A maioria dos sindicatos presentes na assembleia realizada nesta segunda-feira, 19, na Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) não aceitou as explicações de Josué Gomes, presidente da entidade. O executivo optou por encerrar a assembleia antes do fim. Mesmo assim, foi destituído do cargo pela maioria, algo inédito na história da entidade.
A destituição de Josué na presidência da Fiesp foi aprovada por 47 votos a 1. Houve ainda duas abstenções. O resultado da votação ainda terá de ser registrado em cartório. A expectativa é de que Josué recorra da decisão na Justiça.
Agora, o vice-presidente mais velho deve assumir o comando da Fiesp até uma nova eleição. Os nomes mais cotados para comandar a entidade são os de Rafael Cervone Netto, Dan Ioschpe e Marcelo Campos Ometto.
Marcado por uma grande tensão, o encontro desta segunda foi definido pelo próprio Josué em dezembro, como uma resposta a um grupo de sindicatos patronais que havia marcado uma assembleia com o objetivo de tirá-lo do cargo para o mesmo dia. O executivo da Fiesp foi questionado em 16 pontos, sobre suas viagens e reuniões realizadas em Brasília, além do manifesto em favor da democracia divulgado pela Fiesp, sem o consentimento de toda a entidade, entre outros temas.
Nos últimos meses, a Fiesp enfrenta uma intensa disputa política. Josué passou a ser acusado de ser distante da entidade e dos pleitos de interesse setorial, o que deu munição para que os sindicatos considerados menores passassem a pressionar pela saída do executivo.
Parte da Fiesp enxergou no manifesto a favor da democracia como um desagravo da entidade ao governo Jair Bolsonaro (PL) – Josué Gomes é filho de José Alencar, morto em 2011, que foi vice-presidente nos dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A assembleia foi presidida por Josué, mas parte dos integrantes chegou a sugerir que o executivo não deveria comandar a reunião. O encontro começou pouco depois das 14h50 – estava previsto para as 14h, mas houve um atraso por causa do almoço realizado entre Josué e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Os votos dos delegados começaram por volta das 18h50.
Josué optou por deixar a assembleia antes do fim. Antes da votação da sua destituição, as explicações do executivo foram rejeitadas por mais de 60 votos entre os 90 delegados presentes.
Troca de comando
Herdeiro da Coteminas, Josué assumiu o comando da Fiesp no ano passado e encerrou quase 18 anos de Paulo Skaf na presidência da entidade. Próximo a Bolsonaro, Skaf tem sido um dos principais críticos da atual gestão da entidade.
Josué Gomes chegou a ser chamado pelo presidente Lula para ser ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mas recusou o convite, sob o argumento de que não poderia assumir o cargo como um “derrotado” na Fiesp. O empresário alegou que, se fizesse isso, pareceria um “refugiado” dentro do governo.
Com Estadão Conteúdo