Mesmo depois de preencher o pipeline de aquisições, a Locaweb (LWSA3) ainda quer mais. O objetivo da companhia é comprar empresas que tenham produtos consolidados e de qualidade, além de serem dirigidas por pessoas brilhantes. “Precisamos de times brilhantes e que queiram ficar conosco no longo prazo”, afirma o CFO Rafael Chamas.
Desde sua chegada à Bolsa, a Locaweb acumula 10 aquisições, entregando o que prometia antes da abertura de capital. Mesmo em um período de fortes investimentos, a companhia conseguiu ampliar sua receita líquida em mais de 50% no primeiro trimestre deste ano. Em entrevista ao SUNO Notícias, o executivo disse que isso mostra que as compras não são impeditivo para um crescimento acelerado com lucratividade.
Em especial, ele chama atenção para o desenvolvimento do e-commerce, onde as operações da empresa avançaram 186% em 12 meses. O mercado-alvo da líder de hospedagem de sites no Brasil, as Pequenas e Médias Empresas (PMEs), é pouquíssimo penetrado neste segmento, na visão da empresa.
Para a Locaweb, o seu próprio crescimento não está ligado ao desempenho da economia e suas variações, então não se pode esperar uma desaceleração deste processo quando a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) arrefecer e os comércios reabrirem suas portas por completo.
Confira os principais trechos da entrevista do SUNO Notícias com o executivo.
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Mesmo partindo de uma base forte, o trimestre da Locaweb superou as expectativas do mercado. Como vocês definem o trabalho no primeiro trimestre?
Foi um trimestre esplendoroso para nós. Foram vários destaques, o crescimento como um todo da empresa, percentualmente, foi o maior da história. Atenção ao e-commerce, que avançou 186% ano contra ano, uma receita extremamente acelerada em ambos os vetores – assinaturas e SaaS – além do nosso ecossistema.
A Locaweb continuou expandindo sua base de clientes, com maior capacidade de adquirir novos clientes. Foi o trimestre recorde de aquisição de novos lojistas na base. Entre dezembro e março, o crescimento foi de 22%.
Também vale destacar os grandes resultados das aquisições. Fizemos várias desde a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) e temos resultados expressivos aqui dentro de casa. É o caso de companhias como Melhor Envio, com crescimento acima de 300%. O fundamental de nossa operação estratégica em fusões e aquisições é encontrar o máximo de sinergias. Esse trimestre mostrou que teremos resultados promissores com as adquiridas.
O ARR (faturamento recorrente anual) captado no primeiro trimestre foi de R$ 172 milhões. Qual é a previsão para o fim do ano?
Esse é um aspecto importante sobre nosso resultado. Só com aquisições, o crescimento da empresa, de forma inorgânica, foi de 32,5% no trimestre. Só que mais importante do que isso é entender que quem adquirimos cresce ainda mais aqui dentro. Esse percentual diz respeito apenas à incorporação basal da nova empresa.
Então é difícil trazer um número fechado para o fim do ano, pois M&A para a Locaweb é um processo recorrente. Não é porque fizemos a abertura de capital que passamos a investir em aquisições, nós já fazíamos isso muito antes. Pensamos esse processo como uma grande parte de nossa pesquisa e desenvolvimento. Pensar enquanto ecossistema e montar produtos que se conectem, por meio dos quais nós extraímos sinergias, é uma forma fundamental de irmos ao mercado.
Então continuaremos fazendo aquisições. O pipeline está robusto, com 11 negócios em vias de serem fechados. É complicado trazer um número concreto de ARR em um horizonte de tempo, pois o processo de alcançar sinergias entre as empresas é distinto. Depende muito do timing de negociação, então preferimos trazer ao mercado como está o pipeline e as perspectivas da continuidade dessa tendência.
Além disso, o processo não é simples. Existem algumas coisas que são pétreas para nós em M&As. A gente não compra qualquer coisa. Também não compramos companhias para ficar empilhando receitas. Procuramos empresas que nos complementam em aspectos chave.
Somos um business de recorrência, então buscamos empresas com a mesma característica, que também ofereçam produtos de muita qualidade. A terceira coisa é a capacidade de conexão com o nosso ecossistema para que a gente consiga extrair sinergias por meio de cross selling. A última questão são as pessoas: precisamos de times brilhantes e que queiram ficar conosco no longo prazo.
As margens da empresa estão no patamar que vocês gostariam?
Embora possa parecer que nossas margens caíram ou ficaram estáveis, vale a pena acompanhar em detalhe a explicação desse tema. Precisamos diferenciar a margem inorgânica da margem orgânica da empresa.
Na prática, a Locaweb expandiu margem nas operações correntes de ano contra ano. Isso ocorreu com a SaaS, o e-commerce e no consolidado. Para quem faz tantas aquisições como nós, o processo de captura de margens e maturação dessas operações internamente é maior. São companhias que usualmente vêm com boas receitas e altos crescimentos, mas existe um tempo para que as margens se consolidem dentro de casa.
Por isso é importante separar essas duas questões. A Locaweb continua crescendo com alta rentabilidade, a nossa dominância e escala de mercado e a rentabilidade sobre custo de captação de clientes são componentes que nos fazem ter margens expressivas. O e-commerce, que cresceu 186% por exemplo, tem um resultado de margem Ebitda de 42% na parte orgânica. É muito incomum, para não dizer único, encontrar essas características combinadas.
Então a empresa tem altíssima capacidade de lucratividade e geração de caixa, mesmo com o crescimento acelerado.
A geração de caixa citada também chama atenção. A conversão caiu um pouco. O que explica?
Neste mesmo ponto, vale ressaltar que nossas margens estão cada vez maiores, com o Capex em ritmo de queda. O nosso maior crescimento ocorre em SaaS e e-commerce, que não demandam Capex, o qual tende a ficar cada vez menos relevante. Ele será diluído pelas características dos novos negócios serem asset light. A perspectiva de geração de caixa é cada vez maior. As aquisições não trabalham nesse sentido, sempre vêm para somar.
Resultados têm sido entregues, mas existem riscos. Quais são eles para os próximos trimestres?
Existem alguns pontos de atenção. Aquele que gastamos mais energia diz respeito ao nosso core. A gente faz muito M&A, então precisamos acompanhar muito de perto as sinergias que buscamos e as taxas de retorno sobre o investimento. Isso é parte fundamental de nossa proposta, e acompanhamos sempre com muito cuidado pois não deixa de ser um risco.
Como controlamos esses riscos? Temos times dedicados, executivos sêniores que tocam as operações de integração. Possuímos um processo extremamente metódico em que eu mesmo me envolvo diretamente com as integrações.
Os números que apresentamos no primeiro trimestre mostram que esse trabalho vem sendo bem executado. As adquiridas já apresentam altas taxas de retorno e conexão com nosso ecossistema. São crescimentos de três dígitos em algumas empresas do nosso guarda-chuva.
O mercado internacional tem pesado a mão sobre as empresas de tecnologia deste ano. A Locaweb se preocupa?
Na minha visão, abre-se uma oportunidade de investimento para setores que aparentemente são impactados por essa conjuntura. Estou falando do segmento como um todo, não o ativo Locaweb em si.
A gente precisa ter a seguinte leitura da situação. A digitalização, no Brasil, ainda é extremamente baixa, e possui perspectivas de crescimento fortes. O mercado local de equities (ações) ainda carece de empresas de tecnologia. No entanto, o principal fator relacionado à Locaweb é que a nossa operação não é impactada em hipótese alguma pela conjuntura macroeconômica.
Estamos falando de um produto que ainda está engatinhando no Brasil. Nosso crescimento não é dependente de Produto Interno Bruto (PIB). A gente nunca cresceu tanto, agregou novos lojistas e teve novos clientes do que nesse momento de crise.
Então quando vemos uma tendência de depreciação de ativos em função de aumento de Treasuries, eu diria que não muda em nada a capacidade de geração de valor para os acionistas. Para bons ativos, eu acredito que sejam janelas de oportunidade.
Cerca de 5% do varejo brasileiro está ligado ao e-commerce, enquanto a China tem 50%. Dada a exposição da Locaweb, quais são as vertentes que vocês observam para o setor?
O importante é entender primeiramente como a Locaweb ganha dinheiro com e-commerce. Normalmente, se conhece o modelo clássico de marketplace, mas temos duas formas de monetizar o business.
A primeira é a parte de assinaturas. Todos os nossos produtos são SaaS, com recebimento mensal fixo proporcionando uma receita recorrente. Então aqui mensuramos o crescimento da companhia com a adição de novas lojas. A gente tem crescido esse ponto consistentemente e esse processo deve continuar latente, seja de forma orgânica ou inorgânica.
Não esperamos nenhum recuo da abertura de novas lojas com o arrefecimento da situação pandêmica no Brasil. Até aqui, com a retomada das atividades, não notamos nenhuma desaceleração do crescimento da abertura de novas lojas – pelo contrário.
O principal aspecto que puxa essa tendência é o tamanho do mercado ainda a ser descoberto, em comparação a China e Estados Unidos. Se a média é baixa, como observado, a penetração para PMEs, que é onde fica nosso foco, é ainda menor. Eles são menos representativos, então é um setor que vai continuar crescendo em taxas muito altas.
É importante ressaltar nesse sentido a estrutura de captação de clientes da Locaweb. A gente tem espaço e margem para trazer novos clientes, e temos feito isso por meio de marketing e remarketing. A diversificação de canais, esforços e iniciativas para que possamos atingir novos consumidores tem sido acelerada, sobretudo em função da escalabilidade do nosso business.
O segundo aspecto do nosso crescimento tem a ver com a dinâmica do nosso ecossistema. Diz respeito às receitas de nossas atividades com pagamentos, logística, crédito etc. Como temos crescido muito a base, o espaço para a ampliação desse faturamento é igualmente extenso, principalmente porque ajudamos nossos clientes a aumentarem o volume bruto de vendas (GMV, na sigla em inglês). Então são dois vetores de crescimento relevantes para a Locaweb.
A Locaweb tem comprado muita gente, mas o que vocês efetivamente buscam? Fortalecer a operação ou diversificar ainda mais a atuação?
A missão da Locaweb ajuda muito a entendermos essa busca por aquisições. Procuramos ajudar companhias a nascerem e prosperarem por meio da tecnologia, mesmo que essa definição seja bastante abrangente sobre o que significa esse crescimento.
Para as empresas que buscamos, não basta se encaixar nesse propósito e missão, sempre passará pelo crivo já citado: produto consolidado e de qualidade, receita recorrente, alta oportunidade de cross selling e, sobretudo, pessoas brilhantes.
Quem vem para o time precisa ter comprometimento e ambição de longo prazo. De todas as aquisições que já fizemos, desde 2012, todos os fundadores continuam conosco. Nós enriquecemos nosso capital humano ao comprar empresas. Se um fundador quer vender a empresa para se aposentar, não nos interessa, mesmo que se encaixe em todos os outros parâmetros.
Também sempre pensamos no que comprar com base em oportunidades para nosso ecossistema. A jornada de digitalização de nossos clientes ainda possui espaços que procuraremos suprir, mesmo a plataforma da Locaweb sendo a mais completa do Brasil. Neste ínterim, também podemos fortalecer algo que já dominamos, consolidando setores de atuação.