O Magazine Luiza (MGLU3) divulgou, na noite da última segunda-feira (9), mais um balanço surpreendente. Com lucro líquido ajustado de R$ 216 milhões acima do consenso e aumento nas vendas em lojas físicas — mesmo em meio à pandemia –, o mercado provou do poder de execução da gigante varejista.
No entanto, logo no pregão seguinte, as ações da empresa caíram mais de 4%, sendo um dos destaques negativos do Ibovespa. Embora o movimento tenha sido pressionado pelas empresas de tecnologia, que recuaram de forma intensa no exterior, retomou-se a dúvida: ainda vale a pena comprar as ações do Magazine Luiza?
Na teleconferência de resultados, o CEO da companhia, Frederico Trajano, disse que o terceiro trimestre deste ano consagrou o modelo de negócios focado em multicanalidade da varejista. Entre julho e setembro, as vendas totais atingiram R$ 12,4 bilhões, um avanço de 81,2% na comparação anualizada. O resultado advém de um crescimento de 148,5% no e-commerce e de 18,3% nas lojas físicas.
Nesse sentido, o mercado se pergunta se os resultados dessa magnitude serão recorrentes, uma vez que o coronavoucher, auxílio emergencial criado pelo governo federal em função dos impactos do novo coronavírus (Covid-19), que tem beneficiado as varejistas desde abril, está previsto para acabar em dezembro.
A despeito das dúvidas futuras, o Bradesco BBI elevou o preço-alvo do Magazine Luiza, reiterando o crescimento acima do esperado em todas as linhas de negócios, impulsionadas pela omnicanalidade da empresa. O SUNO Notícias entrevistou especialistas do mercado para responder a dúvida que emana dos investidores: ainda vale a pena comprar Magalu?
Magazine Luiza ainda é um grande investimento, diz Gauss Capital
Para Jorge Junqueira, sócio e chefe de renda variável da Gauss Capital, Magazine Luiza “ainda é um grande investimento”. Segundo ele, a companhia deverá crescer ainda mais no e-commerce, e que “a pandemia foi uma grande aceleração nesse sentido”.
“A penetração do e-commerce no consumo on-line vai seguir aumentando. A tendência ainda continua”. O especialista citou Scott Galloway, professor na Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York, que afirma que mundialmente o e-commerce ganha 1% ao ano do comércio tradicional em market share. “Dado que o comércio eletrônico do Magazine Luiza cresceu quase 10% em 2020, é como se tivesse avançado 10 anos”, diz Junqueira.
“Acreditamos que o Magalu está bem posicionado por conta de olharem para os pontos certos, que é focar no longo prazo e quais são os processos que devem ser garantidos para que o universo digital e físico se comuniquem muito bem”, afirmou. O analista mencionou as aquisições de Estante Virtual e Netshoes como ampliação do segmento de atuação, além de estrategicamente favoráveis à empresa, além de procurar manter um alto nível de serviço.
Além disso, Junqueira disse que a pandemia corrigiu um problema do Magalu. “Eles tinham uma deficiência com o ship from store, que talvez não fosse tão bem azeitado pré-pandemia. Eles conseguiram encaixar isso de uma forma impressionante, e o tempo de entrega continua incrível”.
Quanto às perspectivas futuras e desafios do mercado em constante mudança, o analista salientou que o Magazine Luiza “tem se mostrado ser uma empresa que sempre surpreende com novas ações”. No entanto, isso faz com que seja difícil de colocar em um modelo de investimento um preço para as ações da companhia.
Infinity Asset: Fim do coronavoucher trará queda da demanda
Victor Hasegawa, gestor de ações da Infinity Asset, levantou outro ponto sobre os resultados da gigante varejista. “Além do comércio eletrônico, mesmo as lojas físicas, que já vieram com same-store-sales (vendas em mesmas lojas, ou SSS) positivo, o que é ótimo, devem ser beneficiadas pelo e-commerce”.
No entanto, para o especialista, o término do coronavoucher é algo pra ficar de olho. “Acredito, sim, que quando acabar esse estímulo, no final do ano, 2021 tende a ter uma queda de demanda”. Ele pontua, entretanto, que as pessoas que não costumavam realizar compras on-line continuarão a ser consumidoras, que também entenderam, “por necessidade, que esse é um bom meio de economizar”.
“A frequência pode diminuir, mas a praticidade [do e-commerce] e os melhores preços devem fazer com que essas pessoas permaneçam como futuros clientes, e as varejistas continuem faturando”, disse Hasegawa.
Assim como Trajano disse que é “agnóstico com canal”, e que não abandonou as lojas físicas, o analista da Infinity salientou a importância das unidades físicas. “Pelo fato de boa parte da população brasileira ainda não ter total acesso à internet, algumas cidades terem o apoio de uma loja física, para conhecer o produto, sem pagar frete, o modelo do Magalu é vencedor”.
Ele lembra que a operação de logística da empresa tem sido muito bem sucedida e que, “em função da pandemia, por conta das limitações de mobilidade, as empresas de e-commerce foram as que mais se beneficiaram”.
Planner enxerga Magalu à frente das concorrentes
Para Mário Mariante, analista-chefe da Planner Corretora, o terceiro trimestre mostrou como o Magazine Luiza está à frente das concorrentes no quesito de estrutura de tecnologia e eficiência na satisfação dos clientes.
Segundo ele, isso é resultado do modelo de omnicanalidade da empresa, que tem se mostrado satisfatório ao longo do tempo. “Há algum tempo atrás, algumas pessoas achavam que o crescimento do e-commerce faria com que as lojas físicas desaparecessem. Pelo contrário! Eles estão aumentando o crescimento das lojas físicas, como fizeram em Brasília no terceiro trimestre”.
Para ele, entretanto, estar à frente traz novos desafios. “Simplesmente de continuar à frente, que é o grande desafio, como uma corrida. E, além de existir espaço pra todo mundo, ainda existe um leque de oportunidades, e eles estão atentos a isso” disse o analista, citando a compra de startups pequenas, como a LogBee, que atua em quase todo o Brasil entregando as encomendas da varejista.
Quando perguntado acerca do fim do coronavoucher e se irá impactar os resultados da empresa a partir do primeiro trimestre de 2021, Mariante disse que “quando o auxílio terminar, vai prejudicar todo mundo, não só o Magazine Luiza”. “Mas também temos a expectativa de que a economia comece a andar e gerar emprego, pois se não acontecer, poderá ser criado um problema maior no âmbito macro, e impactará a todos”.
Na teleconferência de resultados, Trajano fez questão de mostrar o crescimento do market share da empresa, mesmo com o coronavoucher — que estimulou o balanço de quase todas as varejistas. Quando perguntado se a empresa poderá continuar nessa tendência de crescimento sobre o segmento, Mariante disse que o Magazine Luiza tem procurado diversificar sua atuação para se tornar gigante em várias frentes de negócios, não só em uma.
Vale a pena comprar MGLU3?
Para Junqueira, da Gauss Capital, sim, vale a pena comprar Magazine Luiza. Segundo ele, em termos de valuation é muito difícil conseguir acertar todas as mudanças e melhorias que o Magalu tem implementado em seu ecossistema, então “preferimos olhar essa tese de investimento observando os peers, para ver se não existe nada de excessivo, mas principalmente olhando se a dinâmica e o processo de evolução da companhia segue presente”.
Para ele, com isso, a gigante varejista continua sendo um ótimo investimento e “acreditamos que ainda exista espaço para um upside” do preço das ações.
Para Hasegawa, da Infinity, a resposta se vale ou não a pena comprar depende do perfil de investidor. Se o foco for no curto prazo, por conta do vislumbre pelo fim da pandemia, algumas empresas que se beneficiaram pelo distanciamento social podem ser impactadas, como é o caso do Magalu.
“Mas para os investidores de médio e longo prazo, vislumbrando o crescimento forte do comercio eletrônico que está à frente, acredito que ainda vale a pena. Magazine Luiza é um exemplo de empresa bem gerida, com estratégias bem implementadas”, disse.
Mariante, por sua vez, disse que as ações da empresa estão “bem precificadas”, mas ainda vale a pena comprar. Ele comentou que olhar múltiplos isolados — como o Preço/Lucro, que está em quase 500 vezes — não é o ideal para mensurar uma companhia como o Magazine Luiza.
“Se formos olhar múltiplo P/L atualmente, não vamos comprar quase nada. O Magazine Luiza descola totalmente nesse sentido”, disse. Segundo o especialista, temos que olhar o varejo principalmente pelo crescimento, ponderando que o faturamento é altíssimo e as margens estreitas no setor.
Ele lembra que os investidores, sobretudo estrangeiros, tendem a comprar a confiança na empresa e sua qualidade de execução. “Eles enxergam a empresa para o longo prazo, o que está fazendo e para onde vai; qual é sua governança e se está sendo bem gerida”, salientou. “Querem saber o Retorno sobre Capital Investido (ROIC), se continua gerando de caixa, entre outros aspectos”.
Dessa forma, Mariante salientou que o Magazine Luiza construiu uma reputação muito positiva com a comunidade de investidores nos últimos anos, continua entregando o que promete, e permanece sendo um bom investimento.
Esta matéria da não é uma recomendação de investimento de ações.