A disputa pelo varejo brasileiro se parece mais com o Fortnite, o jogo online multijogador onde todos compartilham do mesmo cenário, do que com o Fifa, onde apenas dois players disputam a partida. A analogia foi feita pelo diretor-presidente (CEO) do Magazine Luiza (MGLU3), Frederico Trajano, em conferência com investidores nesta sexta-feira (14) para comentar os resultados da companhia, para explicar os desafios do varejo no País e a forte concorrência no setor.
“Não estamos jogando Fifa, é Fortnite, com dezenas de competidores jogando no mundo todo”, disse o CEO do Magazine Luiza. De acordo com Trajano, desde o IPO (Oferta Pública Inicial de Ações, em inglês) da varejista os gestores da companhia ouvem falar da disputa pelo comércio no País e da chegada de novos players, como a Amazon ou Alibaba. Para ele, a companhia já se habituou a competição e já não é mais objeto de atenção plena do time de gestão.
Em bate papo de quase duas horas, o CEO da Magalu afirmou que os resultados apresentados foram muito fortes, em meio a um cenário ainda atingido pela pandemia do novo coronavírus (covid-19), e que a empresa deverá afiar as estratégias de conteúdo neste ano.
A varejista apurou um lucro líquido de R$ 258,6 milhões entre janeiro e março deste ano, um salto de 740% ante os R$ 30,8 milhões registrados no mesmo período de 2020. Sem considerar ganhos não recorrentes, o resultado ficou em R$ 81,5 milhões, revertendo prejuízo de R$ 8 milhões, na mesma base de comparação.
Segundo Trajano, o segmento de com estoque próprio (1P) ainda deve continuar a crescer sem uma migração forçada para o marketplace (3P), apesar do movimento do mercado para a busca pelo marketplace perfeito e soberano.
Nesse segmento de 1P, as vendas evoluíram 121,5%, enquanto o marketplace contribuiu com R$ 2,4 bilhões, crescendo 98,0%.
“Acho que ninguém previa o boom do 1P, que está crescendo exponencialmente e onde temos uma presença de liderança no e-commerce. Por isso, ainda vejo muito espaço para crescer no 1P”, disse.
“A gente cresceu o e-commerce não em detrimento de loja física e não quero crescer o 3P em detrimento do 1P. O 1P está crescendo e gerando caixa, então eu não tenho um desespero para ir para o 3P. Ninguém opera 1P como a gente. Como é um serviço muito bom, ele continua a ganhar marketshare”, completou Trajano.
Já em relação à Hub, fintech comprada pelo Magazine Luiza, Trajano prevê a ampliação da base de usuários dos serviços financeiros, como o cartão de crédito, para só então fazer com que esse cliente crie frequência no superapp -estratégia recorrente da companhia.
“O novo cartão é um componente que pode nos ajudar a aumentar a frequência, mas é uma base pequena ainda e ele vão vai conseguir mexer significativamente nisso. Nesses momentos, precisamos vender bastante cartão, para abrir a conta, e ampliar a frequência”, afirmou.
Magazine Luiza ainda foca em conteúdo
Outro ponto a ser discutido pelo CEO Frederico Trajano com analistas foi acerca das estratégias da varejista em relação às compras de produtores de conteúdo, como a Steal The Look e o Jovem Nerd.
Segundo Trajano, o principal ponto das aquisições é a estratégia de content commerce, ou seja, produzir conteúdo para gerar novas vendas para a varejista.
“Eu acredito muito do content commerce. É muito importante, quando o cliente está no processo de consideração de compra, você ter um conteúdo para ele. O conteúdo gera um interesse, traqueamos a jornada, e quando vendemos, a gente vê que foi o Canaltech que gerou a venda, por exemplo”, disse.
“O positivo [dessa estratégia] é que dependemos menos da jornada paga. Então, todos esses canais, seja o Steal The Look, ou Canal Nerd, eles têm esse perfil de content commerce”, completou
Além disso, a geração de conteúdo também trazem tráfego para dentro da plataforma do Magazine Luiza e, junto com a estratégia da compra da Inloco, deve fazer com que pequenos e médios sellers possam fazer anúncios rápidos e baratos.
“Vamos lançar nossa plataforma a partir dos códigos que compramos da Inloco. Hoje temos clientes muito grandes, mas a ideia é que seja um autosserviço para que pequenos e médios possam fazer anúncios sem precisar de grandes auxílios ou atendimento, o que torna o negócio mais escalável”, disse o CEO do Magazine Luiza.