O que Lula disse que ‘criou caos no mercado financeiro’? Veja análises

Após falas de Lula (PT) no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e novidades na PEC de Transição, o mercado financeiro teve um dos seus piores dias em tempos. A queda do Ibovespa, na quinta (10), foi a maior desde novembro do ano passado, de 3,35%, ao passo que o dólar disparou mais de 4%, tendo a maior alta diária desde meados de março de 2020, quando a pandemia causava pânico nos mercados.

Veja a entrevista completa com os analistas da Suno Research sobre o tema

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As declarações foram classificadas como tão negativas que Henrique Meirelles, até então especulado como possível Ministro da Fazenda, disse que Lula ‘dilmou’ em um evento fechado para clientes do BTG Pactual. “Hoje, começou a falar. Aí, ele começou a sinalizar uma direção à Dilma. Estou pessimista, não tenha dúvida (…) Só posso dizer uma coisa a todos vocês: boa sorte”, afirmou.

As declarações de Meirelles teriam causado mal-estar na equipe de transição. O ex-ministro afirmou ao Broadcast que foi mal interpretado e “que é cedo para saber qual será a política econômica do governo eleito”. Falou ainda que Lula está “no modo campanha”.

No final do dia, o coordenador da transição e vice de Lula, Geraldo Alckmin, contemporizou no Twitter: “Responsabilidade fiscal e social andarão juntas mais uma vez, como Lula já provou saber fazer”, disse Alckmin.

O analista de ações José Daronco, da Suno Research, destaca que a retração ocasionada pelas falas se dá pela piora momentânea de expectativas sobre o futuro do Brasil no cenário fiscal.

Ao ver afirmações que sinalizam a possibilidade de grandes rombos no teto de gastos feitos por Lula, o mercado penalizou drasticamente os ativos brasileiros.

“O mercado é imparcial e dá o benefício da dúvida, mas reage a estímulos. A partir do momento que ele viu a fala [de Lula] de que talvez ele não cumpra o teto [de gastos] e talvez destitua o teto, ele acaba antecipando isso. No final do dia são rumores, mas o mercado antecipa, e nesse caso antecipa algo muito negativo. Se não temos âncora fiscal, as empresas param de investir. E se as empresas param de investir nós entramos em um ciclo negativo: a empresa não investe, diminui o investimento, a empresa demite, as pessoas perdem renda, e essas por sua vez param de comprar. É algo que não queremos”, comenta.

O analista destaca que as queda da bolsa de valores de forma generalizada se dá inclusive pela alta do dólar e dos juros, dado que isso afeta a avaliação do valor justo das empresas.

“Uma empresa nada mais é do que a geração de caixa dela. Então quanto maior a taxa de juros, menor a geração de caixa. Além disso, juros altos impactam a demanda. Vimos as varejistas caindo significativamente”, analisa.

PEC da Transição no radar

Somado a esse cenário, o relator-geral do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), disse também na quinta (10) que a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição vai retirar as despesas com o Bolsa Família da regra do teto de gastos.

A sinalização também foi mal vista pelo mercado, que esperava que as regrais fiscais pudessem retomar um nível mais saudável após as exceções adotadas durante e depois a pandemia da Covid-19.

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“Se a gente começar a sinalizar que gastaremos muito…. O gasto social é importante, mas, se ele não tiver uma regra, se ele não der uma previsibilidade para o mercado, você perde a âncora e começa a cair o câmbio, começa a aumentar os juros futuros, e os gastos sociais passam a perder a validade por serem corroídos por eventuais problemas na economia. Se os gastos sociais [e o crescimento do mercado] não caminharem juntos, eles [os gastos sociais] viram mais um problema do que uma solução”, comenta Rafael Perez, economista da Suno Research.

“O mercado passa a mensagem de que se o governo gastar mais e adotar uma política fiscal de furar o teto, haverá uma penalização. O mercado penaliza muito a falta de previsibilidade. Havia se questionado se o teto seria furado no ano que vem, mas a expectativa é de que isso acabaria. Quando o mercado perde essa ancoragem, tumultua muito e há muita volatilidade”, afirma José Daronco.

Apesar do ‘caos criado por Lula’, é importante manter a racionalidade, diz analista

Mesmo com a queda drástica nos ativos e a disparada no câmbio, Daronco destaca que é necessário manter a calma ao realizar movimentações no portfólio, ainda que considerando a problemática econômica das declarações.

Em sua fala, cita que ‘é importante se manter racional’ e que a precificação intensa se dá pelas perspectivas negativas, mas que a PEC que decide tirar o Bolsa Família do teto é relativamente difícil de ser aprovada.

“Eu sou um otimista. Nós, o time de ações [da Suno Research], continuamos otimistas, porque tem muita empresa que possui um valuation atrativo, mas acho que o momento agora para o investidor de longo prazo é manter a calma e a racionalidade. Já passamos por momentos desafiadores como a pandemia”, comenta.

“Vimos as ações caírem sucessivamente mais de 10%. Em março, várias caíram mais de 50%. Víamos muita incerteza, que é o que o mercado precifica, e o investidor que comprou na pandemia está rindo à toa hoje. É importante manter a racionalidade. Não achamos que ninguém fará loucuras”, acrescenta.

Na sua análise, também destaca que o Lula não tem a Câmara e o Senado como grandes aliados e é difícil ‘ele dar pano para manga para a oposição’. “Ele não deve querer o mercado e as estatais sangrando no seu início de mandato”, diz.

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Eduardo Vargas

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