A Light (LIGT3) anunciou um aditamento em seu plano de recuperação judicial, refletindo ajustes feitos com credores ao longo de quatro meses. As mudanças incluem ceder um pouco no preço para a capitalização, mas ainda não atendendo totalmente às exigências dos credores.
A proposta prevê o pagamento integral em até 90 dias para detentores de crédito com valor até R$ 30 mil, ou seja, o equivalente a 60% dos credores da empresa (28 mil credores).
A proposta da Light ainda estipula um aporte de até R$ 1,5 bilhão, com os acionistas principais garantindo R$ 1 bilhão. O preço de conversão será pela média de 60 dias das cotações anteriores.
Outro ponto da RJ é a conversão de até 40% dos créditos em ações via debêntures conversíveis, limitada a R$ 2,2 bilhões. O restante dos créditos será remunerado por IPCA mais 4% ao ano, com amortização em oito anos.
Há também modalidades como “credor apoiador não conversor”, “credor não apoiador” e “credor apoiador financeiro”.
O “credor apoiado não conversor“, que não receberá ações da companhia, terá 100% dos créditos remunerados a IPCA mais 2% ao ano, com amortização em 12 anos.
O “credor apoiador financeiro” terá direito a remuneração pelo CDI mais 0,5% ao ano, com amortização em dez anos.
Por sua vez, o “credor não apoiador” é aquele que não aceitar nenhuma das opções anteriores e receberá seu crédito em pagamento único no 15º ano, correspondente a 20% e corrigido pelo IPCA.
Light: credores dizem que novo plano de RJ não é possível de ser aprovado
Os credores da Light reagiram à proposta de recuperação da empresa apresentada pela companhia na madrugada de hoje, e consideram que o plano é impossível de ser aprovado pelos detentores do maior volume em crédito, disse ao Broadcast Energia uma fonte própria a grandes credores da empresa com até R$ 5 bilhões da dívida que totaliza mais de R$ 11 bilhões.
“Não houve consenso nas reuniões, mas mesmo assim, eles apresentaram um plano que até onde a gente sabe, não conta com o apoio de ninguém além dos que possuem R$ 30 mil em créditos”, disse a fonte, que aceitou falar sem ter o nome identificado.
A proposta da empresa prevê que esse grupo receberá integralmente seus valores em até 90 dias. Individualmente, os detentores de créditos de menor valor são numerosos: aproximadamente 28 mil credores, mas em valores respondem por apenas R$ 300 milhões, montante ínfimo da dívida da companhia.
De acordo com esse interlocutor, a empresa precisa reduzir sua alavancagem em R$ 3,2 bilhões, sendo que desse valor parte virá dos acionistas de referência e a outra da conversão de créditos. Contudo, esse é justamente um dos pontos criticados pelos credores, que avalia a relação de troca apresentada pela empresa como muito desfavorável. “Estão propondo que o acionista compra uma ação e leva três, enquanto o credor leva uma só, não tem condição”.
Para essa fonte, tendo em vista que após a renovação da concessão ela terá 30 anos, o ideal seria uma proposta mais suave para os detentores de créditos da empresa, mas que a direção da companhia tem uma proposta que visa apertar esse grupo para navegar com tranquilidade no futuro.
Outro ponto destacado é que o plano apresentado pela Light é extremamente ruim para quem não aceitar os termos da conversão. Pela proposta da empresa, quem não aceitar a proposta receberá em pagamento único no 15º ano, correspondente a 20% e corrigido pelo IPCA. Em comunicado divulgado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa informou que, “apesar de essa opção estar prevista no plano, a Companhia não prevê pagamentos a nenhum credor nestas condições”.
Por outro lado, na avaliação de uma pessoa próxima à Light, e que também aceitou falar sem ter o nome identificado, essa proposta é a mais aderente à realidade da companhia, que tem alto passivo a ser reestruturado e está em vias de negociar com o governo a renovação de sua concessão de distribuição de energia no Rio de Janeiro.
“É um plano sustentável para a Light fazer jus às suas obrigações”, disse a fonte.
Essa fonte lembra que, dadas as características do negócio da Light, a empresa precisa manter investimentos e manutenções em seus ativos, para evitar penalizações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Além disso, eventuais problemas relacionados à prestação de serviços poderia impactar negativamente as negociações com o governo justamente sobre a renovação da concessão.
Entenda a disputa na Light
Enquanto a direção da Light tenta construir o seu plano de recuperação, parte dos credores tem buscado alinhavar uma proposta alternativa para a empresa, baseado em um racional mais favorável a este grupo. As discussões para se chegar a uma solução para a dívida da Light vêm desde o ano passado, quando a empresa entrou em Recuperação Judicial.
Nesse período, uma das principais dificuldades encontradas tem sido o fato de a dívida ser muito pulverizada e, além disso, uma parte dos detentores dos créditos tem mostrado resistência a aceitar as propostas colocadas pela empresa, que precisa de injeção de capital para destravar sua recuperação de forma sustentável.
Contudo, de acordo com uma fonte ligada à distribuidora fluminense, essa proposta não seria sustentável, tendo em vista os desafios que a Light tem pela frente, de negociar a renovação de sua concessão e dar continuidade aos investimentos na rede. “Não podemos ter um plano para credores que de certa forma embute uma insustentabilidade”, comentou a fonte que também não quis ter o nome identificado.
Com Estadão Conteúdo