Lula diz que “Brasil é governado por malucos” em 1ª entrevista na prisão
O ex-presidente Lula disse nesta sexta-feira (26) que o Brasil é governado “por malucos”. A fala do ex-presidente ocorreu em entrevista exclusiva concedida aos jornais “Folha de S.Paulo” e “El País”.
É a primeira entrevista do ex-presidente Lula após ser preso em abril de 2018, depois de uma batalha judicial que suspendeu os veículos de publicarem as matérias. A decisão foi revista na semana passada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Ao todo, a entrevista durou duas horas e dez minutos.
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“Vamos fazer uma autocrítica geral nesse país. O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco que governa o país. O país não merece isso e sobretudo o povo não merece isso”, afirmou o ex-presidente.
Questionado sobre a possibilidade de nunca deixar a prisão, Lula respondeu que “não tem problema, eu tenho certeza de que durmo todo dia com a minha consciência tranquila. E tenho certeza de que o [procurador Deltan] Dallagnol não dorme, que o [ministro da Justiça e ex-juiz Sergio] Moro não dorme”.
Em relação a acusação que o condenou pelo caso do triplex de Guarujá, Lula respondeu: “Sempre riram de mim porque eu falava ‘menas’. Agora, o Moro falar ‘conje’ é uma vergonha”, afirmou. Lula disse também acreditar que “Moro não sobrevive na política”
O ex-presidente também comparou a abordagem da imprensa entre o presidente Jair Bolsonaro e ele. “Imagine se os milicianos do Bolsonaro fossem amigos da minha família?”, questionou. O ex-presidente se refere a relação entre Flávio Bolsonaro e milicianos.
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Sobre o vice-presidente Hamilton Mourão, Lula disse que acompanha a relação conflituosa entre os filhos do presidente e o general. Afirmou ainda que era “grato pelo que ele fez na morte do meu neto [defender que ele fosse ao velório], ao contrário do filho do Bolsonaro [Eduardo]”. Na época, Eduardo Bolsonaro disse em sua conta no Twitter que Lula queria se vitimar diante da morte do menino.
Lula também falou sobre a esquerda. Para o ex-presidente, é necessário construir uma diálogo entre os partidos e as lideranças. Comentou ainda o caso do senador Cid Gomes (PSB-CE) que afirmou em encontro do PT que “Lula está preso, babaca”. “Isso é uma verdade. Só não precisava chamar os outros de babaca”, disse.
Redução da pena
Na última terça-feira (23), o ex-presidente Lula teve a pena reduzida por decisão unânime do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O relator do caso, o ministro do STJ Félix Fischer, decidiu que a soma das condenações pelos crimes seriam de 8 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão. Lula foi acusado de:
- corrupção passiva;
- e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente havia sido condenado previamente, em segunda instância, pelo TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) a 12 anos e 1 mês de prisão.
Entenda o caso de Lula e o triplex
O STJ informou na última segunda-feira (22) sobre o julgamento do recurso por parte da Quinta Turma da Corte.
Quando Lula foi condenado, o TRF-4 considerou que o triplex em Guarujá (SP) era pagamento de propina a Lula por parte da construtora OAS. O ex-presidente estava preso na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba desde abril do ano passado.
A Quinta Turma do STJ é formada por cinco ministros. Entretanto, um deles Joel Paciornik, declarou-se impedido. Com essa mudança, o recurso de Lula foi julgado somente por quatro juízes:
- Felix Fischer (relator da Lava Jato);
- Reynaldo Soares (presidente da 5ª Turma);
- Jorge Mussi;
- Marcelo Navarro Ribeiro Dantas.
Lula se declarou inocente
O ex-presidente sempre se declarou inocente e os advogados de Lula afirmam que o Ministério Púbico não produziu provas contra ele. Segundo a defesa, o petista não tem antecedente criminal, nem durante nem depois do mandato.
O STJ recebeu o recurso em setembro de 2018. Em um primeiro momento, os advogados do ex-presidente pediram a absolvição de Lula. Em alternativa, os legais demandaram a exclusão de um dos crimes (lavagem de dinheiro) para poder obter uma redução da pena. Entretanto, em seguida a defesa mudou os termos do recurso e pediu a anulação da condenação e o envio do processo para a Justiça Eleitoral.
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Os advogados apontaram também fatos que levariam a anulação do processo. Entre elas, a revelação de que a empreiteira OAS teria pago funcionários para realizar “ajustes” nas delações. Assim como a existência de um acordo da Petrobras (PETR3) no qual a empresa teria reconhecido erros.
Esse não é o primeiro recurso apresentado pela defesa de Lula. Os advogados recorreram ao STJ e ao STF . Entretanto, no STF o caso permanecerá congelado até o STJ concluir seu julgamento.
No fim do ano passado, uma decisão individual do ministro Fischer rejeitou recurso que tentava reverter a condenação. O juiz considerou que não houve nenhuma ilegalidade no processo. Entretanto, a defesa de Lula recorreu para que todos os ministros analisassem o caso.