Magazine Luiza (MGLU3): analistas veem aumento de capital como positivo, mas cenário macroeconômico ainda envolve riscos
Na noite do último domingo (28), o Magazine Luiza (MGLU3) informou que fará um aumento de capital no valor de até R$ 1,25 bilhão, em uma operação que envolve a família Trajano – controladora da varejista – e o BTG Pactual (BPAC11). A notícia repercutiu no papel, que esteve entre os maiores ganhos desta quarta-feira (31). Mas como os analistas estão enxergando esse movimento?
Após o anúncio do aumento de capital do Magazine Luiza, diversas casas de análise emitiram suas opiniões sobre o assunto. A maioria delas enxerga o movimento como positivo. A operação, no entanto, não é livre de riscos, e o principal empecilho citado pelos especialistas é o cenário macroeconômico ainda incerto no Brasil.
Confira a seguir alguns dos pontos positivos e negativos do aumento de capital do Magalu, de acordo com analistas:
Protagonismo do acionista controlador
De acordo com o comunicado do Magazine Luiza, a família Trajano – controladora da empresa – entrará com R$ 1 bilhão na operação, enquanto o BTG Pactual será responsável pelos R$ 250 milhões restantes.
O BTG se comprometeu a financiar integralmente a parcela a ser obtida pela holding da família Trajano, o que deve acontecer por meio de uma operação de troca de resultados de fluxos futuros.
Assim, a holding contratou com o BTG uma operação de crédito lastreada nas ações da empresa. Nela, o banco fornece recursos de um lado e compra as ações do Magalu de outro, em troca de receber uma remuneração igual ao CDI mais um percentual ao ano por um período de 30 meses. Caso nenhum acionista minoritário siga a operação, a holding da família aumentará a sua posição de 56% para 58% na empresa.
“Se os acionistas minoritários não subscreverem as parcelas – parte proporcional deles – o controlador se compromete a subscrever R$ 1 bilhão, o que vai representar um aumento da participação do controlador na companhia e uma diluição dos minoritários. Então temos uma expectativa positiva, já que mostra que o controlador está querendo comprar mais ações ao invés de deixar ser diluído nesse aumento de capital”, completa o analista CNPI Leonardo Piovesan.
O Goldman Sachs diz ver um “mérito estratégico” na transação, que deve garantir à empresa uma maior flexibilidade financeira. Além disso, a casa também destaca o fato de os acionistas controladores terem garantido a maior parte do aumento de capital.
“Destacamos também que a transação proposta poderá reduzir a preocupação dos investidores quanto à possibilidade de uma oferta subsequente pesar no preço das ações. Além disso, vemos mérito no fato dos acionistas controladores terem garantido grande parte do aumento de capital (até 80% da colocação), pois demonstra sua confiança na estratégia traçada”, avaliaram os analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini.
O Goldman Sachs tem recomendação neutra para as ações do Magazine Luiza (MGLU3), com preço-alvo de R$ 2,40.
Melhora na estrutura de capital
Um possível avanço na estrutura de capital do Magazine Luiza após o aumento de capital é um dos pontos mais citados pelos analistas, a exemplo de Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
“É fato que o aumento de capital dá um certo fôlego para a empresa não consumir caixa e conseguir, nesse ciclo de queda de CDI, girar a dívida de curto prazo com essa entrada de recursos”, afirma.
Nessa linha, o JP Morgan acredita que o movimento pode aumentar em 37% o lucro por ação do Magalu em 2024 e em aproximadamente 4% ao longo de 2025. A melhora na estrutura de capital, segundo a casa, deve ser traduzida sobretudo na alavancagem, que deve cair de 6,3x para 5,7x.
O banco destaca que esse é um nível ainda alto de alavancagem do Magazine Luiza, mas a aceleração de investimentos prometida pela varejista tende a impactar positivamente alguns importantes pilares da geração de valor, como marketplace, anúncios e armazenamento em nuvem. A recomendação é neutra.
O Citi afirma que o aumento de capital é positivo e vê o Magazine Luiza em uma situação de “sólida liquidez”. Segundo a casa, o movimento deve ser visto como um “combustível extra” e não como “uma urgência”. O Citi reitera recomendação de compra para os papéis da Magalu, com preço-alvo de R$ 3,40. A casa, no entanto, classifica o investimento como de alto risco.
Já na visão do Bradesco BBI, a operação pode levar o Magazine Luiza a reverter as perdas e apresentar lucro líquido em 2024, considerando uma tendência de expansão de margem.
“A onerosa estrutura de capital do Magalu – e, portanto, as despesas financeiras – tem sido um dos principais entraves aos resultados financeiros e ao fluxo de caixa nos últimos anos. No início de 2024, este aumento de capital surge num momento favorável, já que as taxas de juros diminuíram e a originação de crédito deve melhorar e, portanto, o consumo discricionário estará sujeito a se beneficiar destas condições”, aponta.
Cenário macroeconômico
Entre os riscos citados pelos analistas, o cenário macroeconômico brasileiro ainda é o principal. A Ágora Investimentos, por exemplo, mantém recomendação neutra para o papel, pois embora enxergue a operação como positiva, prefere aguardar uma melhora no fluxo de caixa da empresa nos próximos trimestres, o que depende de condições macroeconômicas mais favoráveis.
Nessa linha, a XP destacou que apesar do reforço na estrutura de capital, segue enxergando um “cenário macro desafiador para a demanda de bens duráveis, além de um cenário competitivo pressionado, com expansão de players estrangeiros no país”, o que levou à manutenção da recomendação neutra para o papel do Magazine Luiza, com preço-alvo de R$ 2,50.
Piovesan também cita o contexto macroeconômico, e chama a atenção sobretudo para a possibilidade de a taxa Selic encerrar o ciclo de cortes ainda em dois dígitos.
“Existe o risco de a economia seguir fraca e o varejo continuar difícil. Principalmente, tem o risco de a Selic terminal ficar em dois dígitos, o que dificultaria a vida das ações. Então, o ponto de atenção é sobre uma possível reviravolta nesse cenário de melhora macroeconômica, o que impactaria negativamente nas ações”, explica.
Volatilidade das ações
Na segunda-feira (29), no primeiro pregão após o anúncio, os papéis do Magalu chegaram a disparar até 9,62%, cotados a R$ 2,28. Ao longo da sessão, no entanto, as ações perderam força e fecharam em queda de 0,48%, a R$ 2,07. No dia seguinte o papel também chegou a operar em alta, mas fechou em recuo ainda mais substancial: -4,35% a R$ 1,98. Já na quarta-feira, a ação foi um dos destaques, com alta de 6,06%, a R$ 2,10.
Essa volatilidade na ação é citada por Diego Faust como um dos riscos para quem pensa em surfar a notícia em uma operação de curto prazo.
“Vale lembrar que em um primeiro momento o mercado avaliou como uma boa notícia, mas depois houve uma correção forte no papel. É uma ação que tem muita especulação de preço, com as cotações muito voláteis. Então uma avaliação melhor será feita posteriormente, a partir de uma reação mais concreta do mercado”, diz.
Nessa linha, um dos pontos de atenção é a quantidade de ações alugadas. Durante o pregão de segunda-feira (29), esse número cresceu cerca de 7%, para 413,3 milhões. No dia seguinte, a quantidade de papéis alugados cresceu mais 16,5 milhões, para 429,7 milhões. Em duas sessões, portanto, o número aumentou de 13,5% para 15,1% do free float, o que indica uma grande parcela de investidores “apostando contra” a ação do Magazine Luiza.
Cotação mglu3