O Itaú Unibanco manteve a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2,2% para este ano, apesar dos efeitos do coronavírus na economia global. As afirmações foram feitas durante o evento “Macroeconomia em Pauta”, um encontro com o departamento econômico do banco, realizado nesta quarta-feira (19).
De acordo com o economista-chefe do banco, Mario Mesquita, a projeção de crescimento para a economia brasileira só deve ser impactada caso as consequências do coronavírus se estendam por mais tempo que o esperado.
“O primeiro impacto do coronavírus é aversão ao risco e fluxo cambial, mas caso a situação demore mais a se resolver, pode impactar o PIB brasileiro sim. Um ponto do PIB mundial é um ponto do PIB brasileiro, mas depende da intensidade da aceleração global”, disse.
Para o Itaú Unibanco, contudo, a desaceleração no número de novos casos de pessoas infectadas pelo coronavírus dá esperanças de uma retomada econômica chinesa.
“O número de novos casos está em uma tendência bem positiva. Então parece que o contágio da doença está bem controlado. Agora, o foco é a atividade econômica e, com a doença mais controlada, abre espaço para uma retomada da atividade”, afirmou Laura Pitta, economista do Itaú Unibanco.
Em relação a atividade doméstica, o economista-chefe do banco afirmou que o PIB deve se manter no patamar projetado enquanto o crédito estiver disponível ao consumo.
“Do lado doméstico, qualquer fator que ameace a expansão do crédito pode pôr em risco essa aceleração do crescimento, pois vemos o crédito como principal vetor de ampliação da demanda”, afirmou Mário Mesquita.
O economista-chefe do Itaú Unibanco afirmou ainda que a instituição revisou para 0,3% o PIB no primeiro trimestre deste ano -alta aquém do projetado, já que para 2020, a média precisa ser maior para a projeção se concretizar.
“A média de crescimento do PIB precisa ser de 0,7% para que o PIB chegue em 2,2%”, disse.
Consumo esfria e exportações ainda pesam
Uma das razões da desaceleração do PIB no último trimestre do ano passado ocorreu graças aos efeitos da liberação do FGTS na economia.
De acordo com Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, após uma alta anabolizada pelos recursos do FGTS, o consumo tende a diminuir nos meses seguintes.
“Quando você libera o FGTS, temos, como hipótese, que você teve R$ 9 bilhões de consumo no quarto trimestre do ano passado. Isso seria 1,8% de todo o consumo do trimestre, então ele tem um efeito relevante”, disse ele.
“Assim, o primeiro trimestre deste ano, o consumo perde força. Para então, só depois desse trimestre, devemos ter a volta da expansão do consumo no restante do ano”, concluiu.
Além disso, as exportações também é um fator de risco ao crescimento da casa dos 2% deste ano.
“Os componentes da demanda que contribuem negativamente são as exportações, em queda três trimestres seguidos, e muito da fraqueza que vimos da economia no ano passado tem a ver com a exportação”, afirmou Mesquita.
Dólar deve ficar em R$ 4,15, segundo Itaú Unibanco
O banco também projetou o dólar cotado a R$ 4,15 para o final deste ano. Segundo a economista Julia Gottieb, a cotação da moeda americana deve cair em relação ao real a medida que o PIB brasileiro cresça.
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“O fluxo de capitais é o que dita o movimento do câmbio. Então, toda vez que você tem um fluxo de capitais mais abundante, aprecia a taxa. Para frente, com a retomada do crescimento, venha um fluxo maior de capitais e, pelo menos em parte, compense o efeito de juros mais baixo”, disse Gottieb.
Para a economista, além dos fatores externos, com a aversão ao risco dado o coronavírus, o baixo crescimento do PIB brasileiro em 2019, que deve ficar em 1,2% -abaixo das projeções iniciais- também influencia no novo patamar do dólar.
“Há fatores internacionais também, como aversão ao risco, e isso acaba impactando várias moedas, como o real. Além disso, há questões domésticas, com alguma decepção sobre o crescimento e também os juros mais baixos”, completou a economista do Itaú Unibanco.