Nesta terça-feira (21), o Magazine Luiza (MGLU3) abriu novamente as inscrições para o programa de trainee de 2022, exclusivo para funcionários negros. Na avaliação da varejista, a decisão tem respaldo pois o programa anterior cumpriu com as expectativas.
Em 2020, o Magazine Luiza já havia feito um programa de trainee semelhante – o que, à época, foi polêmica, gerou discussão e chegou aos tribunais.
Segundo um levantamento próprio, 51,8% dos funcionários da empresa se consideram negros, percentual próximo ao dos 56,1% da população brasileira que se autodeclara negra, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE).
Já entre os cargos de liderança, o percentual cai para 41,5%. Em uma pesquisa de 2019, esse número ficava em 16% – o que foi revertido pelo programa de trainee e deve ainda ser enfoque da iniciativa.
“A decisão de fazer um trainee para negros ano passado veio de uma anomalia, de um problema nosso de falta de lideranças negras. (…) E decidimos que um ano pontual não iria resolver, que a diferença ainda era grande”, afirmou Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, em coletiva de imprensa realizada na terça (21).
Em ocasiões e eventos anteriores, a presidente do Conselho de Administração, Luiza Helena Trajano, também já havia esboçado sua visão sobre o tema.
“Diversidade e inclusão precisam estar no centro da criatividade e da inovação das empresas. Ainda quero ver outras pessoas em grandes cargos, negros, mulheres, trans. O convívio com a diversidade e com as pessoas é transformador”, afirmou.
Decisão do Magazine Luiza foi aos tribunais
A iniciativa em questão, em 2020, gerou não só debate, mas alguns movimentos contra a varejista. Ações como a da Defensoria Pública da União (DPU) classificaram o programa de trainee do Magalu como “discriminatório”.
“A reclamada sempre contratou negros em seus programas de trainee, algo plenamente comum. Portanto, nada justifica que pretenda, agora, que seu programa seja exclusivo para determinada raça/cor”, consta no documento da entidade, assinado pelo advogado Jovino Bento Júnior.
Além disso, a juíza Ana Fischer, à época da divulgação das notícias sobre o trainee de 2020, comentou publicamente que “discriminação na contratação em razão da cor da pele é inadmissível”.
“Na minha Constituição, isso ainda é proibido”, havia dito a juíza ao responder um comentário feito em publicação sobre o programa de trainee.
Posteriormente, a magistrada, que integra o TRT-3 (Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais), apagou a publicação e fechou temporariamente suas redes sociais.
Cotação de MGLU3
Atualmente, seguindo o preço do pregão de terça-feira (21), as ações da varejista ficam cotadas a R$ 16,39. Nos últimos meses, os papéis do Magazine Luiza já tiveram queda de 25,2%, ante desvalorização de 35% desde o início do ano.