Log-in (LOGN3) está de olho na privatização da Codesa após ‘limpar’ balanço

Mesmo em meio aos impactos causados pela pandemia, a Log-in (LOGN3) tem conseguido apresentar resultados operacionais positivos. No primeiro trimestre deste ano, a companhia elevou sua receita em quase 6% e o Ebitda cresceu 22% no negócio de cabotagem.

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Além disso, a Log-in aproveitou o momento para arrumar a casa. Alongou o perfil da dívida e preparou um hedge para proteger o resultado da volatilidade cambial, abrindo caminho para futuros investimentos, seja em novas embarcações ou até participando da privatização da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa).

Nos últimos meses, além dos entraves em Manaus, na largada do ano, a companhia também enfrentou problemas climáticos e greves em portos, mas que foram compensados pela operação de Feeder, afirmou Pascoal Cunha Gomes, CFO da Log-in em entrevista exclusiva ao SUNO Notícias.

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O resultado operacional da companhia foi beneficiado pelo aumento do volume de importações e necessidade de reposicionamento de contêineres, por conta de um choque de demanda e câmbio depreciado. Por mais que a desvalorização do real frente ao dólar tenha ajudado neste sentido, “contamina” o balanço da empresa.

Debêntures abrem espaço para sonhos maiores

Em abril, a Log-in aprovou sua quarta emissão de debêntures no valor de R$ 340 milhões, com prazo de seis anos. Com o levantamento de capital, a empresa focou no pagamento integral, incluindo principal, juros e demais encargos relacionados aos seus financiamentos, bem como os de sua controlada Terminal Vila Velha (TVV).

O diretor financeiro da empresa disse que a Log-in escolheu captar esses recursos para alongar sua dívida e não para destinar a novos investimentos. “O endividamento em 2023 tinha uma alta quantia, de R$ 380 milhões. Pegamos os recursos das debêntures e pré-pagamos, alongando a dívida até 2027. No próximo trimestre, o endividamento terá um gráfico muito mais achatado.”

Com isso, a empresa traz uma nova percepção de solvência, limpando o balanço e abrindo espaço para novos investimentos, como a privatização da Codesa. No início deste ano, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) disse que a modelagem da privatização previa investimentos de R$ 1,6 bilhão ao longo de 35 anos de concessão.

A Codesa é um porto público com os cais comerciais de Vitória, Cais de Capuaba (Vila Velha), Cais de Paul, Terminal Flexibras, entre outros. A Log-in opera nesse contexto por meio da concessão do Terminal de Vila Velha (TVV). O arrendamento atual vai até 2045.

“Temos acompanhado a Codesa muito de perto, uma vez que já estamos lá dentro. Ou seja, quem for operar o terminal, de qualquer forma, terá alguma relação conosco, então precisamos entender quais regras estão sendo estabelecidas”, disse Gomes ao SUNO Notícias.

A ideia original do governo, contudo, é de que operadores locais não poderiam participar dos certames onde estão localizados. Com isso, em tese, a Log-in não poderia participar da concorrência. “O que não faz muito sentido, pois podemos participar de um processo ao lado, e um concorrente o inverso”, comentou o CFO. “Levamos este ponto à audiência pública para tentar mudar a visão e estamos aguardando.”

Previsibilidade por meio de hedge

Mesmo com o endividamento alongado, o lucro líquido da empresa ainda permanece volátil — mesmo com quase 10 trimestres consecutivos de resultado operacional positivo.

A empresa saiu de um prejuízo líquido de R$ 114,6 milhões no primeiro trimestre de 2020, reportou um lucro de R$ 133,4 milhões no quarto trimestre e teve perdas de R$ 21,3 milhões entre janeiro e março deste ano, em termos consolidados.

Para proteger os números da companhia, afastando o impacto da volatilidade do câmbio que traz um efeito não-caixa, a Log-in colocou em prática um hedge accounting, prática contábil cujo objetivo é compensar o movimento de marcação a mercado do dólar na conta de ganhos e perdas. Com isso, a empresa espera apresentar um resultado monetário condizente com o desempenho operacional.

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“Nós desenvolvemos um hedge para proteger ao menos metade do balanço dessa variação. Para a outra metade, estamos estudando outras ferramentas financeiras para defender os números operacionais”, afirma Gomes. “Isso traz previsibilidade aos nossos números.”

Logicamente, o hedge vale para o bem e para o mal, “mas não buscamos ter ganho ou perda com efeitos não-caixa”, diz o executivo. “Queremos fortalecer a percepção de controle de risco. Não faz sentido estarmos expostos dessa forma.”

O resultado dessa medida já deve aparecer no segundo trimestre, de acordo com Gomes. Naturalmente, em função da sazonalidade do negócio, o primeiro trimestre é o pior do ano, sendo melhorado gradativamente até o último período.

Diversificação de operações sustenta otimismo da Log-in

A Log-in enxerga uma tendência de melhora nos próximos trimestres, tanto em receitas como em resultado, conforme já esperado desde o ano passado. Embora o controle da pandemia esteja aquém do esperado neste momento, o otimismo é grande dentro da empresa.

O sentimento de bons meses à frente não vem à tona somente pelo efeito sazonal, mas também pela ampla gama de operações que a companhia tem.

Pascoal Cunha Gomes, CFO da Log-in. Foto: Divulgação.

“O que certamente nos ajudará neste momento é a diversificação da Log-in. A empresa transporta desde matérias-primas e itens básicos até eletrônicos e manufaturados”, comenta o CFO. “Alguns setores a que estamos ligados, como e-commerce e varejo, conseguiram melhorar os resultados na pandemia, então serviram como uma proteção.”

Esse fator fez com que a empresa trabalhasse com maiores capacidades do que os concorrentes, que se concentraram em setores mais afetados pelo coronavírus, desde o ano passado. A Log-in não divulga números de market share, mas diz que é a segunda maior empresa — a única independente — do setor no Brasil, ficando atrás somente da Allianz, ligada à Maersk.

A companhia tem se preparado para o desenvolvimento do setor. Embora o transporte por cabotagem seja correspondente a apenas 11% dos trabalhos logísticos no País, vem crescendo a dois dígitos por ano. Em países desenvolvidos, esse número beira 30%.

“O transporte de navio possui uma série de vantagens frente ao rodoviário e até ferroviário, em termos de consumo médio, emissão de gases, custo médio de transporte e custo de roubo de carga”, diz. “A Log-in tem um trabalho constante de diversificação de transportes e foco em produtos de maior valor agregado.”

Investimentos e inovações

Outros destaques da empresa em seu balanço — e que certamente ganharão terreno para os próximos anos — são os investimentos em inovações. No primeiro trimestre, a Log-in fechou a compra de mais um navio Discovery, por US$ 20 milhões.

O financiamento do navio ainda é um desdobramento do follow-on realizado pela empresa em 2019. A aquisição da Log-in substituirá três embarcações que sairão de operação até agosto, e pode levar a empresa a uma melhor eficiência em custos. “O negócio de navegação se resume em margens, precisamos ser diligentes com os custos.”

Log-in Discovery. Foto: Divulgação.

A empresa não descarta a possibilidade de adquirir novas embarcações, mas são objetivos de longo prazo. “Esse processo não é rápido. A maturação da embarcação, desde o início do preenchimento com carga até o breakeven, demora”, comenta o executivo.

Para ele, inclusive, essa é uma barreira de entrada considerável a novos desafiantes, “pois não é fácil chegar aqui no Brasil e começar a operar cabotagem com tripulação e todas as regras vigentes, querendo encher o navio de uma hora para outra, com qualidade e rentabilidade“.

Neste sentido, a empresa já diz apresentar uma “rentabilidade global, mantendo a qualidade e segurando os custos”, mas isso por si só não garante a sustentabilidade do negócio no longo prazo. Investimentos em tecnologia não ficam de fora e a empresa lançou o “Log-Aí“.

“Queremos proporcionar uma experiência ao cliente de alto nível, de forma digital e que ele possa acompanhar o ciclo de vida dele e das cargas dele por meio da iniciativa”, comentou o executivo da Log-in. Na plataforma, que ainda está em desenvolvimento, existem módulos de acompanhamento e edição de relatórios de forma automatizada, agilizando o atendimento aos clientes.

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Jader Lazarini

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