Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza (MGLU3), afirmou hoje que a participação das mulheres nas empresas brasileiras ainda está longe do ideal, mas destacou que o mercado em geral está mais atento ao tema. “Antes eu falava sobre isso e ficava no vazio, mas agora chegou o momento.”
“Você falar de diversidade nas empresas hoje é muito diferente de dois anos atrás. Agora a gente está em um novo ciclo: não é hora de convencer ninguém, mas já mostrar como tem que fazer”, afirmou em live promovida pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás sobre a participação feminina no mercado de trabalho.
Segundo ela, a maior participação feminina depende de um maior nível de consciência sobre o tema, e por isso debates são importantes.
Debate sobre participação feminina era visto como “mimimi”
Luiza destacou que, três anos atrás, falar sobre a presença feminina nos conselhos de administração era chamado de “mimimi”. No entanto, depois de iniciativas internacionais favorecendo esta inclusão, a visão do mercado está mudando.
Ela citou, por exemplo, o banco Goldman Sachs, que em janeiro deste ano anunciou uma nova política de negócios na estruturação de ofertas iniciais de ações. Segundo a nota política, desde julho deste ano o banco só ajuda empresas que tenham um conselho de administração diverso. Ou seja, que não seja composto apenas por homens brancos.
Outra iniciativa semelhante foi anunciada pela bolsa Nasdaq, que pretende exigir das empresas listadas que tenham pelo menos uma mulher e um diretor relacionado às causas minoritárias ou LGBTQ.
“A mulher tem que saber que o mercado mudou, e hoje as empresas já sabem que é importante ter mulher no conselho”, afirmou.
Ter mulheres nas empresas é estratégico para negócio
Mesmo assim, a sobrinha da fundadora do Magazine Luiza reafirmou que as cotas podem ser uma boa alternativa para impulsionar a presença das mulheres nos conselhos de administração. Para ela, cotas são um instrumento “transitório” para ajustar a desigualdade nas empresas.
Luiza citou que apenas 7% dos cargos de conselheiros em empresas abertas brasileiras são ocupados por mulheres atualmente. Excluindo as donas e as filhas das donas das companhias, esta fatia cai para apenas 4%.
Segundo ela, sem as cotas, pode levar mais 120 anos para esta parcela chegar a 20%.
Magazine Luiza tem 40% de conselheiras mulheres, diz Luiza Trajano
O Magazine Luiza tem 40% dos cargos de conselheiros ocupados por mulheres. Na visão de Luiza Trajano, a diversidade traz vantagens para a companhia. Uma delas é que fica mais fácil a empresa se comunicar e atender o público brasileiro, que é muito diverso.
“As mulheres decidem tudo hoje no Brasil, desde a operária até a executiva. Como pode então uma empresa não ter diretoras?”, questionou a empresária. Segundo ela, a presença de mulheres, negros e pessoas com deficiência não é importante apenas por ser ética, mas por ser necessária estrategicamente.
Dentro do Magalu, a empresária conta que havia um número baixo de mulheres passando do cargo de gerente de loja a supervisora regional. Isso acontecia, segundo ela, porque a supervisora precisa viajar e ficar muito tempo longe de casa.
Por isso, a empresa limitou as viagens a 100 km de distância. Além disso, o Magalu conta com um auxílio para funcionárias que têm filhos até 12 anos, para que possam contratar outras pessoas para cuidar dos seus filhos.
“Muitas vezes você tem, que dar pérolas para as mulheres poderem crescer”, destaca a empresária, que lidera o grupo apartidário Mulheres do Brasil. Uma das bandeiras do grupo é a escola em período integral, crucial para as mães poderem competir no mercado de trabalho.
Presença de mulheres nas empresas traz ganhos
Além da diversidade aproximar as empresas do público consumidor, a presença feminina também traz ganhos para o trabalho no dia a dia, segundo a empresária.
Segundo ela, o estilo feminino se aproxima mais do modelo de trabalho das startups, que é mais orgânico, aberto a mudanças e aprendizados a partir do erro. “Já o homem foi criado em uma gestão mais mecânica, ele não podia falar que não sabia ou que o filho estava doente”, diz.
Por isso, ela avalia que a mulher traz mais produtividade, resultado e dinâmica para as equipes, além de “falar o que todo mundo quer falar, mas não fala.”
Em sua visão, ainda existe machismo estrutural no Brasil, mas é algo que vai ser superado sem as mulheres precisarem partir para o confronto.
“A gente deve responder com nosso jeito feminino, mas sempre trazer à tona e não ficar com raiva”, afirma. “Eu ainda vejo muito machismo estrutual, sei que ele existe, mas não fico ofendida.”
Ademais, a executiva sugere que as mulheres liderem de forma feminina, pois aquelas que tentam ser masculinas acabam não transitando “nem de um lado nem de outro”.
Vale citar que outra frente de trabalho da empresária é a luta contra violência contra a mulher, que já salvou 300 pessoas na empresa.
Executiva da Magazine Luiza quer incluir pessoas mais velhas
Depois de ter chamado a atenção do mercado – entre críticas e elogios – ao criar um programa de trainees para pessoas negras, Luiza Trajano pretende criar uma iniciativa voltada para profissionais com mais de 50 anos, tanto homens quanto mulheres.
Em sua visão, existe muito preconceito em relação a pessoas desta faixa etária.
“Esta experiência toda não pode ser jogada fora”, diz. “Ainda vou criar algo voltado para este grupo, é um sonho meu”, acresentou a empresária, já conhecida no meio por lutar pela maior participação das mulheres nas empresas.