A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China nesta semana marcou uma definitiva reaproximação entre o Brasil e o gigante asiático, abalada politicamente durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Enquanto o ex-presidente criticava abertamente o maior parceiro comercial do Brasil e se alinhava a Donald Trump, Lula defendeu uma maior proximidade entre os dois países.
Nesta sexta-feira (14), Lula se reuniu com o presidente Xi Jinping e assinou 15 acordos de cooperação comercial e de parceria entre Brasil e China. No encontro, Lula afirmou que os brasileiros “não temos preconceito com o povo chinês” e destacou que “ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”.
As falas do chefe do Executivo podem ser vistas como uma resposta às críticas sofridas pelo petista após sua visita à Huawei, empresa de tecnologia e comunicações que é símbolo da expansão comercial chinesa, mas que acabou banida dos Estados Unidos. Os americanos temem que a Huawei esteja sendo usada pelo governo chinês para espionar usuários e países.
Crise com os Estados Unidos?
Além da visita a uma empresa vista como inimiga da segurança interna dos Estados Unidos, a maior economia do mundo também tem motivos para ver com ressalvas a aproximação entre Brasil e China.
Ainda na sexta-feira, o governo brasileiro divulgou uma declaração conjunta com a China em que reiterou a posição brasileira como aderente ao princípio de “uma só China”, ressaltando que “Taiwan é parte inseparável do território chinês”.
Apesar de reconhecer Taiwan como parte da China desde 1978, a reafirmação acontece em um momento geopoliticamente sensível. No começo de abril, os Estados Unidos deram início a exercícios militares nas Filipinas depois que os chineses fizeram o mesmo no estreito de Taiwan. O estado insular, que fica a só 180 quilômetros da China continental, tem forte relação comercial e política com os Estados Unidos.
A tensão entre americanos e chineses em relação a Taiwan vem de algumas décadas, mas escalou desde que a então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, fez uma visita à ilha no mês de agosto, o que foi interpretado pelos chineses como uma provocação ocidental. Daí a importância simbólica do governo brasileiro mostrar alinhamento com a China neste momento.
O estranhamento entre Brasil e Estados Unidos não foi oficializado por porta-vozes de nenhum dos dois países, mas ficou evidente na “operação-abafa” costurada por integrantes do governo Lula preocupados em contornar qualquer possível reação negativa por parte dos americanos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou que haja um mal-estar com os EUA por conta da visita de Lula – e dele próprio – à China. Destacando que o Brasil não pretende se afastar de nenhum parceiro comercial e que o país não tem preferências entre os dois países, Haddad disse esperar que os EUA reajam à proximidade entre Brasil e China reforçando as parcerias comerciais com a maior economia da América do Sul.
Também o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou a uma plateia de empresários americanos que a expansão da relação entre Brasil e China não afeta a ligação com os Estados Unidos.