Apesar das dúvidas de agentes do mercado acerca do aumento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) no Estado de São Paulo, que passará de 1,8% para 5,53% até o fim de março, deve fazer com que o setor de locadoras de veículos, com destaque para Localiza (RENT3) e Movida (MOVI3), ganhe participação no mercado.
De acordo com especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, com a crescente participação da venda de veículo seminovos em seus balanços, as empresas do setor de locação possuem condições especiais de tributação no Estado, principal praça de seus negócios, que deverão se transformar em uma vantagem competitiva em relação a lojas de automóveis.
Isso porquê, segundo a legislação local, caso o veículo das locadoras seja revendido após 12 meses da aquisição, “ratar-se-á de saída de ativo permanente, sem incidência de imposto”. Atualmente, tanto Movida quanto Localiza possuem idade média dos carros vendidos acima desse um ano.
“Essas empresas não são enquadradas como revendedores de veículos. A operação de venda de carros é na realidade um processo de renovação dos ativos, com isso, elas fazem parte de uma estrutura tributária não contribuinte de ICMS na venda desde que detenham os carros por pelo menos 12 meses da compra”, disse Breno Francis de Paula, analista do Banco Inter.
Com o ajuste, anunciado pela gestão João Doria (PSDB), carros 0 km, que pagavam 12%, passarão a pagar 13,3% de imposto a partir de 15 de janeiro e 14,5% a partir de abril. Já os usados, que tinham carga tributária de 1,8%, pagarão 5,5% a partir de 15 de janeiro e cair para 3,9% a partir de abril.
Segundo a gestão Dória, o objetivo da maior tributação é “proporcionar ao Estado recursos para fazer frente às perdas causadas pela pandemia”.
Assim, com cerca de 5% de vantagem por veículo, as vendas de carros nas locadoras tendem a crescer.
“Essa medida deve impactar positivamente as vendas nessa região em favor das locadoras, uma vez que configura-se como mais uma vantagem frente aos concorrentes cuja a atividade-fim seja revendedor”, afirmou Breno Francis de Paula.
Para Marcel Zambello, analista da Necton, além da vantagem, o setor deve continuar a crescer no País. “Os fundamentos do setor continuam sólidos dado a escala das companhias e a baixa penetração do setor de aluguel de carros”, disse.
Localiza e Movida vendem cerca de 60 mil usados por trimestre
Na Localiza, o número de carros seminovos vendidos foi de 45,5 mil no terceiro trimestre do ano passado, alta de 23,7% ante 2019, sendo que dos R$ 3 bilhões de receita líquida da companhia registrados em 2020, R$ 2 bilhões são oriundos dessa comercialização e R$ 1 bilhão é de locação de carros.
Já na Movida, por exemplo, a venda de carros seminovos chegou a 14,3 mil no terceiro trimestre do ano passado, alta de 12,6% ante 2019, com ticket médio de R$ 45,3 mil.
“Vimos o mercado cada vez mais receptivo, influenciado pelo aumento de preços dos carros zero e pela alta procura por modelos que ofertamos. Como resultado, a margem EBITDA de Seminovos ficou em 1,7% neste trimestre, em linha com o nosso planejamento”, disse a empresa, no balanço.
Segundo Breno Francis de Paula, analista do Banco Inter (BIDI11), a tendência é que a revenda de carros continue a ganhar relevância nos balanços.
“O segmento de seminovos vem ganhando cada vez mais destaque dentro da operação de Localiza e Movida. Há alguns anos que já é responsável por maior parte da receita bruta (59% e 55% respectivamente) e a tendência é que essa relevância aumente no futuro, pois a penetração das companhias nesse nicho ainda é baixa”, disse.
Já para Marcel Zambello, analista da Necton, o grande risco é esse business crescer demais e de forma acelerada.
“O maior risco na minha opinião para o setor é o crescimento muito acelerado nos próximos anos não ter uma contrapartida de um mercado de seminovos do mesmo tamanho. Nesse caso, as companhias poderão perder margens de maneira significativa, considerando que a receita de seminovos pode ser metade da receita das locadoras”, afirmou sobre Localiza e Movida.