O erro na questão sanitária da pandemia foi grave e o Brasil não decola por uma incompetência na gestão da crise, afirma Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza (MGLU3). Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o executivo reitera que não enxerga uma retomada consistente da economia sem vacinação em massa. [Baixe agora o relatório gratuito de MGLU3]
“Hoje o Brasil não decola por uma incompetência no controle da pandemia. O País não é o único com dificuldade de controlar a crise sanitária, mas, na minha opinião, está sendo um dos piores”, disse o presidente do Magazine Luiza. “Poderíamos estar numa posição muito melhor. O erro na questão sanitária foi grave.”
Na opinião dele, por mais que se conteste, o que funciona são isolamento social e vacina — embora joguem contra a economia. Ele se diz “pessimista com o cronograma de vacinação”, o que pode levar a um “abre e fecha” da atividade até que a maior parte da população esteja imunizada.
Para o executivo da maior varejista do País, a confiança no Brasil também foi minada durante os últimos meses, sobretudo por conta de questões políticas, como a troca do presidente da Petrobras (PETR4). No mercado financeiro, seja no mercado de capitais, seja no mercado mais abrangente, transmitir confiança numa agenda é superimportante.”
Ele sustenta o argumento de que o Brasil poderia estar em uma situação mais vantajosa por conta dos avanços dos últimos anos. Trajano diz que se nos perguntássemos quatro anos atrás, poucos acreditariam ser possível reformas trabalhista e previdenciária, autonomia do Banco Central (BC), teto de gastos, marco civil da internet, Pix e o menor patamar da história da taxa básica de juros da economia (Selic).
“Na prática, o que está faltando fazer são duas reformas importantes, a administrativa e a tributária. Não acho que esteja faltando uma grande agenda de reforma no Congresso, fora essas que estou falando”, afirma o executivo.
Magazine Luiza tem 600 lojas fechadas — e número pode aumentar
Na entrevista ao Estadão, Trajano revelou que 600 das 1.300 lojas do Magazine Luiza estão fechadas em função das últimas restrições impostas no Brasil. A previsão do executivo é que o número de fechamentos aumente.
“Essa discussão é política até o sistema de saúde colapsar. Quando colapsa, como aconteceu em Manaus, todo mundo percebe que está no mesmo barco”, afirma. “As medidas de restrição, os lockdowns, devem perdurar por muito mais tempo do que a gente imaginava no início do ano.”
Ele diz que as empresas que não estiverem bem preparadas no digital para esse momento, vão voltar a sofrer. No entanto, essa é uma “enorme oportunidade de digitalização do varejo em vários segmentos”.
O executivo cita a baixa penetração do e-commerce na economia brasileira para justificar seu ponto. Trajano compara o País à China, onde há 10 anos a participação do comércio eletrônico era de 1% e hoje está em 30%. O Brasil pode estar nesse caminho, segundo ele — atualmente a participação on-line do varejo brasileiro é de 10%, sendo que era de 5% no início do ano passado.
“Isso depende também da capacidade do empresário de investir e inovar. O empresário brasileiro tem de fazer essa situação caminhar: a fatia do e-commerce continuar aumentando.”
Na última teleconferência de resultados, o CEO do Magazine Luiza revelou que este será o “ano da logística” na empresa. Os investimentos no e-commerce devem crescer como nunca para encurtar ainda mais o tempo de entrega do e-commerce.