As ações da Magazine Luiza (MGLU3) fecharam em queda nesta terça-feira (13) no Ibovespa. Os papéis da empresa chamaram a atenção ao anotar recuo de 5,05%, cotados a R$ 3,76. Hoje o principal índice da B3 encerrou o dia em baixa de 0,51%, aos 116.742,71 pontos, interrompendo uma série de sete altas seguidas, numa sessão de realização de lucros.
No mês, a desvalorização dos papéis do Magazine Luiza chegam a 7,39%.
Cotação MGLU3
As empresas que registraram maiores perdas no Ibovespa foram as mais sensíveis a economia domésticas como CVC (CVCB3), queda de 6,90%, Lojas Renner (LREN3), que cedeu 5,78%, Méliuz (CASH3), baixa de 5,13% e Gol (GOLL4), recuo de 5,03%.
As ações do Magazine Luiza, que chegaram a abrir em alta na manhã desta terça, perderam a força em meio a esse movimento de realização de lucros, que se intensificou no início da tarde no pregão de hoje.
O avanço dos juros futuros levou a quedas das ações do varejo, turismo e serviços, ligadas à economia local. “Juros futuros sobem também em movimento de realização após fortes quedas nos últimos dias devido a dados melhores de inflação e expectativa de queda de juros nos próximos meses pelo Copom”, explica Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador da Eu me banco.
Para Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos, a alta de juros trouxe o movimento inverso nas ações, como ocorreu hoje com o Magazine Luiza. “Sempre que vemos uma alta mais forte dos juros tem um movimento inverso nas ações, e isso foi o que aconteceu hoje, além do movimento de realização de preços. Como tivemos sete pregões consecutivos de alta, o que vimos hoje é mais uma realização dos lucros do que uma mudança fundamental.”
Por outro lado, a varejista Americanas (AMER3) ficou entre as maiores altas do Ibovespa após a empresa divulgar que assessores jurídicos apontaram que houve de fato fraudes na companhia em relação à antiga diretoria.
Juros futuros: alta firme
Investidores da Bolsa e analistas observam que os juros futuros fecharam a sessão em alta firme, numa combinação de ajustes técnicos com o ambiente externo que resultou na realização de lucros que o mercado ontem não conseguiu concluir – reforçando a queda de ações do varejo na Bolsa, como a do Magalu,
A abertura dos juros globais deu espaço para uma recomposição de prêmios nos principais vencimentos. A agenda local esteve esvaziada, mas a derrota do governo no Senado na questão da desoneração da folha de pagamentos foi citada como um dos fatores a apoiar a correção, além da entrevista do diretor do Banco Central Renato Dias Gomes, ao Broadcast/Estadão, afirmando que o Copom não deve ter pressa na redução da Selic.
O impulso foi maior nas taxas longas, que entre ontem e hoje devolveram toda a queda vista na semana passada. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,075%, de 12,983% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,032% para 11,19%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,74%, de 10,49%, e a do DI para janeiro de 2029 voltou a cruzar a marca de 11%, fechando em 11,13% (máxima), de 10,85%.
Declarações de dirigentes do BC
O mercado ontem chegou a ensaiar uma realização mais firme, mas que acabou sendo esvaziada pelas declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que os movimentos de mercado abrem espaço para uma atuação do Copom mais à frente, lidas como um sinal de que a Selic pode começar a cair no terceiro trimestre.
À noite, porém, o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Dias Gomes, defendeu, em entrevista ao Broadcast/Estadão, cautela para entender como a política monetária está agindo nos canais esperados e se a desinflação vai ocorrer como o BC aguarda. “Acho que não tem que ter pressa, porque um afrouxamento açodado tem custos elevados para o País no futuro”, disse.
A fala não abalou a convicção dos agentes de que os cortes começarão no Copom de agosto, mas acabou servindo de argumento no processo de redução de posições vendidas e aparando expectativas de queda inicial de 0,50 ponto porcentual.
O economista da Guide Investimentos Victor Beyruti acredita que a pressão do mercado internacional acabou atraindo ajustes técnicos no Brasil e abalou setores do Ibovespa, mas sem mudanças do ponto de vista dos fundamentos. “Tivemos um pouco de correção com essa abertura da curva dos Treasuries, mas num movimento de certa forma controlado de alta por aqui”, disse.
Lá fora, ainda que o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) de maio nos Estados Unidos dentro do esperado tenha ratificado as apostas de manutenção do juro pelo Federal Reserve na decisão de amanhã, os yields dos Treasuries tiveram avanço expressivo, com a da T-Note de dois anos atingindo os maiores níveis em três meses, acima dos 4,70% à tarde. O comportamento da curva refletiu a perspectiva de que a decisão de amanhã, caso se confirme, deve representar apenas uma pausa, com o Fed retomando o aperto no encontro de julho.
Também ficou no radar a aprovação pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado do projeto de lei que prorroga a desoneração da folha de pagamento até o final de 2027 para 17 setores da economia. A renúncia representa cerca de R$ 11 bilhões dos gastos tributários do País e, portanto, o resultado é considerado uma derrota para o governo, que precisa conseguir receitas para manter em pé as metas do arcabouço fiscal. O texto agora será apreciado pelo Senado.
Apesar de queda, analistas estão otimistas com Ibovespa
Apesar da queda do Ibovespa nesta sessão, Moura, da Finacap, diz que a perspectiva para a Bolsa brasileira ainda é positiva. “Esse acabou sendo um movimento mais técnico, mas o cenário se mantém, nós tivemos uma mudança na precificação do risco”, afirma. Análise técnica do Itaú BBA mostra que o índice continua em direção aos 121,6 mil pontos no curto prazo, com suporte de 116,2 mil pontos pelo lado da baixa.
Pesquisa do Bank of America (BofA) com 33 gestores de fundos latino-americanos mostrou melhora nas perspectivas para a Bolsa. A proporção dos entrevistados que espera ver o Ibovespa acima dos 120 mil pontos no fim deste ano saltou a 69% em junho, de 27% em maio. Ao todo, 33% esperam uma revisão para cima no lucro das empresas, contra 21% que preveem revisões baixistas – o maior e menor nível desde novembro de 2022.
Luiza Trajano, do Magazine Luiza (MGLU3), volta a cobrar Campos Neto sobre corte de juros
Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza (MGLU3), voltou a cobrar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre uma sinalização de corte na Selic, atualmente em 13,75% ao ano. Mas dessa vez a cobrança foi feita pessoalmente durante um evento.
A fala de Luiza Trajano ocorreu durante encontro com Líderes do Varejo do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). Ela revelou que já fez mais de 20 ligações a Campos Neto, além de já ter repassado diversos recados demonstrando seu desejo de que haja uma redução na taxa básica de juros.
Em resposta, o presidente do Banco Central destacou que ele é apenas um dos nove votos sobre as decisões tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e que, por essa razão, não poderia confirmar um corte na Selic efetivamente.
“Baixa os juros, mas não 0,25 ponto porcentual, não, que é muito pouco”, disse Luiza Trajano. A assessoria do presidente do BC sinalizou que o evento seria encerrado.
“Na hora que aperta, a assessoria manda recado”, retrucou a empresária. Luiza Trajano ainda disse que se fosse preciso ligaria mais 20 ou 30 vezes. Apesar da cobrança a Campos Neto para que sinalize um corte nos juros, ele não garantiu que isso seria feito na próxima reunião do comitê do BC.
Após a assessoria sinalizar que o evento seria encerrado, Trajano ainda insistiu: “Não faz isso não, deixa ele dar o sinal”. Campos Neto disse que voltaria ao evento no próximo ano e a executiva do Magazine Luiza disparou: “Vai ter muita gente quebrada até lá”.
Diversos executivos do setor de varejo reclamaram do atual patamar da Selic durante o evento. Apesar de reconhecer que a taxa de juros está alta, Campos Neto pondera que ela é inferior à sua média histórica.
O presidente do BC ainda acrescentou que a redução da taxa de juros futura, assim como as perspectivas atuais do mercado que estão em andamento, fazem parte de algumas das condições essenciais para que haja uma “suavização” na política monetária.
MGLU3 no 1T23
Veja os principais números do balanço do Magazine Luiza no 1T23:
- Receita líquida: R$ 9.067,3 bilhões, alta de 3,5% ante 1T22;
- Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado: R$ 448 milhões, alta de 3,2% ante 1T22;
- Resultado líquido ajustado: prejuízo de R$ 309,4 milhões (no 1T22, o prejuízo foi de 98,8 milhões).
Sem os ajustes, o prejuízo líquido chega na casa dos R$ 391,2 milhões. O Consenso Bloomberg projetava um prejuízo de R$ 62 milhões, enquanto casas como BTG, Itaú BBA e Genial Investimentos previam números negativos entre R$ 176 milhões a R$ 190 milhões.
Os analistas da Genial Investimentos Iago Souza, Vinicius Esteves e Nina Mirazon resumiram o balanço do Magazine Luiza no 1T23 como “assustador”.
“Os números do 1º trimestre de 2023 do Magazine Luiza se consolidaram bem abaixo de nossas expectativas, com menor crescimento de receita e maior pressão na margem Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) a/a – impactado pelo carrego negativo do DIFAL ICMS em margem bruta e menor diluição de despesas operacionais“, destacaram os especialistas.
Um dos motivos para o prejuízo do Magazine Luiza no 1T23 foi a volta do DIFAL — quando uma mercadoria é tributada tanto na origem como no destino. “Em relação à lucratividade, a margem bruta foi o ponto negativo, com uma queda de 40bps em relação ao ano anterior devido à reintrodução do DIFAL, que foi parcialmente compensada por aumentos de preços durante o trimestre, além de receitas de serviços com aumento de 34% em relação ao ano anterior devido a taxas mais altas”, escreveram os analistas da XP Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt.
O time do Itaú BBA, capitaneado por Thiago Macruz, já projetava essa reação negativa nas ações do Magazine Luiza após os números do 1T23. “O resultado final ficou abaixo de nossa estimativa conservadora devido a um resultado financeiro mais pesado, com maiores descontos de recebíveis”, reforçaram os especialistas.
Com Estadão Conteúdo