Lula na China: entenda a relação entre os dois países e os impactos na economia brasileira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou hoje (12) à China, em uma visita bastante aguardada, visto que o país é hoje o principal parceiro comercial do Brasil. Embora o relacionamento diplomático tenha sido abalado durante o governo de Jair Bolsonaro, a relação entre os dois países permanece firme.

Lula na China: como país se tornou maior parceiro comercial do Brasil e porque a visita é importante

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A aliança foi firmada em 2009, como parte da política externa do país comandado por Hu Jintao na época. Com isso, a China estreitou laços com o Brasil em uma parceria estratégica, que previa a ampliação do comércio bilateral e a cooperação entre os dois países. 

Agora, de volta ao poder, o presidente Lula busca em seu terceiro mandato restaurar a sinergia com o país da Ásia. A China busca ter mais influência em um contexto de disputa com os Estados Unidos. 

Antes da aliança firmada com o país asiático, os EUA ocupavam a posição de principal parceiro comercial do Brasil. Mas, como essa mudança aconteceu, qual é o papel da China na economia brasileira e o que Lula visa explorar dessa relação?

O Suno Notícias tem as respostas e você pode conferir a seguir:

1. Como começou e se firmou a parceria com a China?

As primeiras relações comerciais entre os dois países começaram no século 19, quando o Brasil começou a exportar café para a China. Quando o relacionamento entre as nações teve início, era algo muito tímido. Até porque o Brasil tinha um poder econômico e um desenvolvimento maior do que o chinês na época.

As relações comerciais entre Brasil e China só se intensificaram a partir dos anos 2000, quando o país asiático se tornou o principal comprador de commodities brasileiras – como soja, minério de ferro e petróleo, em uma relação que se estende até hoje. 

Em 2009, os dois países estabeleceram uma parceria estratégica, que previa a ampliação do comércio bilateral e a cooperação em diversas áreas, como infraestrutura e tecnologia. Desde então, as negociações entre China e Brasil têm crescido a cada ano.

O nível de concentração das vendas para o país asiático foi superior ao de todos os principais parceiros do Brasil e teve aumento entre 2012 e 2021. Em 2022, a exportação brasileira para a China foi recorde, chegando a US$ 89 bilhões.

Além das commodities, as empresas brasileiras têm buscado ampliar suas exportações em outros setores, como alimentos, produtos eletrônicos e cosméticos.

Por sua vez, a China tem investido no Brasil cada vez mais, principalmente em projetos de infraestrutura, como a construção de ferrovias e portos. Entre 2012 e 2021, os investimentos chineses no país somaram mais de US$ 70 bilhões. 

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2. O que os países têm em comum?

Hoje, a China é o principal parceiro comercial entre mais de 140 países e territórios. O gigante asiático é um grande consumidor global – muito por sua população, de mais de 1,4 bilhão de habitantes – e, também, exportador mundial. E para isso, precisa contar com uma gama de fornecedores. 

A China tem ampliado os investimentos em países em desenvolvimento. Segundo especialistas, a estratégia consolida sua relevância globalmente e permite o acesso a produtos de que necessita para dar continuidade ao seu processo de desenvolvimento econômico

A potência também investe na economia brasileira por meio de empresas privadas de fornecimento de energia ou pelo controle das atividades de portos brasileiros. Além disso, ambos os países têm grande potencial de crescimento.

O Brasil, no entanto, não é visto como um concorrente da China.

Segundo Marcus Vinicius de Freitas, professor visitante da China Foreign Affairs University, o país asiático está em desenvolvimento econômico, mesmo sendo a segunda maior economia do mundo. Já o Brasil encara uma situação de estabilidade nos últimos anos.

A relação comercial com o Brasil, do ponto de vista da China, não é tão relevante quanto a geopolítica. A análise é de Rodrigo Zeidan, professor da New York University Shanghai e da Fundação Dom Cabral. 

Isso porque o Brasil faz parte dos BRICS, portanto tem uma agenda institucional relevante. Desse grupo, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a participação do país latino-americano no PIB mundial deixou de ser expressiva, quando comparada à da China e da Índia. 

Ainda na esfera política, Brasil e China são membros de importantes organismos internacionais, como a ONU e o G20, além dos BRICS, e têm buscado ampliar sua participação no cenário internacional como parte de suas políticas externas. 

3. O que mudou?

A relação diplomática entre Brasil e China teve seus momentos difíceis recentemente ao longo do governo anterior. Durante seu mandato, Bolsonaro optou por manter uma aliança com o ex-presidente dos EUA Donald Trump, e fez reiteradas críticas ao país asiático, sobretudo durante a pandemia de Covid-19.

Apesar disso, os investimentos chineses no Brasil são de longo prazo, o que acabou não abalando a relação comercial entre os dois países. Segundo Rodrigo Zeidan, a China, uma autocracia, não destruiria um relacionamento tradicional por um governo que entende que pode não permanecer no poder por mais de oito anos.

E foi o que de fato aconteceu. 

Lula, eleito em 2022 para seu terceiro mandato à presidência, quer agora fortalecer os laços com o governo chinês. No marco de 100 dias de governo, ele embarcou para a Ásia para passar três dias no país. 

Vale lembrar que, no passado recente, a aliança foi fundamental para o desenvolvimento da economia brasileira no primeiro mandato de Lula. Principalmente de 2003 a 2007, quando o superciclo das commodities ajudou o Brasil a crescer fortemente. 

Atualmente, cerca de 30% da pauta comercial brasileira é tratada com a China – portanto, nas palavras de especialistas, “qualquer coisa que Lula conseguir, será muito importante para o Brasil”. 

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4. O que Lula vai fazer na China? 

Agora em Pequim, o presidente brasileiro se reúne com o líder chinês Xi Jinping. Especialistas julgam essencial, inclusive, que esta não seja a única visita de Lula à China. Ele precisará compensar a influência perdida no último governo e entender o que o país representa globalmente, já que as coisas não são as mesmas de 2003. 

Como apontam estudiosos do assunto, as sinergias entre os dois países ainda existem e são favoráveis aos próximos passos e parcerias, mas Lula terá de se esforçar para fortalecer a relação. Hoje, a infraestrutura, principalmente, fica sob a mira chinesa no Brasil.

Para todas estas necessidades, os chineses são os parceiros ideais, uma vez que é “o que sabem fazer”, segundo o professor Marcus Vinicius. O gigante asiático tem capacidade e interesse em ampliar seus investimentos no Brasil e consegue lidar com o ambiente institucional de países em desenvolvimento.

Neste momento, a China tem interesse em se abrir para o mundo novamente e destravar sua economia local, em um contexto pós-pandemia e de disputa por influência e poder com os Estados Unidos. O Brasil, no entanto, tem poucas chances de aproveitar esses benefícios, uma vez que ainda está fechado ao comércio exterior, segundo Rodrigo Zeidan.

Beatriz Boyadjian

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