Após declarar abertos os investimentos no segmento de supermercados, o Magazine Luiza (MGLU3) passou a estar exposto a outro tipo de varejo. Agora, com a compra do Grupo BIG pelo Carrefour (CRFB3), a competição será ainda mais acirrada para a líder do e-commerce brasileiro. A empresa lidera as baixas do Ibovespa.
A aquisição do Carrefour criará um gigante com potencial faturamento anual de R$ 100 bilhões, e um lucro operacional de R$ 1,7 bilhão em três anos. O negócio ocorre em meio aos investimentos que o Magazine Luiza tem feito na área de varejo alimentar, inclusive também com aquisições.
Neste mês, a empresa fechou a compra da VipCommerce, uma plataforma que permite a supermercados e atacarejos venderem online usando suas próprias marcas. Em entrevista recente, CEO do Magalu, Frederico Trajano, declarou que os segmentos de supermercados e entregas estão entre as prioridades da companhia em 2021.
Em teleconferência de resultados, Trajano disse que “a categoria não vai aumentar muito o nosso lucro, mas tem um papel muito importante: a frequência”.
Mesmo com a capacidade de execução do time do Magalu provada com o tempo, o mercado demonstra certa cautela com o novo braço de negócios. Por volta das 13h desta quarta-feira (24), as ações do Magalu caíam 3,7%, enquanto o Carrefour subia 15%.
Para Arthur Igreja, professor especialista em tendências e negócios convidado da FGV, o negócio anunciado hoje pode impactar as pretensões do Magalu, uma vez que o segmento está em constante mudança.
“No passado isso já acontecia, com os supermercados vendendo eletroeletrônicos, e o Magalu, especialmente através de sua plataforma omnichannel, avançando. É um jogo de xadrez cada vez mais acirrado e concorrido.”
Pressão sobre Magazine Luiza também passa por serviços
Em seu fato relevante, o Carrefour afirmou que as sinergias entre as empresas podem alavancar os negócios, trazendo novos ganhos de escala e atacando mercados regionais, como Sul e Nordeste.
“O cenário impacta todos os competidores diretos e também os menores, pois quanto maior é o ganho de escala, maior é a barganha na compra de produtos”, afirma Igreja.
O negócio, entretanto, não concentra o setor. Para Alberto Serrentino, consultor de varejo da Varese Retail, a transação deve ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sem grandes dificuldades.
“Existe uma questão psicológica à concorrência, mas em efeitos práticos o varejo alimentar brasileiro ainda é muito fragmentado e assim continuará”, diz. “Os dois negócios combinados [Carrefour e BIG] devem controlar 15% do segmento no Brasil, o que é pouco em termos internacionais. Não caracteriza domíno de mercado.”
Igreja também lembra que o Carrefour avançou muito, nos últimos anos, em produtos financeiros, “o que acaba impactando não só os supermercados, mas todo o ecossistema“. “O Carrefour tem uma tradição de oferecer muitos serviços complementares, especialmente, nas lojas maiores.”
Esse é mais um dos impactos do negócio sobre o Magalu. Na teleconferência deste mês, Trajano disse que uma das principais oportunidades de crescimento da varejista está nos serviços financeiros. Segundo ele, o mercado endereçável neste segmento é de R$ 2 trilhões.
Agora, o mercado se pergunta se o Magazine Luiza, maior varejista do comércio eletrônico no Brasil, poderá fazer frente aos gigantes dos supermercados — como se a concorrência de Amazon e Mercado Livre já não bastassem.
(Colaborou Natalia Gomez)