Lemann: não fomos suficientemente inovadores, nem centrados no consumidor
O empresário e bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann voltou a expor, em evento público neste sábado, alguns passos que podem ter dificultado a inovação nos negócios investidos pelo grupo 3G Capital, acionista de empresas como AB Inbev e Kraft Heinz. Ele indicou que o foco na produção e distribuição pode ter acabado gerando falhas na busca de uma visão inovadora e mais voltada ao consumidor.
Os comentários foram feitos em painel da Brazil Conference at Harvard & MIT, evento organizado pela comunidade de estudantes brasileiros de Boston (EUA).
Lemann fez a avaliação ao ser provocado pelo moderador para que examinasse o negócio do iFood, cujo fundador, Fabrício Bloisi, participava do mesmo painel. “Ele se centrou muito mais no consumidor, diferente de nós, que nos centramos mais na produção, produzindo de maneira barata, distribuindo bem”, afirmou Lemann. “Eles têm um enfoque grande nos clientes, que não era nosso enfoque”.
Segundo ele, uma das medidas que pode ter atrapalhado nesse processo foi o fato de o grupo sempre ter buscado métricas de avaliação objetivas, que teria prejudicado a participação dos inovadores, uma vez que é mais difícil medi-los com retornos imediatos.
Lemann cobra inovação do 3G
Não é a primeira vez que o empresário admite a necessidade de avançar mais em inovação. Num evento semelhante, há três anos, ele se classificou como um “dinossauro apavorado” diante do avanço da tecnologia. Agora Lemann parece reconhecer uma mudança.
“Não fomos suficientemente inovadores, nem tão centrados no consumidor, mas é difícil mudar a cultura de uma coisa tão grande, que já teve muito sucesso”, afirmou. “Estamos no caminho de fazê-lo agora”.
Ainda em referência ao iFood, Lemann disse que eles conseguiram estabelecer uma plataforma com muitos clientes e indicou a intenção de fazer o mesmo, sem especificar exatamente em qual empresa. A comparação com o iFood, porém, foi feita num momento em que se discutia a cervejaria AB Inbev.
Lemann também mostrou ceticismo com um grupo de empresas que perseguem crescimento acelerado. Para ele, é preciso que o volume seja acompanhado de algum diferencial. “Os ganhadores serão aqueles que atraem volume, crescem, mas têm um objetivo que dá alguma vantagem competitiva”.
Ao ser questionado sobre o tema pelo moderador, o CEO do iFood afirmou que um dos objetivos da plataforma é otimizar o mercado de alimentação. “Acreditamos que a entrega é o princípio da jornada. Estamos no início de uma tendência disruptiva”, afirmou. “No futuro, não vamos preparar comida em casa. Vamos falar com nosso relógio digital e ele vai entregar a melhor comida com mais qualidade e mais saudável”.
Segundo Bloisi, é esse sentimento que faz com que a plataforma ainda mantenha uma visão voltada para o crescimento. “Podemos ser lucrativos hoje em dia? Se fosse o maior objetivo, sim, mas existe uma oportunidade não só para ganhar dinheiro, mas para beneficiar a sociedade para alimentos mais baratos e saudáveis”.
(Com Estadão Conteúdo)