“Com Lula ou Bolsonaro, Centrão continuará dando as cartas”, diz cientista político
As campanhas para as eleições de 2022 começaram na última terça-feira (15) e os candidatos já lançam suas promessas para os próximos quatro anos. No entanto, o embate presidencial parece decidido para um primeiro e segundo turno, com a disputa acirrada entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). O cientista político e professor Rodrigo Prando vê as eleições de 2022 com pouca possibilidade de transformação. “Passamos por um presidencialismo de coalizão, cooptação e confrontação. Com Lula ou Bolsonaro, quem continuará dando as cartas será o Centrão”, avalia, em entrevista ao Suno Notícias.
Prando explica que eleitores decididos raramente mudam seus votos. Para um segundo turno, o que realmente faria a diferença seria a migração da escolha de candidato. “Lula torce para que eleitores de Ciro Gomes (PDT), por exemplo, em um segundo turno mais acirrado, definam sua migração de voto”, analisa.
Para o presidente Jair Bolsonaro, o cenário é favorável diante das decisões que toma hoje em seu governo. “Bolsonaro espera que o Auxílio Brasil e a diminuição nos preços da gasolina impactem positivamente na economia e, consequentemente, melhorem o humor do eleitor”, diz o cientista político.
Lula tem mais intenções de votos, mas Bolsonaro chega mais competitivo em segundo turno
De acordo com a última Pesquisa Ipec, divulgada na segunda-feira (15), Lula tem 44% das intenções de voto e Bolsonaro vem em seguida, com 32%, na eleição para a Presidência da República em 2022. A viabilidade de uma ‘terceira via’ hoje se torna cada vez mais difícil, diante da polaridade ainda vista no cenário eleitoral.
“A situação econômica do país e o carisma de Lula e Bolsonaro com seus eleitores espremem as chances de outros candidatos. Lula é candidato desde 1989 e Bolsonaro tem a máquina do Estado, o Centrão”, examina o cientista político Rodrigo Prando.
Mesmo com a vantagem em um cenário eleitoral preliminar, a batalha não está ganha por Lula. A tendência é de que Bolsonaro chegue mais competitivo no segundo turno. “Existe um segmento antipetista muito grande. Quando Lula concorreu e ganhou, foi pelo segundo turno duas vezes. Dilma Rousseff (PT) concorreu e foi eleita no segundo turno duas vezes. Fernando Haddad (PT) foi para o segundo turno em 2018 contra Bolsonaro enquanto Lula estava preso”, observa Prando.
“Diante disso, vejo Bolsonaro crescendo em um segundo turno, e o psicológico do eleitorado pode ser impactado pelo grande pacote de auxílios do atual presidente. Esta deve ser a eleição mais cara da história devido a todos os esforços atuais”, analisa.
Cenário político brasileiro ainda é o mesmo com Lula ou Bolsonaro
Rodrigo Prando analisa o cenário político atual como o mesmo de anos atrás. O presidente Jair Bolsonaro, que se mostrava contra o sistema político em vigor, caracterizado como “outsider”, inaugurou o presidencialismo de confrontação, como chama o cientista político.
“Durante seu mandato, Bolsonaro continua com a confrontação, que tem uma lógica intrínseca às redes sociais, ao mecanismo de uma construção de pós-verdade que sustenta o ‘Bolsonarismo’. Na pandemia, a situação ficou muito perigosa para um processo de impeachment e o presidente se cercou do Centrão – Arthur Lira, Ciro Nogueira –, a velha política que era atacada pelos ‘bolsonaristas’”, avalia.
Atualmente, Prando diz que o Centrão continua dando as cartas no governo, o que mostra um ambiente político tomado por um bloco que captou não apenas o presidente, mas o orçamento. “A velha ideia de que o ministro da Economia Paulo Guedes seria o pilar de sustentação pelo liberalismo econômico sumiu. Guedes perdeu relevância no governo e quem dá as cartas hoje é o Orçamento Secreto. Na democracia e na República, o segredo é exceção. A publicidade e a transparência são as regras”, diz.
Na visão de Rodrigo, com Lula ou Bolsonaro, haverá a retomada da coalizão com o Centrão mandando efetivamente. “Se nada for feito, como uma reforma, e a sociedade não se mobilizar para melhorar a qualidade da representação no Legislativo, continuaremos vendo o que já acontece hoje.”
Terceira via ainda é mito nas eleições presidenciais
Rodrigo Prando vê que “a força política de Lula e Bolsonaro é tão grande que acaba constrangendo a chamada ‘terceira via’, que tornou-se muito mais um desejo do que efetivamente uma força”.
Lula e Bolsonaro lideram a corrida presidencial de acordo com pesquisas divulgadas nas últimas semanas. A chamada “terceira via”, fora da esfera de PT, PSDB ou mesmo do presidente Bolsonaro, com Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe d’Avila (NOVO) não chega com fôlego. Eles têm, respectivamente, 6% das intenções, 2%, e menos de 1%.