Light (LIGT3) pede recuperação judicial com dívida de R$ 11 bilhões; ações caem quase 19%
A Light (LIGT3), enfim, pediu sua recuperação judicial oficialmente. Com um risco de crédito após o caso Americanas (AMER3) – e com um acionista em comum com a varejista – e uma dívida de R$ 11 bilhões, investidores já aguardavam uma decisão análoga por parte da empresa.
O pedido de recuperação judicial da Light foi ajuizado perante a 3ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.
Com a notícias, as ações LIGT3 despencam 18,7% no intradia da bolsa de valores.
Segundo a Light, a decisão foi a melhor encontrada pela gestão, que busca “equacionamento de obrigações financeiras próprias”.
A recuperação judicial compreende dívidas e obrigações financeiras na casa dos R$ 11 bilhões. Para efeito de comparação, o valor de mercado da Light é de R$ 1,73 bilhão, conforme dados atualizados pelo Status Invest.
Dessa cifra, cerca de R$ 7 bilhões estão com detentores de debêntures e aproximadamente R$ 3,1 bilhões em títulos de dívida no exterior (bonds)
Em ocasiões anteriores, a empresa já havia pedido proteção judicial diversas vezes, recebendo decisões favoráveis dos tribunais em meio a uma briga com credores e acionistas.
Uma das proteções judiciais acabou afetando o recebimento de cerca de R$ 400 milhões, frustrando credores e pesando como um ponto negativo para a empresa.
Além disso, a companhia já se encontrava na mira de reguladores, considerando que trata-se de uma empresa de serviços básicos e que está com riscos na continuidade da sua operação.
Por fim, a entrada do empresário Nelson Tanure no grupo de acionistas relevantes da companhia também afetou o caso.
Conhecido como um empresário e investidor que entra em empresas em crise, Tanure se revelou disposto a aportar R$ 1 bilhão.
Junto com disso, sugeriu a convocação de uma assembleia geral extraordinária (AGE) para pedir a troca de conselheiros e mudanças na diretoria
Crise vai além do financeiro
A crise que se instalou na companhia, segundo especialistas, vai além da gestão de um passivo bilionário. Segundo o gestor CVM e sócio da Astor Capital, Alexandre Frota, a companhia enfrenta diversos problemas operacionais.
“Sabemos que a Light tem o histórico de ter perda de receitas por ligações clandestinas. Existem fatores sociais como a origem das facções criminosas, que muitas vezes impossibilitam o serviço da empresa em alguns locais. Estima-se que atualmente a empresa não recebe pagamento por 57,5% da energia que distribui no mercado de baixa tensão pois grande parte dos seus clientes estão em áreas dominadas pelo crime organizado”, comenta.
“De acordo com a lei, nenhuma concessionária de serviço público pode solicitar recuperação judicial, por isso a justiça acatou em sua mais recente decisão o pedido da empresa e suspendeu temporariamente o pagamento de suas dívidas. Agora é momento de traçar novas rotas de recuperação e recomeço. Já tivemos casos recentes que afetaram todo o mercado, como o caso da Americanas, com a Light, é preciso observar com atenção os próximos desdobramentos desse cenário”, completa.
O que diz o comunicado da Light
Em fato relevante, a empresa destacou que a medida foi tomada em caráter de urgência e ad referendum da Assembleia Geral.
“Embora siga avançando nesse sentido, e não obstante os esforços empreendidos nos últimos meses, os desafios oriundos da atual situação econômico-financeira da Companhia e algumas de suas subsidiárias se mantêm e vêm se agravando, o que demanda a tomada urgente de outras medidas que possam protegê-las até que seja possível implementar o referido equacionamento do seu endividamento e a readequação da sua estrutura de capital“, diz o comunicado.
“Com a proteção e manutenção dos serviços prestados no âmbito das concessões de titularidade do Grupo Light, a continuidade no estrito cumprimento das obrigações intrasetoriais, a preservação de valor e a promoção de sua função social, sendo que o ajuizamento do pedido de Recuperação Judicial, compreendendo obrigações de cerca de R$ 11 bilhões, revela-se, neste momento, como a medida mais adequada para a persecução de tais objetivos”, segue a companhia.
Por fim, a empresa diz que mantém “confiança em sua capacidade operacional e comercial para a negociação e aprovação de um plano de recuperação que lhe permita implementar o pretendido equacionamento”.
Resultado de LIGT3
Na manhã desta sexta (12) a empresa divulgou ter anotado lucro de R$ 107,1 milhões no primeiro trimestre de 2023 (1T23).
Com isso, a Light reverte um prejuízo de R$ 106 milhões de prejuízo registrados pela companhia em igual etapa do ano anterior.
A receita líquida foi de R$ 3,61 bilhões, ante R$ 3,54 bilhões vistos em igual etapa do ano anterior.
O Ebitda CVM ajustado da Light foi de R$ 670,9 milhões, representando um crescimento de 29% ante os R$ 520 milhões vistos em no mesmo intervalo de 2022.