresa, a inflação deve continuar subindo e atingir a máxima neste mês, com um acumulado de 11,5% em 12 meses em abril. Assim, o Banco Central brasileiro não será capaz de cumprir a previsão nem deve encerrar o ciclo de alta dos juros em maio.
Magazine Luiza e setor varejista despencam
No fechamento, as varejistas ficaram entre as maiores perdas do Ibovespa, pressionadas também pela estimativa de juros mais altos após o IPCA acima do aguardado. A Via (VIIA3) desabou 7,93%, a R$ 3,60, liderando as maiores perdas. Americana (AMER3) caiu 7,72%, para R$ 28,58, e o Magazine Luiza (MGLU3) perdeu 6,55%, cotada a R$ 6,13.